10.11.05

UM NOME

Di-lo-ei pela cor dos teus olhos,
pela luz
onde me deito,
di-lo-ei pelo ódio, pelo amor
com que toquei as pedras nuas,
por uns passos verdes de ternura,
pelas adelfas,
quando as adelfas nestas ruas
podem saber a morte,
pelo mar
azul,
azul-cantábrico, azul-bilbau,
quando amanhece,
di-lo-ei pelo sangue
violado
e limpo e inocente,
por uma árvore,
uma só árvore, di-lo-ei:
Guernica!

Eugénio de Andrade
Eugénio de Andrade, José Fontinhas de seu nome civil, nasceu em 19 de Janeiro de 1923 em Póvoa de Atalaia, Fundão, no seio de uma família de camponeses. A sua infância foi passada com a mãe, na sua aldeia natal. Mais tarde, prosseguindo os estudos, foi para Castelo Branco, Lisboa e Coimbra, onde residiu entre 1939 e 1945. Em 1947 entrou para a Inspecção Administrativa dos Serviços Médico-Sociais, em Lisboa. Em 1950 foi transferido para o Porto, onde fixou residência. Abandonou a ideia de um curso de Filosofia para se dedicar à poesia e à escrita. Publica, em 1940, Narciso, o seu primeiro volume de poemas, a que se seguem Pureza (1942) e Adolescente (1945). Destes três livros, depois de expurgados pelo autor, foram publicadas diversas composições numa antologia intitulada Primeiros Poemas, cuja primeira edição data de 1977. Embora não se integre em nenhum dos movimentos literários que lhe são contemporâneos, não os ignorou, mostrando-se solidário com as suas propostas teóricas e colaborando nas revistas a eles ligadas, como Cadernos de Poesia; Vértice; Seara Nova; O Tempo e o Modo e Cadernos de Literatura, entre outras. Foi galardoado com o Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, atribuído a O Outro Nome da Terra (1988), e com o Prémio de Poesia Jean Malrieu, por Branco no Branco (1984). Recebeu ainda, entre outros, em 1996, o Prémio Europeu de Poesia e, em 2000, o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores . Finalmente, em 2001, Eugénio de Andrade viu a sua vida literária de mais de sessenta anos reconhecida com o Prémio Camões, o mais importante prémio atribuído a autores de língua portuguesa. Faleceu no Porto em 2005. A casa do poeta, no Passeio Alegre (Foz do Douro – Porto), alberga desde 1995 a Fundação Eugénio de Andrade, instituída para divulgação e estudo da sua obra. * *

1 Comments:

At 2:31 da tarde, Anonymous Anónimo said...

dois dos meus preferidos seguidinhos a Sofia e o Eugenio.
K bom

aurora

 

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