12.11.05

CORAÇÃO NEGRO

Coração negro.
Enigma ou sangue de outras vidas passadas,
suprema interrogação que me fala diante dos olhos,
signo que não compreendo à luz da lua.
Sangue negro, coração dolorido que de longe envias
incertos latidos, quentes baforadas,
pesado vapor de estio, rio no qual não me afundo,
que passa como o silêncio sem luz, sem perfume nem amor.
Triste história de um corpo que existe como existe um planeta,
como existe a lua, a lua abandonada,
osso que todavia tem a claridade da carne.
Aqui, aqui na terra lançado entre uns juncos,
entre o verde presente, entre o sempre fresco,
vejo essa pena ou sombra, essa linfa ou espectro,
essa suspeita solidão de sangue que não passa.
Coração negro, origem da dor ou a lua,
coração que outrora pulsaste entre umas mãos!
Beijo que navegaste por uma veias rubras,
corpo que te cingiste a um taipal vibrante!


Versão possível de HMBF.

Vicente Aleixandre y Merlo
Vicente Aleixandre y Merlo nasceu em Sevilha no dia 26 de Abril de 1898 e faleceu em Madrid no dia 14 de Dezembro de 1984. Poeta espanhol da chamada geração de 27, foi membro da Real Academia Espanhola desde 1949. Prémio Nacional de Literatura em 1934 e Prémio Nobel da Literatura em 1977, Vicente Aleixandre y Merlo licenciou-se em Direito em 1919. De saúde frágil, publicou os seus primeiros poemas na Revista de Occidente em 1926. Dois anos depois, daria à estampa o seu primeiro livro: Âmbito. Estabeleceu contacto com Cernuda, Alberti e Garcia Lorca. Inspirado nos percursores do surrealismo, adoptou o poema em prosa e o verso livre aproximando-se muitas vezes da escrita automática. Após a Guerra Civil, apesar das suas posições políticas de esquerda, permaneceu em Espanha, tornando-se num dos grandes mestres espanhóis da poesia dita social.