3.5.07

OS CALACEIROS

Contam-se pelas unhas os comentadores políticos da nossa praça que não carecem de imparcialidade, desculpando-se o defeito, geralmente, com a afirmação da impossibilidade da virtude. Isto é, aconchegados no conforto desse terrível lugar-comum - «um olhar imparcial é impossível» - os comentadores, ditos fazedores de opinião, furtam-se àquilo que deveriam servir: um esforço de verdade. É assim no mundo moderno, à força de quererem servir os amos acabam por não servir para nada. No caso dos fazedores de opinião essa realidade é ainda mais gritante, pois o que aqui está em causa não é a dificuldade do olhar imparcial. É, isso sim, uma incorrigível preguiça. Tão preguiçosos que são, preferem encostar-se à perspectiva a arriscarem a justeza de um olhar o mais neutro possível. É por isso que me rio sempre quando ouço os serviçais do regime, seja ela qual for, falarem de verdade e exactidão, normalmente levantando os braços à altura das orelhas para apregoarem: «vamos lá pôr as coisas como elas são», ou, em versão mais enfática, o célebre «a verdade é que» ou «esta é que é a realidade». Tentam representar o papel do recto quando não passam de calaceiros.

7 Comments:

At 1:30 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Já em quem é demasiado cobarde para se comprometer a imparcialidade é apenas um subterfúgio, sem nada de virtuoso. Mas no contexto mencionado, em que o sentido de imparcialidade e honestidade intelectual coincidem, sim, é uma falta assinalável.

 
At 2:56 da tarde, Anonymous Anónimo said...

e também existem os outros, aqueles que só dizem mal, porque também é mais fácil
nelson

 
At 3:32 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Leitor atento, o contexto é este e não outro. Mas sempre acrescento que prefiro os comprometidos aos falsos independentes. Pelo menos, com os primeiros, sei o que a casa gasta. Mesmo que os considere mais funcionários da perspectiva do que fazedores de opinião.

Nelson, tem toda a razão. Veja-se, por exemplo, o Vasco Pulido Valente e seus fieis discípulos, quase sempre decalques miseráveis do primeiro. Mas no meu texto não me interessa o que se diz, o tom do que se diz, interessa-me muito mais aquilo a que, para já, chamarei um defeito de inscrição de quem diz.

 
At 4:32 da tarde, Anonymous Anónimo said...

O texto deu-me a entender que estavas a tomar a imparcialidade como uma virtude num sentido absoluto, por isso fiz a observação. Se foi supérflua, então foi só isso.

 
At 4:34 da tarde, Blogger hmbf said...

Não. Aliás, até já escrevi sobre isso uma vez. Vou ver se encontro o post.

 
At 1:30 da tarde, Blogger DL said...

Mas a culpa não será do público, que insiste mais na exigência de ver representadas "vozes de todos os quadrantes", em vez de vozes independentes?

 
At 12:41 da tarde, Anonymous Anónimo said...

DL, eu não vejo as coisas na perspectiva da culpa. Antes de decretar culpados, interessa-me denunciar os “crimes”.

 

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