21.9.05

A NUVEM PRATEADA DAS PESSOAS GRAVES

Nem sempre se deve desconfiar das pessoas
graves, aquelas que caminham com o pescoço inclinado para baixo,
os olhos delas a tocar pela primeira vez o caminho que os pés confirmarão
depois.
Às vezes elas vêem o céu do outro lado do caminho que é o que lhes fica por baixo dos pés e por isso do outro lado do mundo.
O outro lado do mundo das pessoas graves parece portanto um sítio longe dos pés e mais longe ainda das mãos
que também caem nos dias em que o ar pode ser mais pesado e os ossos
se enchem de uma substância morna que não se sabe bem o que é.
Na gravidade dos pés e da cabeça, e também dos olhos, com que nos são alheias quando as olhamos de frente rumo ao lado útil do caminho que escolhemos, essas pessoas arrastam uma nuvem prateada que a cada passo larga uma imagem daquilo que foram ou das pessoas que amaram.
Essas imagens podem desaparecer para sempre se forem pisadas quando caem no chão. A gravidade dos pés e da cabeça, e também dos olhos, destas pessoas, é, por isso, uma subtil forma de cuidado.

In “A Nuvem Prateada das Pessoas Graves”, 2005, Quasi

Rui Costa

4 Comments:

At 6:56 da tarde, Anonymous Anónimo said...

E a gravidade dos cabelos?
Com os cabelos em pé, fica-se com estes joguinhos de palavras "prateadas", que se pretendem poemas. Uma balbuciante verborreia, menor.

 
At 9:09 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Muito bom.
http://demens.cjb.net

 
At 11:43 da tarde, Blogger MJLF said...

Já conhecia o poema dos pés e mãos e nuvem prateada, gostei do resgisto grave, perfiro sempre o grave ao agudo.

 
At 2:30 da tarde, Anonymous Anónimo said...

etanol:eu também prefiro o grave, com duas boas excepções: kate bush e robert smith.
karl:aprontar o bicho de papel!
Rui Costa

 

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