5.11.05

Língua de fogo areja a face na flauta a taça que ao lhe cantar rói a punhalada do azul tão alegre que sentado no olho do touro inscreve na sua cabeça ornada de jasmins espera que a vela enfune o pedaço de cristal que o vento embrulhado na capa do mandoble escorrendo carícias distribui o pão ao cego e à pomba cor lilás e aperta com toda a sua maldade contra os lábios do limão flamejante o corno retorcido que aterra com os seus gestos de adeus a catedral desfalecendo nos seus braços sem um bravo enquanto estoira no seu olhar a rádio acordada pela madrugada que fotografando no beijo um percevejo de sol come o aroma da hora que cai e atravessa a página que voa desfaz o ramo de flores que leva revestido entre a asa que suspira e o medo que sorri a faca que salta de prazer deixando mesmo hoje flutuante à vontade e não interessa como no momento preciso e necessário do alto do poço o grito da rosa que a mão lhe lançou como uma pequena esmola.

Tradução de Jorge Silva Melo.
Pablo Picasso
Pablo Picasso nasceu em Málaga em 1881. Considerado um dos grandes génios da arte contemporânea, foi um dos criadores do cubismo. Iniciou os seus estudos artísticos em Barcelona, dentro de um estilo totalmente académico. Em 1900 mudou-se para Paris, contactando com grupos modernistas que o influenciaram numa nova forma de expressão. Entre 1901 e 1907, o Período Azul e o Período Rosa (figuras sórdidas, com gestos penosos e sofredores); posteriormente, com o amigo Braque, o cubismo (tudo começa a valer, a imaginação torna-se ditadora da criação). A influência do surrealismo (provavelmente bilateral) nota-se em algumas obras de ruptura posteriores a 1925 (figuras distorcidas, furiosas, raivosas). Apesar de ter sido um poeta pouco mais que ocasional, André Breton não hesitou em fazê-lo incluir na sua Antologia do Humor Negro. Picasso faleceu em Mougins no ano de 1973.

1 Comments:

At 8:32 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Desculpa a minha ignorancia mas este texto foi escrito por Picasso ou Breton?

 

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