11.11.05

Per qualche dollaro in più


Nem só o silêncio é o covil de Cavaco. A táctica dos cavaquistas é outra. Enquanto o líder, qual abutre, observa do alto o penoso processo de decomposição dos seus opositores, os séquitos do mestre vão-se entretendo acusando-os de insultos desnecessários. Putas finas, diria a minha vizinha do lado. O escudo fundamental de Cavaco não é o silêncio, é a tadinhice que os portugueses tanto apreciam. De hoje em diante ficaremos a saber que pedir contas a um antigo primeiro-ministro é falta de educação, forçá-lo ao debate é insultuoso, querer ouvir-lhe uma ideia que seja sobre o que quer que seja é sacrilégio. Cavaco, que outrora acusou os jornalistas de apenas mentirem a seu respeito, vai tendo assim na classe um aliado de peso. Ninguém lhe pergunta nada de jeito, porque ninguém lhe quer ouvir nada de jeito. As perguntas que lhe são feitas pressupõem sempre ofensas que não existiram, mas que se querem fazer existir. Logo, as respostas que se lhe ouvem são apenas acerca de assuntos que não existem. Pseudo-assuntos que fazem esquecer o que realmente importa. Temas que importam? Por exemplo, essa apregoada «fuga à convivência partidária» - táctica reconhecida a Cavaco e a Alegre (curiosamente, ou talvez não, ultimamente muito elogiado pelos apoiantes do político que antes de o ser já não o era). Por que será tão conveniente esta descolagem dos partidos nas presidenciais? Por que não quer Cavaco ser político? Por que não quer Alegre deixar de o não ser, afirmando-se alternativa? Alternativa a quê? Os três principais candidatos são maus, muito maus. Têm todos demasiados telhados de vidro. Cavaco fartou-se de dizer bem de Soares, não tem agora o que criticar. Daí o silêncio. Soares disse que apoiava Alegre. As razões por si apresentadas para o não ter feito não convencem ninguém. Alegre, ao que parece, disse que só quis mesmo avançar quando soube que o PS não o apoiava. A isto chama-se ego, não se chama pátria. Houve um tempo em que a política era de outra estirpe, um tempo em que se faziam contas à morte para ver se valia a pena viver. Agora, fazem-se apenas contas à vida. Se Jerónimo dançar bem, ainda me leva às urnas.

2 Comments:

At 6:59 da tarde, Blogger Rui Pedro said...

O Jerónimo dança bem, pelo menos já tenho lido isso nos jornais...

 
At 7:04 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Além de que o outdoor está muito bom e a criatividade (sem especialistas de MKT) deve ser recompensada.
Eu vou dançar com ele :).
nelson

 

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