Sobre a tolerância
A tolerância não é permitirmos que os outros façam o que querem fazer. Quem somos nós para permitir ou deixar de permitir o que quer que seja? Imperadores romanos? A tolerância também não é baixarmos as calças aos outros. A não ser quando isso nos convém. Mais uma vez, isto não tem nada que ver com aceitar ou deixar de aceitar o outro. Repare-se no tom inquisitório do verbo: aceitar. A tolerâncio não é do domínio da aceitação, é do domínio da compreensão. A tolerância é um esforço de compreensão do outro. É darmos tempo à nossa aprendizagem do outro. É tentarmos perceber por que razões o outro é diferente de nós. Nesse esforço de compreensão, os seres humanos acabam por encontrar-se muitas vezes. Desencontrados nos pormenores, encontram-se nos "pormaiores". A isso eu chamo tolerância.
12 Comments:
e CHAMAS MTO BEM!:)
"desencontrados nos pormenores, encontrados nos "pormaiores". A tolerância, só poderá ser isso. Nenhum humano poderá dizer a outro:"Sou superior a ti. Por isso, tolero-te!" Muito menos no contexto religioso ou "não-religioso", que é o tema original do post.
kaku e MC:obrigado pelos comentários. MC, o tema do post não é só a questão da religião. É tudo o que se prende com a problemática da tolerância.
jpt, por isso mesmo digo: «É darmos tempo à nossa aprendizagem do outro.»
Saúde,
Henrique
eu estava a referir-me ao post do Afonso que por sua vez citava o Miguel do Cibertúlia, que por sua vez citava um texto que coloquei na terra da alegria a citar o frei betto. ufa...
Claro que a tolerância não se aplica apenas ao religioso.
eh eh eh
pois claro
eu é que estou cansado
e não percebi
também os tolerados têm que tolerar quem os tolera
ai a polissemia... tolerância como respeito pela diferença talvez seja o melhor... reconhecimento e respeito...
tolerância como deixar andar talvez seja mais o sentir português...
tolerância como coragem e não como cobardia...
Luis Ene
hmbf este é um óptimo texto. por vezes a informação do 'insónia' é tanta que não há insónia que resista ;)
acho que andas a dever umas horas à cama!
poma fidiró: e os tolerados que toleram quem os tolera têm que ser tolerados por quem por eles foi tolerado...
Luís Ene: respeito pela diferença não me diz muito. Por duas razões: a primeira é que desconfio do respieto; a segunda é que há diferenças e diferenças. Por veses, o que julgamos diferenças nem o são bem. Mas há aquelas diferenças que me são, digamos assim, intoleráveis. Por exemplo: não consigo tolerar a violência.
loucomotiva: tens toda a razão. devo muitas horas à cama. mas que posso eu fazer. além de insone, sou viciado. ;-)
hmbf, respeitar é ter em consideração, isso mesmo que dizias no teu texto. E respeitar o outro não significa aceitar as suas acções, designadamente a violência. Respeitar o outro é aceitá-lo, ou se preferes, reconhecê-lo como pessoa, ainda que violento.
Tens toda a razão Luís. Eu é que me precipitei.
Não me interessa muito entrar no jogo do "deve ser" isto ou aquilo, jogo que também se desenrola omitindo (ocultando) o operador normativo. Interessam-me os sentidos mobilizados quando a palavra/princípio é accionada em contextos não reflexivos - isto é, que não reenviam para o espaço sémico da palavra "tolerância" - justamente o objecto do post e dos comentários a que deu lugar. Desse ponto de vista estrito, creio que nas práticas "de linguagem" corriqueiras, especialmente na esfera política, o "juízo tolerante" concita/transporta sempre um ascendente moral. É hipótese, mas visa ser "juízo de facto". Um abraço.
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