O Fatalista
O Fatalista, de João Botelho, ia conseguindo uma coisa que 1001 medicamentos não conseguiram até agora: pôr-me a dormir. Inspirado numa obra de Diderot, que não li, limita-se a ter de bom o que, em parte, não é seu: os textos. Os textos são, de facto, muito pertinentes. Parábolas certeiras das relações amorosas, das relações de poder, das relações com o divino. Como não li «Jacques, O Fatalista», não posso pronunciar-me sobre o que possa haver ou não de Diderot na adaptação de João Botelho. A isto se resumirá o mérito do filme: abrir o apetite para o livro. O resto é uma modorra insuportável onde, não fossem as prestações de Rogério Samora e Suzana Borges, teria sido fatal como o destino: uma grande ressonadela do princípio ao fim. Para ter piada, não tem ritmo; para ter ritmo, não tem fôlego; para ter fôlego, não tem humildade. Presunçosas encenações teatrais, onde alguns excelentes actores acabam por desfalecer num fastio insuportável. Para o final, João Botelho arrisca uma montagem que, não fosse a sensação de pretensiosismo experimental para o qual já não tenho pachorra, até poderia resultar. Não resulta, porque o facto da linguagem estar de tal forma elaborada torna quase hermética a compreensão dos intentos finais. Estavam duas pessoas na sala. Eu, mais uma outra que, por acaso ou talvez não, por quatro vezes puxou do telemóvel para fazer telefonemas. Em qualquer outra circunstância, eu levaria a falta de educação a mal. Mas ali, nem queiram saber, aquele desrespeito aliviou-me do tédio que o filme me estava a causar. Fica-me uma dúvida: por que razão o patrão, depois de ter partido o joelho, nunca coxeou? Hipótese a: o patrão é coxo por natureza; hipótese b: o patrão não partiu o joelho; hipótese c: o filme coxeia pelo patrão.
2 Comments:
João, deixa lá, este gaijo é um sportinguista azedo.
eh eh eh
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