INÉDITOS DE JORGE AGUIAR OLIVEIRA #28
UM RESTO A CONTA-GOTAS
pouco passa das duas
olho as duas e treze no relógio
e treze foi o malvado dia em que partiste
tossindo e escarrando sangue
entro na madrugada pelas traseiras
fumando desalmadamente
migalhas de badalos dos sinos
planam sobre o deserto dos quartos
imundos de corpos podres
em frente
os barcos continuam navalhando o rio
nesta janela da Rua dos Corvos em Alfama
sinto-me vigilante não sei de quê
furando com um prego um nome
o olhar já não se espanta por coisa alguma
há muito tempo coisa duma hora
estava sentado na gare de Santa Apolónia
e os comboios chegavam e partiam
com eléctricos vultos vagabundos
e inumanas feras que eu nem sei se eram
gente se visões tumulares
arrastam-se com roupas aparentemente limpas
escondendo a dor do vazio no estômago
e a ferida dignidade no queixo levantado
de olhar desfocado mas aberto ao caos
teso de palavras sem um rim um fígado
ou outro avir vendido para levar um pão
aos filhos
a doença do jogo
faz parte da história natural das bestas
filosóficas de hóstias cobertas de sangue
dos punhais duma indefinida direcção
desfigurando jovens terras
de bandeira ainda limpa
acendo outro cigarro
como um velho precisando da bengala
para chegar à noite quebrada
com o olhar quase morto e de alma perdida
deixo-me ficar indiferente ás descobertas
da ciência à arte inflamável
aos corpos mutilados
não sei quais
mas sei terem havido hoje porque
uma rotina de mil anos é uma rotina
de outros mil e tantos mais
um círculo de rosas bravas
vim há pouco da janela
e ao soprar o terço de poeira
lembrei-me da contaminação
do nosso abandono
partilhada por tantos miseráveis
como aquele verme escondido
na escuridão da noite onde habita
o rochedo incendiado da sua vida
com o peso da consciência
de quem virou as costas
quando a morte filou o braço
e me arrastou de joelhos ao altar
poderíamos ter dado o laço sem nada fazer
para impedir a desgraça
talvez abrisse uma garrafa de champanhe
à porta do hospital à saúde da notícia
por mim pode ficar no buraco
para sempre abraçado ao resto dos dias
ou a meio do carreiro dos azarados
marmeleiros que iam dar ás encruzilhadas
das nossas conversas diluídas
no cais da amizade
a minha face a minha dor
a minha rapariga
foi uma cadela deixada a um tipo
desaparecido entre as brumas da mentira
apago outro cigarro e mudo-me
para o muro vazio da Aldina Duarte
chegar à conclusão que andámos
eu e tu meu amor
rodeados de cínicas sanguessugas
e não demos conta dá-me ganas
de esmigalhar a cabeça entre o cais
e o casco do cargueiro ancorado ali em frente
enviando por correio os pedaços dos destroços
aos imbecis em envelopes cortantes
foda-se queimei os pêlos do bigode
ao reacender outro cigarro
no passar das duas e quarenta
trago o coração a boiar num mar de vingança
onde o sal conserva a fome doentia
animalesca trazida
pelos dias sem sonhos nem norte
alimento a besta olhando-me ao espelho
lavando as ramelas do olhar
de algum perdão à deriva por aqui
trazer a vingança dentro de nós é pior que matar
o corpo contra o tempo do destino
a que chamavas a chaga do infinito
e tudo o que desejei para esta vida
ela mo deu ela mo tirou
duas e cinquenta e oito e abro outro ritz
entre o cinzeiro e um mata-borrão a meu lado
um molho de livros linhas de palavras
repletas de imitações de sangue
lágrimas mijos e esperma
ladroagens domésticas com cio
de bandidos pequenos a mentir
chafurdando na dor alheia
uns tantos a rabiscarem poemas
para caírem no goto da Opus Dei do amante
dos editores de regime e dos jornalistas
cometas vendidos ao recibo verde
vira-te rapaz abre a braguilha
e mostra-lhes o mangalho para taparem os olhos
chamarem-te ordinário com um olho
a espreitar entre os dedos
a senhora dança? e você mama?
este é um tempo de poemas de plástico
onde o p do poema sem côdea saltou
para o panrico e a escrita da moda
a um euro e de lápis que já foi azul
reinam nas latrinas dos intendentes literários
o senhor lambe aqui ou quer acolá?
o cego com o corpo cheio de chagas
sobe a escada a pedir esmola e adivinha
nunca leu o Pessanha mas eu lembro
na esplanada da Benard
havia uma gazela de permanente ruiva
bebendo chá de pacote levava no pacote e
pagava e nunca leu o Eugénio
não sei se o primeiro-ministro bebe leite
se algum dia bebeu do pacote mas aposto
que nunca leu um poema teu ou do Baião
um chuto numa bola de futebol dá um voto
o citar dum verso dá a perca de um tanto
se queres ser famoso rapaz
e apareceres na televisão vai até ao Parque
das Nações bate uma pivia aos berros
sem antes mandares um fax
para as redacções dos canais televisivos
sem nunca ouve bem nunca recites um poema
também o único que conheces
deve ser a letra do hino do teu clube
que é uma nação de boçais ignorantes
sem esquecer a tua professora de linguística
e literaturas que dos poetas
das últimas três décadas leu um
de que gostou encolheu os ombros
trocando o nome do dito por um astrólogo
é verdade a Amália era ponta-de-lança
e o Baia ganhou o nobel da literatura
vá minhas amigas levantem-lhe a saia
e mostrem-lhe a piça
para este país em dívida com as letras
pagar agora juros sobre juros de letras
e um verso lhit e fashion
lá fomos nós cantando e rindo ao fundo de novo
enquanto aquele orienta a vida o outro
orienta-se da vida com a sua mulher
entre carros abrindo as pernas e a boca
a troco duma nota
enquanto ele em casa fode a filha e
a irmã em tempos a cunhada
e o sobrinho do mesmo sangue
sangue do seu sangue
nada de mal nesse homem colectivo
e vibrante na pose de perna aberta
colar de cabedal com um búzio ao pescoço
trazendo a razão da vida ser tão curta
saboreia os prazeres sem um coto da moral
copulando galinhas cães
a burra sem sonho algum como ele
entre o fel do medo e a mordedura da morte
um vácuo de solidão serpenteia em alba
onde o tudo é alma do pó
uma mentira um nada
três e vinte e tresanda a filtro queimado
ligar a memória do último dia da nossa vida
como quem liga um rádio abandonado
na esperança de ouvir
a canção mais venenosa
e a sua picadela no coração
nos faça adormecer
num murmúrio moribundo nas traseiras
das lágrimas estreladas
sem ti não consigo olhar a lua
por uns segundos passei pelas brasas
engomando sonhos teus e acordei
com os cabelos mergulhados na cinza
das beatas no cinzeiro charco
onde bóiam paus de fósforos e
o sumário da minha vida
é a morte
como desejo não acordar mais
neste aglomerado de dias sem cura
é-me igual ao litro que venha a doença
da esperança de máscara ferida
se morrem os meus braços sem os teus
recito uma lágrima dum sonho
e sigo pelas ruas da cidade
de passos com destino padrasto
e tudo e todos parecem estar em saldo
aos pés da espuma feita colchão danço
agora o tango sozinho
e esta graciosidade como a vida
não é rota para viagem sem par
tropeço em restos de papelões
escondendo nos passeios da cidade corpos
apodrecendo abandonados pelo destino
e pelos miseráveis governantes
indiferentes à espinha de fome
e aos ossos do desespero de seres
que mesmo nunca tendo lido
a morte a crédito de Céline
são homens e mulheres alguns
nunca se conheceram crianças
no espelho desabrigado de beleza
sem Spartacus nem sopa os pobres
já nem cabeça têm para se revoltarem
ou cuspirem o bolor
que o tutano da sua vida ganha
sem terra sem rua sem mesmo um nada
não podem mijar no urinol do Duchamp
porque só conhecem a sombra
da árvore no taipal da obra e
o biombo automóvel onde
ao redor ratazanas reconhecem
o cheiro do desamparo a arder
e em breve mais um corpo caído no ruído
do alcatrão urbano prato forte
por ninguém terem nem despedidas
para o recordar algum tempo mais
a revolta gaga dos sem trabalho
e sem versos enferrujando
na perpétua armadilha
de saberem e terem a vida a crédito
para tal basta possuírem o impossível
um minuto para pagar um dia
um raio de sol bailando num rosto
uma palavra com raiz criando pontes
entre o cérebro e o coração
e à mão um pão e um corpo
numa ruela da Cova da Moura
as balas arrumam fardas nos guarda-fatos
ao som de mornas cheirosas a torresmos
um machado racha-me a cabeça ao meio
e a minha língua saltita na mesa
lambendo os pingos de sangue e a cinza
dos meus cigarros que lembram corpos
caídos ao longe num resto de rua no Iraque
depois de um carro armadilhado ter explodido
junto a uma paragem de autocarro
onde já ninguém se lembra da imagem
um vaso com flores à porta de casa
e vão pelos ares comboios alianças e livros
de cheques salpicados com o sangue
dos pedaços de carne voando
no espaço aéreo das pombas
num estilo Furia dell Baus
são os primeiros sinais do espectáculo
de novo trazido à cena
em nova encenação islâmica
o resto da minha vida anda
numa bola de sabão perdida numa galáxia
numa bala à deriva no Casaquistão
num fio da corda dum enforcado no Irão
na lamina mortal dum motim
numa cadeia em São Paulo e em letras
de canções que sei de cor
e se deus me quiser castigar
então vai ter que penar
para o inferno não se pode mandar
o que já lá está
o máximo que desejo esta noite
é não me lembrar de ti
duma mesa posta sem comida
ou do relógio com os ponteiros parados
por não haver dinheiro para comprar pilhas
mas é impossível meu amor
quando chegaste com a cicatriz do sonho
e a alma remendada além dos corantes
e conservantes para o tingimento
das roupas dos ricos cuspiste
não me toques puta europa
o outro teu colega têxtil enlouqueceu
ao aproximar a vela acesa da menina
da direita queimou as pestanas
e o olho explodiu no desemprego
e hoje ser agricultor estilo portuga
é desfilar de enxada ás costas
num supermercado e comprar o agrião
e o nabo embalado
enquanto outros rufam tambores
para preservar o lince e a urtiga
e nenhum barulho para preservar
a ideia de que nada se pode preservar
eternamente
são quatro e quarto e o fumo do cigarro
fugindo pela janela
até ele foge de mim como aquela
ranhosa da frente de bandeira
nacional à varanda que não alugou
o anexo ao caboverdiano por ser preto
preto é o gato do ourives que é mais
bem tratado que muitos imigrantes
neste quintal a ficar cada vez mais
de castanholas e sevilhanas
a rata da mulher da frente se a tem
é branca como a pele da sua maldade
que é um diamante eterno
bocejei à passagem das quatro e meia
levanto-me da febre da flor de lótus
e vou urinar ás portas de Berlim
vejo traineiras e arrastões
da nossa frota pesqueira perdida
vendida a esta Europa traficante
puxo o autoclismo e fecho os olhos
para não ver o mar
sem peixe algum algum dia
uma tempestade se ergue
das funduras da minha cabeça
tudo por que me bati na vida se afunda
nestes dias sem amor e sem chão
que o tempo barra
os destroços da minha história
e desta terra que foi um país
e eu um agasalho para o teu coração
são quase quatro e cinquenta e não paro
de contar as passadas do tempo a fugir
e há um resto duma sombra mutilada
a voar na outra margem
é demoníaca esta espera
pelos primeiros raios da aurora
é um tempo perdido
como perdido é o tempo da espera
pela morte a tocar saxofone à porta
dos quartos emprestados onde durmo
sem morada e sem o beijo dos deuses
nunca mais voltarei a casa
perdi-a quando os corvos te levaram
e porque nunca mais te verei
nunca mais terei casa
a casa
nem junto daquela lua onde nasceu
um lírio no céu nessa noite
em que se evaporou a janela
do abrigo em meu peito
quando ontem procurei a linha do horizonte
e a encontrei morta percebi já estar
a caminho do abismo do invisível
crio barulhos à minha volta
para não ouvir as gargalhadas da solidão
paro
e volto à janela com o corpo
duma esferográfica e olho através dela
o Cristo-rei ao longe aponto acerto
a mira do desejo e disparo a bazuca
com o olhar demolidor
agora já não mora lá
o causador de vómitos para outros
antes de mim e para mim
bateram as cinco e entre as mãos
amparo o meu coração tombado
na guerra dum dia mal afortunado
outro cigarro e recordo
as escamas caídas nos campos
de batalha dos abraços dos falsos
vou à janela tirar a roupa da roldana
e não há roldana nem roupas
somente uma nuvem enamorada
pelo grito do abutre a naufragar
no fumo do meu cigarro
nunca mais chegam as seis horas
e trago à minha companhia Jay-Jay Johanson
um incêndio deflagrou nos bolsos
das suas calças cheias de restos de nódoas
de histórias ás vezes vazios
de dinheiro ou de papéis com números
de telefone para encontros sexuais
que dão algum troco para a bucha
mas não chega para afogar
o pavor de se ver branco no negro
o meu mundo foi-se embora
levando-me os paços
as viagens do desejo
a garganta dos contos perfeitos
este vazio contaminando
o trilho da dor percorrida
com a memória em debandada
estão os justos quase a esquecerem-se de ti
brisa triste esta
quando desenterrarem as tuas palavras
no vento
ajoelharão a chorar de arrependimento
por não terem aprendido
com a tua sábia humildade
venha depressa a morte prometida
atravesso o corredor às escuras
com as veias do silêncio secas de desejos
mesmo o de estar vivo
a minha mão a vegetar no meu braço
andam por aí à deriva os gestos do desejo
de abrir a porta da luz que dá acesso
ao carrossel dos mortos embalsamados
no centro do prado dos lírios negros
perdoa não ter conseguido proteger-te
dos demónios e dos monstros deste mundo
onde todas as noites morreram no negrume
da noite em que nasceu a tua morte
evaporo-me no fim das tardes
sem saber como irei suportar o acordar
no horror duma nova manhã
com morcegos voando
dentro da minha cabeça
e as veias enchendo-se de areias
restos de vermes em vidro cortante
agrafo dia a dia todas as recordações
que me vão assaltando como
uma dolorosa ferida de saudade
solidão que sei nunca irá sarar
porque ao deixar o deserto onde vivia
no dia em que voaste sobre mim
e me levaste nas tuas asas
a conhecer o perfume da felicidade
eu renasci sem limites
agora de que me serve cremar
as impressões digitais dos minutos
de amor que dão passagem
para o macabro paraíso cristão
se os pássaros ficaram todos embalsamados
ao tentarem perpassar o muro da vaidade
melhor estou eu sendo um resto imortal
na loucura de acreditar na reencarnação
de uma rã em alforreca e o teu olhar
estar agora no rosto não encontrado
porque trago o coração doente
a alma contaminando sem cura
a podridão da matéria
senão vê
rezo na cara do silêncio
e a voz cega-me
para além das acrobacias da melancolia
e do desenrolar inglório do novelo
das minhas contradições
porque as pontas dão um nó
transporto tantas perguntas inquietas
que o tráfego estoira com o raio
das recordações do tempo das alegrias
abre a porta da gaiola do meu pensamento
e fecha a boca de espanto
quando avistares o cosmos a voar
de asas brancas salpicadas de sangue
abre a porta esta noite porque desejo
beijar-te toda a noite para não me lembrar
que te perdi meu amor
olho por olho solidão por solidão
já lá vão as seis da matina e o pedreiro
a sandes de fiambre sem manteiga
e o galão já andam por aí
o compêndio da comédia incrimina
o sorriso da dor estrangulada
na luz do pavio dos círios acesos
brilhando nas escamas do rabo da sereia
defronte ao presidente batendo punhetas
enquanto a secretária lhe penetra o polegar
cu acima e estraga-se tanta comida
por aí nos pratos defronte aos passeios
morresse com fome hoje
como ontem como sempre
quem é ele quem sou eu
o meu retrato é uma distância dolorosa
uma labareda de gente a dar e receber
nem todos os romances têm uma fractura
frésias no colo ou declarações eternas
estorvando os passos
de a ninguém pertencer
tira a espinha cravada no pé senão
ainda sangras as sombras das pegadas
com tão pouco saber
a sombra vestida dum resto de luar
ecoando sobre o despertar da tempestade
das substâncias do desejo
para uma injecção letal
parou o olhar em contraponto à vida
um suicídio atrapalha o tráfego
do espírito público
ele era a Cleópatra seu amor a serpente
e não há maior víbora do que a Mãe
das mães de manto branco
espelhando a glória dos escravos
nunca mais bis esta noite nunca mais
promete-me voltares para casa
esta noite ás cavalitas
num desesperado grito meu
sobrevoando a cremação pestilenta
de toda a nossa carne morta
malcheirosa seja numa frigideira ou
numa ruela amaldiçoada
algures no Zaire
amanhã é dia de finados e eu vou
tirar crude numa dessas praias mortas
dum coração abandonado onde avisto
um resto duma forma de rosto
que na verdade era uma palavra de vidro
dum antigo namoro
esta manhã
os telhados estão repletos de estrelas mortas
e eu cego no labirinto do poema inacabado
morrendo com a tinta envenenada de destino
daqui a pouco serão sete horas
e irei engolir mais uma noite de amargura
enquanto passeio de mão dada com as hulheiras
e o arcanjo pálido que tem estado sentado
toda a noite no parapeito da janela
com vista para o reino do abismo
vou-me embora no verde do loureiro
para libertar a alma
na escada da brutal sabedoria
acolá um resto de luz violeta
e a recordação do teu doce olhar
violeta violetas
muitos vasos com violetas
e muitas velas acesas ao redor do divã
no quarto onde a um canto me sentava no cadeirão
acenava e sorria aí para cima
ficando horas a conversar contigo
no tapete onde dormitava a dor
como um marinheiro enlouquecido
na espera impossível pela chegada
do navio trazendo o seu amado
de terras do sonho para o alívio
ontem disseste para seguir em frente
e procurar
um companheiro para completar a viagem
a chorar prometi ir à procura
dum desgraçado que nunca será amado
verdadeiramente abraçado e beijado
porque tudo o que em mim era verdade e luz
se foi
no dia em que partiste
velas acesas e violetas para ti
até ao fim da nossa história
gravaste com a morte uma tatuagem
de dor para além do sempre
no resto do meu coração
repito o teu nome
todas as manhãs. Todas
as manhãs repito o teu nome.
O teu nome, repito
todas as manhãs. Assim,
talvez um dia enlouqueça
sem saber,
o que é andar por andar.
Depressa, dá-me a mão e leva-me
para junto de ti.
Lisboa, Agosto de 2004
Jorge Aguiar Oliveira
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