HOMO
Penso. Verbo, sou uma voz sonora…
Abalo os mundos, pelo céu alastro…
Asa e fogo. Crepito e subo. Um astro
A arder, errante, pela noite fora.
Transcendo o infinito, Zoroastro,
Jesus ou Buda a procurar a aurora
Do dia eterno, enquanto a dor clamora:
- «Deus passou por aqui: segue-lhe o rastro…»
O soluço imortal! O grito amargo,
Vare embora os abismos, não me assombra
E arremesso-me além! mais alto! e ao largo!
E Deus? Como atingi-lo? Dilacero
A sombra onde se oculta e – ó desespero,
Ó voo inútil – não se acaba a sombra…
Abalo os mundos, pelo céu alastro…
Asa e fogo. Crepito e subo. Um astro
A arder, errante, pela noite fora.
Transcendo o infinito, Zoroastro,
Jesus ou Buda a procurar a aurora
Do dia eterno, enquanto a dor clamora:
- «Deus passou por aqui: segue-lhe o rastro…»
O soluço imortal! O grito amargo,
Vare embora os abismos, não me assombra
E arremesso-me além! mais alto! e ao largo!
E Deus? Como atingi-lo? Dilacero
A sombra onde se oculta e – ó desespero,
Ó voo inútil – não se acaba a sombra…
Cândido Guerreiro nasceu em Alte, Algarve, no dia 3 de Dezembro de 1871. Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, foi notário em Loulé e Faro. Antes de haver concluído o curso em Coimbra, publicou alguns livros de versos. Dos seus livros, destacam-se especialmente os Sonetos (1904) e Às tuas Mãos Misericordiosas (1943). Como poeta inseria-se na corrente pós-simbolista integrado no grupo da Renascença Portuguesa. Muitos dos seus versos foram traduzidos em italiano, francês e alemão e recolhidos em várias antologias nacionais e estrangeiras. Foi presidente da Câmara Municipal de Loulé. Faleceu no dia 11 de Abril de 1953. »
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