POEMA
Ouço o incêndio, as fábricas. O berço
do suor interrupto. Ouço às vezes quem se ama
onde o amor não há – apenas morre
no clandestino abrir.
Ouço às vezes quem rompe os mapas cerce
e então na noite recupera as loucas
emigrações da história. Ouço crescendo
secamente os filhos no rancor e na linfa.
Astuciosamente recolhendo as vastidões adversas.
Ouço em momentos fartos o entulho,
desdobrada a raiz, fundar o mês da heresia,
a sábia recriação do sumo.
Ouço o arado. A luz. Profundamente
os barcos segregados na propensão do mar.
Ainda quem a medo desagregue
a centenária paz:
- os homens,
onde os ouço, aqui recordo
as origens compradas do terror.
Os homens, onde os ouço, aqui confirmo
suas mãos.
do suor interrupto. Ouço às vezes quem se ama
onde o amor não há – apenas morre
no clandestino abrir.
Ouço às vezes quem rompe os mapas cerce
e então na noite recupera as loucas
emigrações da história. Ouço crescendo
secamente os filhos no rancor e na linfa.
Astuciosamente recolhendo as vastidões adversas.
Ouço em momentos fartos o entulho,
desdobrada a raiz, fundar o mês da heresia,
a sábia recriação do sumo.
Ouço o arado. A luz. Profundamente
os barcos segregados na propensão do mar.
Ainda quem a medo desagregue
a centenária paz:
- os homens,
onde os ouço, aqui recordo
as origens compradas do terror.
Os homens, onde os ouço, aqui confirmo
suas mãos.
Hélia Correia nasceu em Lisboa em 1949. Licenciada em Filologia Românica, foi professora do ensino preparatório, dedicando-se actualmente à tradução e à escrita. Poetisa e dramaturga, foi enquanto ficcionista que Hélia Correia se revelou como um dos nomes mais importantes e originais da década de oitenta, ao publicar, em 1981, O Número dos Vivos. Incluída na antologia Poesia 71, organizada por Fiama Hasse Pais Brandão e Egito Gonçalves, publicou com Jaime Rocha o livro de poemas A Pequena Morte/Esse Eterno Retorno (1986) e, mais recentemente, o livro Apodera-te de Mim (2002). » »
5 Comments:
Obrigada, gosto muito da Hélia.
Mas não é "heresia" por "hereisa"?
claro que é, dama. calro. ;-)
estou a estudar mulheres que escreveram teatro em Portugal e estou muitissimo interessada na Hélia Correia.Precisava muito de contactar com ela. Alguma sugestão para lhe chegar ao e-mail? obrigada,
Té
Helia Correia é uma mulher cuja escrita vai perdurar certamente no tempo. Caracteristica de quem, como ela, tem uma obra notavel. Pena que se fale tão pouco dela. Parabens pelo blog e pela opção de divulgar este nome.
RG
Ainda bem que algumas pessoas se lembram ainda que a Hélia Correia também escreve poesia; e muito boa, de resto.
Acrescento apenas uma coisa: o livro que ela escreveu em díptico com o Jaime Rocha chama-se "A Pequena Morte/ Esse Eterno Canto", e não "Esse Eterno Retorno".
Saudações
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