19.12.05

A opacidade das leituras

Rui Manuel Amaral já tem chamado a atenção para alguns dos vícios menos suportáveis na nossa crítica literária que se dedica mormente à poesia. É curioso que o tenha feito, por mais do que uma vez, enviando-nos para textos do crítico e também poeta Jorge Gomes Miranda. Digo que é curioso porque esta semana, no suplemento Mil Folhas, com o qual o referido poeta colabora amiúde, acontece algo, quanto a mim, ainda mais extraordinário. Eduardo Prado Coelho, crítico de monta, escreve um texto de opinião (A Transparência das Palavras) sobre a mais recente colectânea de poemas do autor de A Hora Perdida (esse mesmo: Jorge Gomes Miranda). Não está aqui em causa o livro de Miranda, que ainda não li mas vou ler (tal como tenho feito com todos os outros da sua autoria). Está em causa um texto supostamente crítico do mais inútil que se possa imaginar. Digo, sublinho, repito: inútil. Eduardo Prado Coelho não diz absolutamente nada de substancial sobre o livro, limitando-se a citá-lo 21 vezes. 21 vezes! Se nos dermos ao trabalho de sublinhar as citações, ficam, do punho de Eduardo Prado Coelho, meia dúzia de frases cuja substância se pode resumir a isto: «Jorge Gomes Miranda escreve com palavras quase transparentes, mas ele próprio nos diz a meio do livro: “Quanto mais a palavra é transparente / mais a morte aí vive.” Sim, porque a morte também vive.» E pronto. Fica o leitor a saber que o poeta escreve com palavras transparentes e que a morte também vive. Não há pachorra!!! Mais valia fazer como em tempos se fez no Independente: uma ou duas páginas com os poemas, para utilizar linguagem grata a Prado Coelho, na vertical.

5 Comments:

At 3:24 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Embora nem sempre as escolhas críticasa de Prado Coelho, primem pela dimensão intrínseca das obras, não percebo qual a vossa hostilidade ao JGMiranda. Ele tem o direito de ser "transparente" nos próprios poemas e problematizador nas "leituras". Até porque "transparência" em Literatura, não quer dizer, forçosamente, legibilidade, meus caros.E quanto a citações, acho bem. Significa que o crítico leu o livro na totalidade o que nem sempre acontece e que põe o autor que escolheu à frente das postas de pescada muito eruditas ou muito "inspiradas", de lavra própria.

 
At 11:11 da manhã, Anonymous Anónimo said...

ah grande henrique. assim se escreve em bom português, como diriam na rtp.
um abraço do leitor devoto,
changuito

 
At 1:18 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Caro/cara Tê: você não percebeu nada do que eu aqui escrevi, pois não? Não tenho nenhuma hostilidade ao Jorge Gomes Miranda. Aliás, agrada-me imenso a sua poesia. Escrevi em tempos alguns posts sobre a mesma que me valeram inclusive alguns insultos. E eu até digo muito claramente neste post: "Não está aqui em causa o livro de Miranda, que ainda não li mas vou ler (tal como tenho feito com todos os outros da sua autoria)." Se quer mais, considero Jorge Gomes Miranda um dos poetas com mais interesse da sua geração. Quanto a citações, não vou comentar. Se você acha que sim, que ache. Eu acho que não, daquela maneira. Para isso, tal como digo, «mais valia fazer como em tempos se fez no Independente: uma ou duas páginas com os poemas, para utilizar linguagem grata a Prado Coelho, na vertical.» Aquilo não é crítica, não é divulgação, não é nada. São excertos de poemas intercaldos com asserções vazias, inócuas, balofas, inúteis...

 
At 7:12 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Meu caro, também não conhecia o Transpórtis virtual di Kauberdi pa Aulil (que nome!!!). Bela surpresa, igualmente.

 
At 7:18 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Como dria a genial "Rebelo Pinto"(?), não há coincidências. O EPC está farto de fazer "leituras", do mesmo molde. Logo foi calhar a esta... E olhe, o EPC tem muitos defeitos, mas sempre tem outra consciência, conhecimento e contenção cultural e crítica diferentes de Pittas, Pintinhos do Amaral, Mexias, etc, já para não falar de uns e umas patas bravas, que se metem a "ensaístas".

Boas Festas.

 

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