4.6.06

A violência nas escolas

Era bom que começássemos por distinguir violência de indisciplina. Enquanto professor do ensino secundário, sempre parti do princípio que a indisciplina é mais uma virtude que um vício. Adolescente que não seja indisciplinado parece-me extraterrestre. É claro que existem limites para a indisciplina, muitas vezes difíceis de determinar. Cabe ao professor, em conjunto com os alunos, fazê-lo. Quando a indisciplina roça a insolência, facilmente se transforma em violência. Essa violência tanto pode ser verbal como física. Julgo que são raras as escolas portuguesas onde reina a violência, o que não menospreza a gravidade das que ainda perduram. Não é escola a escola que seja um antro de violência. Estagiei numa dessas escolas que, outrora violentas, logrou superar essa condição. Trata-se da Escola Secundária Dr. Azevedo Neves, sita no Alto da Damaia. Felizmente, quer nessa quer noutra escola por onde tenha passado, nunca senti o fantasma da violência. O que encontrei foi um tremendo esforço de integração dos alunos e muita paciência por parte de quem ali trabalhava. Encontrei cursos alternativos aos programas escolares do ensino regular, que permitiam um tipo de leccionação mais activa e prática indo, desse modo, ao encontro das expectativas da maioria daqueles alunos. Penso que uma das formas de resolução destes problemas passa precisamente pela dinamização das aulas, procurando valorizar, em termos práticos, as capacidades e competências dos alunos. Não funciona com todos, mas funciona com muitos. Se um aluno indisciplinado dificilmente aguenta 50 minutos de teoria debitada, muito menos um aluno com comportamentos violentos e agressivos. Dêem-se tarefas práticas a esses alunos, dêem-se-lhes tarefas manuais, permitam-lhes a descoberta, por si próprios, do gosto pelo desenvolvimento de uma actividade, seja ela qual for. É possível ensinar qualquer coisa de filosofia, ensinando, por exemplo, um aluno a tocar guitarra, arbitrando um jogo de futebol, criando canções, discutindo filmes (de preferência bem violentos), etc. Se pretendemos alguma integração desses alunos, comecemos, desde logo, por cagar para as metodologias sugeridas nos programas. O grande problema que aqui se coloca será, desde logo, o da avaliação de competências. Os programas escolares são monstruosidades sem pés nem cabeça, mas muitas vezes esse lado monstruoso dos programas parte da forma como os próprios professores os encaram. Nunca me senti menos competente que os meus colegas por não conseguir, nos 10.º e 11.º anos, cumprir os programas. Se um programa tem cinco unidades e os alunos são problemáticos, invistamos nas matérias de uma, duas, ou três unidades que possam ir mais ao encontro dos interesses dos alunos. Como um jogador de poker, aprendamos a fazer bluff. Deixemos os alunos pensar que são eles quem faz os programas a partir de um leque de temas que nós colocamos em cima da mesa. Eles vão quase todos dizer sexo. Vale de aposta? Pois bem, falemos de sexo. Seria um exercício interessante transformar todo o capítulo sobre argumentação numa teoria do engate. Não funciona com todos, mas funciona com muitos. Nas situações de violência extrema, julgo que o caso é de polícia. São situações complexas só analisáveis caso a caso. Quando faltam os pais, quando a sociedade que temos não ajuda, quando a própria militarização da escola (uma opção sempre a ter em conta) nada parece resolver, só vejo uma solução: encaminhar os alunos para sistemas de formação alternativos. Esses alunos que reincidem em comportamentos violentos não podem ser encarados como alunos normais, devendo assim ser alvo de medidas de excepção: cursos oficinais, trabalho comunitário, aprendizagens que garantam a escolaridade obrigatória e se preocupem, de facto, com a integração social dos visados. Para tal seria necessário um investimento muito maior na educação. Estará alguém interessado?
Nota: A Soledade chamou-me a atenção, por e-mail, para mais uma das minhas imperdoáveis bacoradas. Onde se lia «unidades que possam ir mais de encontro aos interesses dos alunos», lê-se agora «unidades que possam ir mais ao encontro dos interesses dos alunos».

6 Comments:

At 1:18 da tarde, Blogger soledade said...

Concordo contigo Henrique.

 
At 2:48 da tarde, Anonymous Anónimo said...

ainda nao sei de melhor reflexao sobre o assunto que esta.
agora pra aqueles stores que andam sempre com lamechices autovitimizantes devo dizer que nao sei de agressao a professor injusta.exemplos:uma stora muito arrogante que se empenhava mais em insultar os alunos pla sua ignorancia(negligenciando que tal era quase sempre uma fatalidade)do que em melhorar os seus metodos virou-se pra uma colega minha cujo pai era drogado e a mae reclusa-o que era de conhecimento geral a comecar pplos stores-depois de ela,ja farta de aturar aristocratismos lhe ter respondido num tom severo,mas voce julga que esta a falar com a sua mae ou que?a minha colega levanta se puxa-lhe o cabelo e da-lhe dois chapadoes(pra minha alegria).um stor que tinha orgasmos a berrar(ad hominem) com os mais indefesos plos motivos mais mesquinhos e que era indulgente sabujo ate ao osso com os mais agressivos tendo o capricho de dar aulas de pota aberta incomodou-se a conta das discussoes pouco veementes que uns miudinhos tinham em frente a jogar ao berlinde avisou-os com displicencia pra se acalmarem o que eles fizeram por um bocado a segunda,em vez de fechar a porta(mais que suficiente) ja cheio de raivinha saiu disparado da sala(drasticidades de temperamento que lhe eram comuns)e (coincidencia das coincidencias) pegou no mais fraco e afavel plos colarinhos e atirou-o ao chao lixandolhe os oculos deixando o a chorar,na mesma manha o pai derrubou o stor ao soco(pra minha alegria).
na primaria uma continua versada em pedagogia clandestina tinha o habito de fazer queixas a pais(que tinham dificuldades em suprir ate mesmo a alimentacao dos filhotes)nojentos_ que tem filhos pra ganharem subsidios dizerem que nao sao menos que os outros desforrarem-se em sessoes marciais antistress desforrando-se assim(julgam eles)das suas infancias e adolescencias miseraveis etc etc-porque de vez em qundo roubavam um par de leites com chocolate ou assim sabendo ela bem pla boca dos pais que eles levariam tau tau (varias vezes em plena escola).resultado:os miudos incluindo eu fizeram um buracco fundo com paus bem espetados nos lados e no fundo(de modo a cortar as pernas descobertas dela,claro)antes da entrada que ela transpunha todos os dia pra o atl,resultado:uma perna toda torcida e hemorragica(pra..,enfim ja sabem...).
eu gostaria de continuar com esta licao(os exemplos nem sao os melhores mas sao dos mais simples) mas "estou muito cansado,apetece-me dormir ate morrer"

 
At 2:55 da tarde, Anonymous Anónimo said...

esta atabalhoado bem sei mas a minha inepcia no teclado faz com que me enjoe demais escrever um texto tao grande sem ser em piloto automatico

 
At 1:59 da tarde, Anonymous Anónimo said...

coisinho, diz-me uma coisa: tu tens tomado a medicação certinha, como o psiquiatra mandou, ou achas que só dia sim dia não já é mais que suficiente?

 
At 3:51 da tarde, Anonymous Anónimo said...

sem querer cometi um erro:sei de agressoes injustas a stores(relativamente pouquissimas).
peco explicacoes ao anonimo:parece-me que insensato e tecer insultos graves sendo se incapaz de os justificar.

 
At 2:41 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Concordo com sua observação no que podemos dizer entre disciplina e violência. Existe uma larga diferença e não podemos deixar que elas se mesclem, seria o fim de tudo e o início do caos. Seria o fim do que acreditamos que pode ser melhor e do que muda mudar a vida de muitos de nossos alunos, os quais muitas vezes não têm referências muito saudáveis em seus próprios lares.Início do desespero daqueles que pretendem, fazem o maior esforço para continuar o caminho entre o ser e o poder ser.Transformar esses jovens é tarefa nada fácil, mas concordo quando você diz:... Deixemos os alunos pesarem que são eles que fazem os programa, apartir de temas dispostos. Vamos deixar que eles encontrem um caminho, eles estarão sinalizando a forma mais adequada e prazeirosa de se ministrar os conhecimentos que farão parte de suas vidas. O jovem gosta de se sentir dono da situação, mas apesar de não parecer, sendo bem orientado pode realizar tarefas que nós adultos as vezes julgamos eles incapazes. Devemos sim, dar mais espaço e condições de acontecerem os sonhos dessas pessoas que fazem parte dessa sociedade tão mutante quanto pode ser. O ferecer novidades e dar mais autonomia nos projetos, fazendo com que eles organizem cada detalhe daquilo que é de interesse de cada um, será um passo muito importante. Sabemos que funciona, basta querermos.

 

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