SE EU CAIO DOENTE
Se eu caio doente,
não vou à procura do médico,
mas vou pedir aos meus amigos
(não julguem que estou a delirar):
dêem-me a estepe como cama,
ponham-me o nevoeiro como cortina à janela,
e à cabeceira coloquem
uma estrela da noite.
Nada me faz parar.
Nunca passei por ser um não-me-toques.
Se me ferem num combate justo,
liguem-me a cabeça
com um carreiro da montanha
e cubram-me
com uma manta
de flores de Ouitono.
Não preciso de gotas nem de pós.
Que os raios de sol brilhem no copo.
O vento quente do deserto,
a prata das cascatas –
eis a melhor cura.
Dos mares e das montanhas
vem-nos um odor dos tempos primevos,
com um olhar – a sensação
de que viveremos para sempre.
De pílulas branca não
me encham o caminho, mas de nuvens.
Não vos troco por um corredor de hospital,
mas pela Via Láctea.
Tradução de Manuel de Seabra.
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Yaroslav Smelyakov nasceu no dia 26 de Dezembro de 1912 na Rússia. Trabalhou como mineiro e como compositor tipográfico, tendo o próprio composto o seu primeiro livro em 1931. O seu livro mais conhecido é Trabalho e amor, publicado em 1932. Morreu em 1972.
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