7.4.06

[Frontalidade]

As pessoas falam da frontalidade como se a frontalidade fosse sempre uma virtude. Não é. Muitas vezes é pura arrogância, estupidez, teimosia. Outras pessoas há também que se dizem muito frontais mas, quando se lhes espera uma tomada de posição acerca de uma polémica qualquer, apertam as nádegas e olham por cima do ombro revelando uma hipocrisia da pior espécie. Só há um tipo de frontalidade que me convence, é a frontalidade na humildade. Saber ouvir, ter a capacidade de reconhecer e aceitar as nossas limitações, por mais sábios que nos julguem os outros, é, muitas vezes, bem mais frontal do que não ter hesitações em disparatar ideias, pensamentos, convicções que, por mais que nos possam parecer absolutamente certas, serão discutíveis pelo simples facto de serem as nossas convicções. Como se não bastasse o simples facto de serem convicções humanas. Tudo o que é humano é discutível. Isto não quer dizer, parece-me óbvio, que não aprecie a frontalidade (aquela que só faz sentido se for fundamentada). Prefiro um indivíduo frontal, no sentido de dizer aquilo que pensa sem pretensões secundárias, a um indivíduo cauteloso, hesitante e astucioso porque, em última instância, este é cínico e pretensioso. O problema da frontalidade reside no facto de amiúde nos iludir. Sem que demos por isso, ela torna-se facilmente numa forma insidiosa de mentirmos a nós próprios sem que mintamos aos outros. E eu não sei se prefiro uma pessoa enganada consigo própria a uma pessoa que engane os outros. Parece-me que as primeiras são bem mais perigosas, porque não nos deixam forma de nos defendermos das suas acções. E há tantas delas por aí... São aquelas que se convencem de um modo doentio quanto à validade absoluta das suas opiniões. Não distinguem a fé da verdade, a crença do raciocínio. Em suma: a mim parece-me que muitas vezes, demasiadas vezes, aquilo que julgamos ser frontalidade não passa de um estilo diferente para o cinismo.

3 Comments:

At 3:52 da tarde, Blogger amok_she said...

Acho que anda pr'aqui uma grande confusão acerca do conceito de frontalidade...ser frontal ñ é afrontar os outros com as nossas ideias/convicções e ou teimosias...ser frontal é ser capaz de as defender sem que por isso se entenda ser absolutamente inquestionáveis!...ser frontal é ser capaz de dizer o q se pensa sem medos do parece bem, ou mal...do politicamente correcto, ou incorrrecto...é claro q quem diz o q pensa, sem paninhos quentes, fica refém dos cobardolas, lambe-botas e agachadores deste mundo, mas...ser frontal não é defender verdades absolutas q essas não existem...é mais um não ter medo de errar e assumir isso mesmo!

 
At 4:09 da tarde, Blogger hmbf said...

Infelizmente a confusão não é minha, amok she. Eu também acho que ser frontal «é ser capaz de dizer o que se pensa sem medos do parece bem, ou mal... do politicamente correcto, ou incorrecto...» O problema é que tende-se a confundir isso com «não ter hesitações em disparatar ideias, pensamentos, convicções que, por mais que nos possam parecer absolutamente certas, serão discutíveis pelo simples facto de serem as nossas convicções.» Por isso eu digo que: «prefiro um indivíduo frontal, no sentido de dizer aquilo que pensa sem pretensões secundárias, a um indivíduo cauteloso, hesitante e astucioso porque, em última instância, este é cínico e pretensioso.»

 
At 4:35 da tarde, Blogger Unknown said...

Concordo, esse é que é o verdadeiro conceito de frontalidade o outro é uma outra coisa.

 

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