17.4.06

Na cama com… Rita Ferro


imagem respigada aqui

Quis o destino que a minha primeira vez com Rita Ferro acontecesse no campo. Rodeado de ovelhas, sumiços mugidos e passareiro vário, caiu-me em mãos, vindo vá deus saber de onde, uma revista Vidas publicada com o Correio da Manhã. Às páginas 51, um título chamou-me a atenção: «O sexo do povo». A quem teria o senhor, nestes dias pascais, concedido o dom e a destreza de tão custoso ditame? Isso mesmo, a essa «fêmea do povo, sem papas na língua», de seu nome Rita Maria Roquette de Quadros Ferro Ochôa. Filha do escritor António Quadros e de Paulina Roquette Ferro e neta dos escritores Fernanda de Castro e António Ferro, diz que publicou nove livros, tem projectos vários e crónicas espalhadas pelos quatro (re)cantos da imprensa nacional. É caso para dizer: filho de peixe sabe nadar. Mas saberá? Em crónica inspiradíssima, informa-nos a senhora da seguinte estatística: «80% das mulheres com mais de quinze anos de casadas acha o sexo uma chatice». Números redondos, certamente, para não atrapalhar a prosa. Pergunto-me: desses 80%, quantas andarão pelos cinquentas? E quantas andarão pelos quarentas? E quantas andarão, por que não, pelos trintas? Eu, daqui a nada, farei quinze anos de relação sexual e tudo com a minha de sempre. Como o tempo passa! No entanto, temos meros juvenis 32 aninhos. O sexo ainda vai sendo uma alegria. Mas para a aristocrática cronista, a coisa põe-se, quando se põe, nestes termos: «Um horror. Começa com o tirar da camisa de noite e das meias e acaba naquela “desinça” maçuda, que, sem unto de espécie alguma, nos deixa assadas!» É claro que quem fala é uma «fêmea do povo, sem papas na língua». Se não tem papas, para dizer estas coisas, o que terá a fêmea na língua? Eu só sei que a minha pobre mãe, escutando a declamação, saiu-se-me com esta: «Ó filho, assada sei o que é. Agora isso da “desinça” maçuda nunca ouvi falar!». Rita Ferro explica, mãezinha: «Não acertam, coitados. E, para acertarem, é preciso muito tempo e já a gente está cansada. Fazem tudo ao contrário e quando, enfim, nos arrancam um sorriso, não vêem, porque a luz está apagada, e lá se vão eles para outro sítio, em vez de se deixarem estar quietos!» Pergunto-me como seria se a luz tivesse ficado acesa? Mas não vale a pena perder-me em suposições e quejandos, pois a mulher que ora se debruça sobre o sexo do povo "não perde pela demora". Num repente, dá-nos com este naco de prosa nas fuças que ficamos todos atordoados: «Definitivamente, acham que o pouco gozo que sentem não justifica a higiene a que obriga, o frio que rapam, todo aquele peso em cima, que as cilindra». E mais: «Por tudo isto, muitas já desistiram de se lavarem por baixo ou de raparem os pêlos, como estratégia para tentar dissuadi-los, pouco a pouco, ferindo-os nas pernas ou gaseando-os com aquele cheiro a maresia, tão sulista, cuja origem ninguém sabe se são algas ou descargas directas dos grandes adutores de esgotos junto à costa». Fónix!!!! Deve ser por estas e por outras que eu tinha um vizinho, lá no campo, que se entretinha com as ovelhas. E um outro que, de quando em vez, se atirava à burra. Contou-me o meu pai que havia mesmo um a quem não escapava uma única galinha das que tinha no galinheiro. Quer lá um homem, homem que seja do povo, pôr-se numa fêmea a cheirar a esgoto? Antes as ovelhas, as burras e as galinhas. Mas espera aí… Eles, «coitaditos: só tomam banho aos domingos, parcialmente, as unhas é o negrume que se vê, e aquele cheiro tão típico, entre lodo, sudação acumulada, arroto com fedor a azeitona e mil nove e vinte, que as mulheres do povo, embora não gostem, acham varonil.» Imagino o que acharão as mulheres do não-povo. As mulheres, digamos assim, high society. Que acharão elas, reluzindo de spa, quando engajatadas no decote, exibem os broches num Lux de uma Kapital a seus galos de crista perfumada? E eles, coitaditos, tomando duas e três banhadas por dia, as unhas roídas ao sabugo, com aquele cheiro tão típico das amantes estrangeiras, arrotando a marisco e uísque de malte! Ó, valha-nos deus nosso senhor! Já não há coglioni esquerdo para aguentar tanto espermicida vocabular.

5 Comments:

At 7:00 da tarde, Anonymous Anónimo said...

LOOOOL

 
At 7:19 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Isto são umas "modernices" a copiar o "abjeccionismo" que alguns e algumas tentam, coitados,produzir, mas de uma forma tão canhestra, como é o caso, que só tresandam a boçalidade mal-fodida e a uma tremenda e auto-flagelante ignorância, sobre a vida e a escrita.
As anedotas do Rocha, merecem mais respeito do que isto.

Ana

 
At 12:17 da tarde, Blogger Insignificante said...

Em período de reflexão, meditação e recolhimento pascal, a educação religiosa da senhora deve ter falado mais alto, impelindo-a um exercício de projecção expiatória das 'nojices' da carne. Mais um instrutivo momento da nossa 'literatura', notavelmente partilhado por uma sábia primeira vez ;)

 
At 1:08 da tarde, Blogger hmbf said...

coisinho: bem aparecido seja.

musas esqueleticas: esta senhora ferro é musa a valer, hein!

ana: abjeccionismo? quem, a rita fero ou eu? :)

insignificante: de outro ponto de vista, isto até faz sentido. é uma espécie de calvário da imprensa escrita actual.

 
At 11:37 da tarde, Anonymous Anónimo said...

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