28.2.08

O DEBATE

Na passada segunda-feira, a Ministra da Educação foi à TV pública debater-se com uma sala infestada de stôres convocados por e-mail e por sms. A Ministra, muito bem penteada e de lábios carminados por um batom meticulosamente distribuído pelas beiças, falou num tom maternalista sobre as medidas madrastas que tem vindo a patrocinar. Os stôres, quase invariavelmente com ar de stôres, iam rindo trocistamente das intervenções da Ministra. Também abanavam muito a cabeça, numa sinalética que ora indicava indignação ora denunciava insatisfação. Indignados e insatisfeitos, aplaudiam-se, porém, uns aos outros. Entendendo hoje os apupos à Ministra, fiquei sem entender o que aplaudiam uns aos outros. A primeira stôra a falar fez questão de sublinhar que não era comunista, para logo a seguir falar como um deles: «Obviamente acredito que todos os professores são bons». Pode alguém discutir o papel dos professores na educação partindo de premissas destas? Isto não apenas denota um cinismo insuportável, como arrisca resvalar na hipocrisia de sempre. É por estas e por outras como estas que eu nunca hei-de entender que tendo o Ministério da Educação denegrido tanto os professores, tendo esse mesmo Ministério contribuído tanto para a desacreditação dos professores, os professores continuem a ser, segundo as estatísticas, das classes profissionais mais bem vistas pelos portugueses. Das duas uma: ou o Ministério trabalha muito mal ou estas estatísticas são mais uma prova dos tão propagados analfabetismo e iliteracia portugueses. E os professores são todos bons.

5 Comments:

At 1:33 da tarde, Blogger MJLF said...

os professores no ensino publico são todos bons, sobertudo se passam os alunos com boas notas - mesmo que os alunos sejam ileterados. O unico que chamou a atenção para o facto foi um professor de matemática bastante novo - o problema começa com a avaliação dos alunos. Agora, os alunos vão deixar de ser avaliados e apenas se avaliam os professores, uns aos outros, cosuante as notas dos alunos. Belo ensino publico!Quanto ao ensino de elite, ele já existe, são os colégios privados que têm alunos com as melhores notas nos exames nacionais. O bom ensino agora é a pagar! Os bons professores, se forem espertos devem ir dar aulas no ensino privado e criar escolas privadas. Os pais com dinheiro cada vez mais vão colocar os seus filhos a estudarem no privado, porque o publico é o que é. Quem não tem dinheiro está fodido. A ministra apenas quer gastar menos dinheiro com a educação, é simples.
Maria João

 
At 1:36 da tarde, Blogger hmbf said...

O teu comentário obriga-me a uma nota: só não estou totalmente de acordo porque ainda há escolas públicas que, contra tudo e contra todos, funcionam muito bem e colégios privados que, a favor de tudo e de todos, funcionam muito mal.

 
At 1:51 da tarde, Blogger MJLF said...

As escolas publicas que funcionam bem contra tudo e contra todos estão a acabar - eu dei aulas no Raínha D. Amélia, um ano antes de fundirem essa escola com outra, era uma boa escola contra tudo e todos até a fecharem, ela acabou. Tinha alunos filhos de pais de elite e miudos vindos dos bairros da ajuda, tudo misturado, eu não os distingia, tinha era de facto bons alunos e alguns maus também, tinha alunos interessados e que se esforçavam muito e a grande média ia para a universidade de certeza. Era uma escola com bons professores que funcionava. E existem escolas privadas muito más, isso nós também sabemos e os pais com dinheiro também sabem quais são. As privadas más não têm as melhores classificações nos exames nacionais, as que têm são as escolas de elite e essas funcionam bem. Agora, cada vez mais vai haver essa diferença.
Maria João

 
At 10:43 da manhã, Blogger Rui Lage said...

Então e não são!? Todos bons, os professores, quero dizer? Com aquela inteligentíssima loura que foi quase sempre a interlocutora da ministra à cabeça, a tal que começou por dizer, com generoso sorriso nas também bem coloridas beiças - e por duas vezes - que falava "com a frontalidade que lhe era reconhecida", questionando depois se "qualquer um" podia ser ministro da educação - presumindo nós que ela mesma seria a individualidade indicada para o cargo e para reformar o sistema - e, cereja no cimo do bolo, se não existiriam textos mais adequados que o "Auto da Barca do Inferno" para os alunos de português. Claro que são todos bons, os professores! A começar por esta excelsa porta-voz! Ficamos também a saber que os professores são uns gozões, uns foliões, sempre a rir e a aplaudir e a mandar cotoveladas cúmplices uns aos outros, os marotos! E que não têm jeitinho nenhum para desenhar t-shirts. E que o "professor do ano", que na arte oratória nada fica a dever à eloquência e à clarividência de um Jorge Sampaio, acha que obrigar um aluno a repetir o ano é regra de eficácia duvidosa, no que foi demoradamente aplaudido inclusive pelo matemático da t-shirt, que não percebeu nadinha de nada. Ómessa! Toda a gente sabe que os professores são todos bons, raios!

 
At 4:58 da tarde, Blogger MJLF said...

Pois são, Rui e o melhor professor do ano era o exemplo disso, aplaudido e apoiado por todos, com telefonemas de espectadores, aquilo parecia uma anedota, com a ministra bruxa a debater-se com uma loura de matemática.
Maria João

 

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