20.2.06

Rabo escondido…

Fernando Venâncio, um dos críticos criticados por João Pedro George – coisa boa para pôr no currículo -, vem agora a terreiro sugerir uma cartografia daquilo a que chama os auto-editores portugueses. O fenómeno tem a sua graça, não deixando de sugerir uma série de interrogações. Lembro, por exemplo, que no que respeita a pequenas editoras de poesia é prática quase comum abrir o baile com livro do editor. Para que os (res)sentidos do costume não venham para aqui chamar-me nomes, vou já dando exemplos da casa: Nuno Moura, colaborador insone e amigo que muito prezo, foi em tempos um dos rostos de um malogrado projecto editorial (Mariposa Azual) cujo primeiro livro a ser publicado era do mesmo (Nova Asmática Portuguesa); as próprias Quasi Edições, casa editorial da qual valter hugo mãe foi co-responsável, inauguraram a colecção de poesia «uma existência de papel» com livro de Jorge Reis-Sá (à margem das pulgas da areia), a outra cara-metade desta editora onde valter hugo mãe publicou igualmente uma série de títulos de sua autoria; temos também o caso mais recente da Averno, onde Manuel de Freitas se tem auto-publicado, assim como, muito menos recente, o da marginalíssima, mas deveras respeitável, Black Sun Editores onde Fernando Guerreiro, um dos meus contemporâneos favoritos, se auto-edita não com tanta regularidade como eu gostaria… Exemplos não iriam faltar a quem estivesse interessado em fazer o trabalho que Fernando Venâncio propõe com, permitam-me o juízo, patética provocação. Notemos que os exemplos aqui trazidos são, digamos assim, a raia miúda e, quanto a mim, nada têm de relevante a não ser o facto de chamarem a atenção para um fenómeno editorial cada vez mais costumeiro. Parece-me haver no mundo editorial razões de "preocupação" bem mais congruentes do que as agora levantadas. Desde logo os putativos critérios editoriais que, a maior parte das vezes, parecem ser mais da ordem da troca de galhardetes do que outra coisa; depois, uma certa promiscuidade entre editores, promotores (críticos?) e escritores que advém de, em alguns casos, uma e a mesma pessoa acumular todas as funções; a referir, ainda, projectos editoriais paralelos, com contornos mais ou menos obscuros, que mais não pretendem do que vender a banha da cobra a pobres coitados que vivam na ilusão de um dia se acharem nas estantes duma livraria; e que dizer da forma como editoras se digladiam entre si, com intrigas, mentiras e conluios à mistura ou da triste sina dos autores cujos direitos são frequentemente esquecidos… Enfim, todo um rol de problemas bem mais interessantes do que este da auto-edição, que não me cabe a mim discutir mas, confesso, enquanto leitor de livros ser-me-ia simpático compreender melhor.

2 Comments:

At 10:42 da tarde, Blogger jm said...

o valter hugo mãe volta a repetir a cena com a sua nova editora objecto cardíaco. http://www.objectocardiaco.pt/

 
At 11:55 da tarde, Anonymous Anónimo said...

jm, o post do venâncio é precisamente sobre isso.

 

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