O Estatuto dos Docentes
Uma rápida passagem pelo sítio da FENPROF deixa claro que os sindicatos dos professores estão mais contra o Governo do que a favor do ensino. E estão contra o Governo de uma forma absolutamente obtusa. Note-se: «O país somos todos nós, incluindo os trabalhadores do sector público e privado sobre os quais caem as mais iníquas, ilegítimas e brutais medidas do Governo, castradoras de direitos arduamente por si conquistados.» Era então bom que dissessem quais são as «medidas sérias de promoção do sucesso educativo para todos» que o governo deveria tomar. Enquanto professor, há muito que espero por essas medidas. Mas não as tenho escutado aos sindicatos... Os sindicatos dos professores estão contra as «medidas estritamente economicistas do Governo», embora não sejam objectivos na denúncia das mesmas e, sobretudo, na explicação da sua indignação. Afinal, que medidas são assim tão «iníquas, ilegítimas e brutais»? Também não consigo perceber quais são as medidas tomadas na área da educação que vão «contra a dignidade profissional dos professores, a qualidade do ensino e o sucesso educativo dos alunos». Se os professores estão de facto interessados numa escola de qualidade, devem passar mais tempo nas escolas. Ponto final. Devem procurar, em grupo, dinamizar as suas escolas. Não me venham com a conversa da falta de espaço. Há sempre espaços mortos numa escola que podem ser dinamizados de várias maneiras. Como professor do Ensino Secundário, devo esclarecer que o descontentamento da classe docente não me toca. Há 5 anos fiz uma opção: abandonar o ensino público, dedicar-me ao ensino privado. Tenho horários de trabalho alterados todas as semanas, não recebo subsídio de nada, não tenho ADSE, népia… Quando fui professor em escolas públicas reparei naquilo que ainda hoje reparo: uma quantidade vergonhosa de professores que acumulavam cargos nas escolas onde estão colocados ou efectivos, com explicações em centros de explicações, formação profissional em centros de formação profissional, horas para compor a semana em colégios privados. Isto é inadmissível. Um horário de trabalho de 24 horas semanais não existe para que os professores ocupem o resto da semana dando aulas noutros locais que não aqueles onde estão colocados. Isso só leva a uma situação: não se preparam aulas, não se investe na formação pessoal, não se manda trabalhos de casa aos alunos porque depois não há tempo para os corrigir, corrigem-se testes de forma displicente, diminui-se, inevitavelmente, os graus de exigência dentro da sala de aula. Mais: professores incompetentes, afectados pela efectivite, a ocuparem o lugar em espaços de leccionação alternativos que poderiam ficar à mercê dos milhares de professores desempregados que se vão desenrascando como caixas de hipermercado. Ora tudo isto tem de mudar. Os professores ganham mal? Ganham sim senhor (nunca ganharam bem). Mas se não trabalham bem, também não merecem ganhar bem. Os resultados estão à vista: somos dos países na Europa que mais investe na educação, mas temos os piores resultados. Há professores muito bons. Há muitos, demasiados, professores muito maus. Digo-o com mágoa e escrevo-o à pressa para não me arrepender de o ter escrito.
5 Comments:
não quero defender as dores de nínguem. Concordo em maioria com o que escreveste. Alías não sei bem qual é a realidade dos liceus, nunca lá trabalhei. Mas posso falar de uma realidade do ensino superior. O estado não abre quadros, como tal contrata pessoal em regime de provimento de trabalho(coisa k só o estado pode fazer), ora isso implica por exemplo que muitos dos meus colegas, algums a trabalhar à + de 10 anos não tenham direito a fundo de desemprego, não obstante descontarem o mesmo que qq outro trabalhador. A fenprof tem sido muito diligente a tentar alterar esta situação.
Aurora
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Penso que mais séria que o que dizem os sindicatos -interessados apenas em fazer opisição política e em preservar a continuidade dos seus lideres, pagos por todos nós, os que pagam impostos,é a discussão e comentários sobre a carta aberta no educare.pt (http://www.educare.pt/artigo_novo.asp?fich=ESP_20051012_523)e a petição on-line que eu já subscrevi,em nome da dignidade de uma classe que vem sendo humilhada e ofendida.Ver
http://new.petitiononline.com/profspor/petition.html
11:31 AM
Saí há cerca de 1 mês do Ministério da Educação. Trabalhei onze anos num departamento que tanto podia contribuir para melhorar. Infelizmente nunca o podemos fazer. Cada trabalho que fizémos, mandaram-nos suspender. Desisti. Não nasci com o carisma de Cristo, nem de Gandhi.
Trabalhei com professores. Com escolas.
Há escolas que trabalham muito bem, há escolas que trabalham mal, normalmente dependem dos Conselhos Executivos. Há bons agrupamentos, há agrupamentos que foram constituídos pela força. Eu sei porque estive presente. E há muito mais que é vergonhoso. Infelizmente. Com onze anos de ME apanhei vários governos. Quem me dera perceber a diferença entre eles...
Isto é o mais importante: «Com onze anos de ME apanhei vários governos. Quem me dera perceber a diferença entre eles...» Era bom que se mudasse de atitude... Vejamos se não é isso que está a acontecer.
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