CARTA ABERTA A UM LEITOR APAIXONADO
Caro Umleitorquevaiescrevendo,
Há uma enorme dificuldade em falar para alguém que nos quer dar conselhos e pretende ser a nossa consciência, mas nem sequer tem a hombridade de se apresentar. Você, para mim, é apenas alguém que não me conhece, só isso desculpa as barbaridades por si proferidas. Fala da arrogância recrudescente do meu discurso mas não dá exemplos, não me diz onde a encontrou. Onde é que eu fui arrogante? Depois diz-me que eu deveria atentar na forma como digo as coisas. Bem, se a minha arrogância é apenas uma questão de forma, e não de conteúdo, então estamos falados. Sou, de facto, um homem do campo, não aprecio bocas cheias de papa, formalidades no discurso, gosto de dizer as coisas como as penso, de modo claro, havendo quem chame a isso frontalidade, detesto meninos calculistas e prudentes, cheios de estilo e muito urbanos, com muito futuro no nariz e gravatas apertadas ao pescoço, adoro andar descalço, a ferir os pés sobre as minhas próprias palavras. E ninguém me tire estradas poeirentas, carreiros de pedra, caminhos de terra batida. Quem me conhece, sabe que sou assim. Quem não gostar, tem bom remédio. Dê-me um pontapé no cu e vá à vida.
Depois você aconselha-me a repensar o processo criativo inerente à minha escrita. Como se houvesse um processo, como se houvesse a minha escrita. Não há. Já disse e repito: não escrevo, nunca escrevi para ser escritor. Os editores que me editaram livros sabem bem disso, eu disse-lhes isso olhos nos olhos. Não ando aqui para ser escritor, eu escrevo com o corpo todo, não me interessa escrever com a cabeça nem com o coração, interessa-me escrever com o corpo todo. É verdade que leio muito, que vejo muitos filmes, que vejo muita arte pelo caminho, que ouço muita música. Haverá quem veja muito mais que eu. E haverá mal nisso? Olhe, veja em mim apenas um bom cliente da coisa cultural. Apenas um bom cliente. Mas também lhe vou dizendo, e acredite que é verdade, que ainda prefiro as pessoas, mesmo com todos os seus defeitos, aos livros, aos filmes, às canções… e se há coisa que me faz estar aqui a responder-lhe é partir do pressuposto que você seja uma pessoa e, só por isso, mais nada do que isso, merece que eu perca um pouco do meu precioso tempo a responder-lhe. Mais valia estar a ver os Perdidos, mas aqui estou eu a perder-me na sua companhia, na ilha de todas as provocações, na ilha mágica onde a morte deixa de ser morte, onde a vida não é já senão uma coisa fantasmagórica.
Se o que escrevo lhe parece mastigado do que outros escreveram, paciência. Deve ser do ecfrástico, das intertextualidades, das invocações e convocações. São modas, tendências. Uma perdição. Eu adoro gajos originais, mas não olho para mim como um deles. E se os meus pobres textos lhe parecem reacções ao alheio, então parecem-lhe muito bem. É mesmo isso que eles são, reacções espontâneas, autênticas e honestas ao alheio, ao de fora que está dentro, ao dentro que se faz em relação com o que está fora. Não sei se ‘tá a ver, é uma coisa fenomenológica esta da escrita. Sempre em relação com… Até irrita. Eu gostava muito de viver enclausurado dentro de mim próprio, adorava ser esquizofrénico, adorava não ter janelas por onde saltar, ser ensimesmado e super-original, mas deus nosso senhor não me deu a graça desse dom. Deixo isso para os génios a pontapé que há por aí neste país. Eu gostava muito de ser eu mais o mundo à minha volta, mas o filho da puta do Heidegger há muito me ensinou que eu não sou senão um entre os demais, parte integrante de um todo com o qual me relaciono porque outra coisa não me é possível. Os outros não são todos os demais além de mim, são aqueles entre os quais também eu me encontro. Demos um abraço.
Depois preocupas-te com a minha saúde, dizendo que não achas saudável uma tal derisão para comigo mesmo. Tens razão, tens toda a razão. Devia levar-me mais a sério. Não é nada saudável. Daí que eu tenha tanto problema com a saúde: são as micoses, a asma, as rinites, as alergias, os nervos, a ansiedade, os ataques de pânico, o amor, até acho que estou a ficar alcoólico e agarrado à droga… Olha, só ainda não dei um tiro na cabeça, caro leitor, porque tu existes. Não há meias-verdades nisto, nem sequer há verdades. O que são verdades? Sei de quem prefira a verdade acima de tudo. Sim, a verdade. Outros preferem a liberdade, outros o amor. Não há meias-verdades. As meias-verdades são mentiras. Já imaginaste meios-amores, meias-liberdades? Isso não existe. Ou se é autêntico ou não se é, ou se é honesto ou não se é. E ser-se autêntico é amar por inteiro. Quanto a isso, só te posso dizer que aqui estou eu a perder o meu tempo contigo, a dar a minha cara, o meu corpo-alma perante o mundo, não me escondo, não sou uma meia-verdade, sou um rosto e um nome atrás de cada palavra que profiro.
Se compreendes que o que torna este meu espaço de partilha interessante é o ritmo que nele se impõe, por que duvidas que tudo isto não seja febre? As fábricas não adoecem. E eu estou doente, muito doente, e tu já reparaste. Obrigado. Fabril ou febril, que não te incomodem os meus ritmos. A minha família há 5 anos que convive bem com eles. Dizem que sou uma fábrica de febres e que tu, caro leitor amigo que me lês, que perdes tempo com as minhas febres, tu és o ser oculto que faz das minhas febres uma refeição. Alimenta-te de mim, leitor amigo. Só por isso te amo até ao mais fundo lugar do meu pobre e doentio coração.
As tuas epístolas são muito bonitas e sinceras. Terminas com uma suposição, mas também com muitas certezas, dizendo que te pareço dividido: «Suponho que a questão é se de facto és um criador ou apenas um funcionário... pareces-me dividido. Não que definires-te seja fundamental... Mas a boa arte nasce quase invariavelmente de um grande esforço consciente, deves ter ao menos consciência disto. Para haver reflexão é preciso tempo (que nem sempre há, eu sei). E eu não investirei contra o crítico de arte, desde que ele saiba onde é que fica na cadeia alimentar». Pareço-te dividido? Entre um funcionário e um criador? Funcionário de quê e de quem? Criador de quê? Ah! Tu sabes, tu estás certo, tu tens dentro de ti a ditadura do pensamento. Tu sim, tu é que és o crítico de arte. Eu há muito disse bye bye à razão, ó coisa linda. Aqui estás tu a criticar, consciente, por certo, do teu lugar na tua cadeia alimentar. Tu é que és o crítico, o crítico de um pobre miserável.
Há uma enorme dificuldade em falar para alguém que nos quer dar conselhos e pretende ser a nossa consciência, mas nem sequer tem a hombridade de se apresentar. Você, para mim, é apenas alguém que não me conhece, só isso desculpa as barbaridades por si proferidas. Fala da arrogância recrudescente do meu discurso mas não dá exemplos, não me diz onde a encontrou. Onde é que eu fui arrogante? Depois diz-me que eu deveria atentar na forma como digo as coisas. Bem, se a minha arrogância é apenas uma questão de forma, e não de conteúdo, então estamos falados. Sou, de facto, um homem do campo, não aprecio bocas cheias de papa, formalidades no discurso, gosto de dizer as coisas como as penso, de modo claro, havendo quem chame a isso frontalidade, detesto meninos calculistas e prudentes, cheios de estilo e muito urbanos, com muito futuro no nariz e gravatas apertadas ao pescoço, adoro andar descalço, a ferir os pés sobre as minhas próprias palavras. E ninguém me tire estradas poeirentas, carreiros de pedra, caminhos de terra batida. Quem me conhece, sabe que sou assim. Quem não gostar, tem bom remédio. Dê-me um pontapé no cu e vá à vida.
Depois você aconselha-me a repensar o processo criativo inerente à minha escrita. Como se houvesse um processo, como se houvesse a minha escrita. Não há. Já disse e repito: não escrevo, nunca escrevi para ser escritor. Os editores que me editaram livros sabem bem disso, eu disse-lhes isso olhos nos olhos. Não ando aqui para ser escritor, eu escrevo com o corpo todo, não me interessa escrever com a cabeça nem com o coração, interessa-me escrever com o corpo todo. É verdade que leio muito, que vejo muitos filmes, que vejo muita arte pelo caminho, que ouço muita música. Haverá quem veja muito mais que eu. E haverá mal nisso? Olhe, veja em mim apenas um bom cliente da coisa cultural. Apenas um bom cliente. Mas também lhe vou dizendo, e acredite que é verdade, que ainda prefiro as pessoas, mesmo com todos os seus defeitos, aos livros, aos filmes, às canções… e se há coisa que me faz estar aqui a responder-lhe é partir do pressuposto que você seja uma pessoa e, só por isso, mais nada do que isso, merece que eu perca um pouco do meu precioso tempo a responder-lhe. Mais valia estar a ver os Perdidos, mas aqui estou eu a perder-me na sua companhia, na ilha de todas as provocações, na ilha mágica onde a morte deixa de ser morte, onde a vida não é já senão uma coisa fantasmagórica.
Se o que escrevo lhe parece mastigado do que outros escreveram, paciência. Deve ser do ecfrástico, das intertextualidades, das invocações e convocações. São modas, tendências. Uma perdição. Eu adoro gajos originais, mas não olho para mim como um deles. E se os meus pobres textos lhe parecem reacções ao alheio, então parecem-lhe muito bem. É mesmo isso que eles são, reacções espontâneas, autênticas e honestas ao alheio, ao de fora que está dentro, ao dentro que se faz em relação com o que está fora. Não sei se ‘tá a ver, é uma coisa fenomenológica esta da escrita. Sempre em relação com… Até irrita. Eu gostava muito de viver enclausurado dentro de mim próprio, adorava ser esquizofrénico, adorava não ter janelas por onde saltar, ser ensimesmado e super-original, mas deus nosso senhor não me deu a graça desse dom. Deixo isso para os génios a pontapé que há por aí neste país. Eu gostava muito de ser eu mais o mundo à minha volta, mas o filho da puta do Heidegger há muito me ensinou que eu não sou senão um entre os demais, parte integrante de um todo com o qual me relaciono porque outra coisa não me é possível. Os outros não são todos os demais além de mim, são aqueles entre os quais também eu me encontro. Demos um abraço.
Depois preocupas-te com a minha saúde, dizendo que não achas saudável uma tal derisão para comigo mesmo. Tens razão, tens toda a razão. Devia levar-me mais a sério. Não é nada saudável. Daí que eu tenha tanto problema com a saúde: são as micoses, a asma, as rinites, as alergias, os nervos, a ansiedade, os ataques de pânico, o amor, até acho que estou a ficar alcoólico e agarrado à droga… Olha, só ainda não dei um tiro na cabeça, caro leitor, porque tu existes. Não há meias-verdades nisto, nem sequer há verdades. O que são verdades? Sei de quem prefira a verdade acima de tudo. Sim, a verdade. Outros preferem a liberdade, outros o amor. Não há meias-verdades. As meias-verdades são mentiras. Já imaginaste meios-amores, meias-liberdades? Isso não existe. Ou se é autêntico ou não se é, ou se é honesto ou não se é. E ser-se autêntico é amar por inteiro. Quanto a isso, só te posso dizer que aqui estou eu a perder o meu tempo contigo, a dar a minha cara, o meu corpo-alma perante o mundo, não me escondo, não sou uma meia-verdade, sou um rosto e um nome atrás de cada palavra que profiro.
Se compreendes que o que torna este meu espaço de partilha interessante é o ritmo que nele se impõe, por que duvidas que tudo isto não seja febre? As fábricas não adoecem. E eu estou doente, muito doente, e tu já reparaste. Obrigado. Fabril ou febril, que não te incomodem os meus ritmos. A minha família há 5 anos que convive bem com eles. Dizem que sou uma fábrica de febres e que tu, caro leitor amigo que me lês, que perdes tempo com as minhas febres, tu és o ser oculto que faz das minhas febres uma refeição. Alimenta-te de mim, leitor amigo. Só por isso te amo até ao mais fundo lugar do meu pobre e doentio coração.
As tuas epístolas são muito bonitas e sinceras. Terminas com uma suposição, mas também com muitas certezas, dizendo que te pareço dividido: «Suponho que a questão é se de facto és um criador ou apenas um funcionário... pareces-me dividido. Não que definires-te seja fundamental... Mas a boa arte nasce quase invariavelmente de um grande esforço consciente, deves ter ao menos consciência disto. Para haver reflexão é preciso tempo (que nem sempre há, eu sei). E eu não investirei contra o crítico de arte, desde que ele saiba onde é que fica na cadeia alimentar». Pareço-te dividido? Entre um funcionário e um criador? Funcionário de quê e de quem? Criador de quê? Ah! Tu sabes, tu estás certo, tu tens dentro de ti a ditadura do pensamento. Tu sim, tu é que és o crítico de arte. Eu há muito disse bye bye à razão, ó coisa linda. Aqui estás tu a criticar, consciente, por certo, do teu lugar na tua cadeia alimentar. Tu é que és o crítico, o crítico de um pobre miserável.
Por certo que reflectiste muito, tiveste tempo para isso, até chegares a essa conclusão mágica, genial, inaudita: "a boa arte nasce quase invariavelmente de um grande esforço consciente". Como é que eu não cheguei aqui antes de ti?! Ó Mestre, ó génio! Não tive tempo para aqui chegar. Não tive a tua agilidade reflexiva. Um grande esforço consciente, sim. A arte, pois claro. O crítico, os funcionários, os criadores. É tudo tão maravilhosamente Kant. Ou será anti-Kant? Mas olha, não tenho estofo para pensar essas coisas. Sou um pobre diabo. Não quero a boa arte nem esforçar-me conscientemente. Eu só quero continuar a ser inconsciente na prática da minha consciência. Prefiro, por isso mesmo, citar-te um excerto muito breve, apenas um muito pequenino, da Carta Aberta a Freud, escrita pela(s) pena(s) da senhora dona Lou Andres-Salomé: «a vida humana – como digo eu, a Vida! – é obra poética. Sem sermos conscientes disso, nós a vivemos, dia após dia, por fragmentos, mas é Ela, em sua inatingível totalidade, quem tece a nossa vida, e compõe o poema».
Fialho
Caldas da Rainha, 28 de Junho de 2008.
Fialho
Caldas da Rainha, 28 de Junho de 2008.
50 Comments:
Henrique, desculpa, mas não resisto à provocação: este texto é o ideal para ficar como prefácio quando forem publicadas as tuas obras completas.
Abraço!
:)
Como deves imaginar, espero bem que nunca sejam publicadas. Detesto "obras completas". :))
abençoado.
saúde e bichas.
abençoado
és tu
amen
se o rapaz te provocou este pedaço de prosa, abençoado seja ele também. :)
abraço
Isto anda por aqui muito animado! Não sei como conseguem com o calor que está. Eu estou meio derretida.
Só as palavras febre e fábrica me dão taquicardia, é tudo a aumentar o calor. Dizem que em Beja estão 40graus. Presumo que aí esteja mais fresco.
Abraço
Sou eu, o anónimmo, não tive tempo de escrever o nome, o calor derreteu logo as teclas, já arranjei outras.
MC, em alegria te respondo que sim.
Sara, abençoado calor. :))) O mar está à minha espera. Inté.
Realmente anda tudo a precisar de enterrar o corpo na areia e depois dar grande um mergulho no mar.
um grande, eu não digo :)
De facto o calor tem os seus efeitos nefastos e positivos também! Abençoada prosa epistolar.
Amen
Maria João
PS: puta da hermeneutica, vou arranjar uma série nova por causa dela e do calor!
Há posturas em si que não entendo.
Há-de saber que quem dispõe está sujeito a quem opõe. Mas quando o Henrique Fialho sente que contra si se move um processo de intenções, julgando os seus alicerces éticos (mais que lógicos) postos em causa, escuda-se, invariavelmente, no cómodo e final argumento do "tu não me conheces como a minha mãe me conhece". Contra essa verdade irrefutável pouco há a fazer, não tendo a premissa esgrimada outro condão senão o de acabar com a discussão pela raiz.
O Henrique Fialho discorre, com assinalável desenvoltura, sobre uma míriade de assuntos. Mas quando contrariado assume a singela postura de "rapaz do campo", defendendo o tão caeirista primado do "sentir" sobre a raiz do seu próprio pensamento. Beat me!
NP, pois anda. E alguns bem podiam enterrar o corpo na areia e deixarem-se por lá ficar. :)
Etanol, e que boa série aí vem.
Jorge Melícias, se você as entendesse é que eu ficaria admirado. Não se trata de oposições e disposições, não estamos no domínio da dialéctica, não se trata de aceitar ou não, de me escudar ou de deixar de me escudar, não se trata sequer de esgrimir argumentos com quem parece não ter mais nada que fazer na vida, não se trata de viver mal com quem me contraria, algo com o que posso tão bem quanto aqui tem vindo a ser demonstrado desde há vários anos (olhe, o JMS contrariou-me na questão do Hitler e eu agradeci-lhe muito), trata-se apenas de deixar bem claro, para quem queira e para quem não queira entender, independentemente da honestidade das abordagens de cada um, deixar bem claro, dizia eu, que há mais mundo para lá do défice. Você diverte-se por aqui à sua maneira. Tem essa fixação. Já todos os leitores do Insónia terão reparado nessa sua fixação. Volte sempre e diga sempre que nunca mais volta. Eu divirto-me à minha. Que haja quem se deixe incomodar com isso é-me completa e radicalmente indiferente. Mas que você é um chato, lá isso é. Não passa de um chato, parece o homem do chapéu-de-chuva do conto do Sorrentino, você é mesmo uma melga persecutória e obcecada. Não faça como o outro da anedota, que, ao ver todos a andarem na direcção contrária à sua, sempre foi dizendo que os outros seguiam o caminho errado e só ele é que estava certo. Se me permite, dou-lhe uma sugestão: faça um weblog para brincar mais consigo próprio, crie, recrie-se, ame, entregue-se, faça caretas ao espelho, divirta-se, respire, fume um cigarro e coce as virilhas… Olhe, faça um Ligações Perigosas. Seria muito mais divertido.
Peço desculpa se não correspondi à sua epístola aberta com o devido ámen. Mas os seus escritos, acredite ou não, estão longe da concordância da bula.
Ainda assim serviu esta discordância para trazer à tona a sua fraca digestão no que a críticas diz respeito. É sempre bom tropeçar no seu verdadeiro eu, (sim, sim, já sei que ninguém o conhece senão...) eriçadinho, de dedo em riste e com voz de falsete.
Chato.
Plano.
O sr. Melicias era o jm do ligações perigosas, o fodinha triste? Que saudades dessa micro-critica, tinha um odiosinho de estimação por aquele cantinho, visitava-o quase todos os dias. Confesso que estou quase a ficar com um odiosinho de estimação pelas intrevenções do Sr. Melicias, acho que só falta mesmo ele criar um blog para o visitar diariamente e dar-lhe a atenção devida.
Maria João
Querida vítima de tantas "fodinhas tristes"
Essa coisa de baralhar (e voltar a partir) nomes faz escola por estas bandas. O pároco diz e os acólitos vão todos atrás. Vocês só sabem ser em bicha?
Caro antologiadoesquecimento,
Olá. Não aponto exemplos da arrogância que me salta à vista porque se te mostrasse uma tromba de elefante decerto dirias tratar-se de uma cobra ou de um tapete enrolado. Se pretendesse ser a tua consciência tê-los-ia dado. Quanto ao facto de não te assumires como escritor, bem, isso confunde-me, porque me parece óbvio que és um escritor. Talvez se deva ao facto de achares que o livro é uma plataforma privilegiada em relação ao blog? Não deverias subvalorizar-te. E: de auto-complacência estamos nós todos fartos.
Escrever com o corpo parece-me bem, já o HH dizia algo parecido (não é uma acusação). A derisão foi mais engraçada desta vez, mas não posso subscrever o raciocínio subsequente, porque na vida não há só preto e branco.
Desculpa, não queria duvidar das tuas febres. Eu é que não tenho jeito para servir de enfermeira... É que, sim, sou crítico (em oposição a crítico de arte), por isso ando sempre à porrada, inclusive comigo mesmo. Será que isso me faz esquizofrénico? Espero que não.
No que respeita ao processo de que falei, vejo as coisas assim: as paixões geram impulsos que a razão orienta e regula para produzir arte. Quando falo em "esforço consciente" refiro-me à brutalidade que é preciso exercer sobre a matéria-prima que se está a trabalhar, que é muitas vezes o próprio autor. Pronto, penso que seja tudo.
Sei que já te pedi muitas coisas, mas pedia-te ainda que não levasses tão a peito as minhas considerações e que não me julgasses pelo meu staccato. Cumprimentos.
PS: Sou tímido.
querido pateta Melícias,
o Sr. tem de facto um je ne sais quoi, estou à espera do seu blog em grande para lhe corresponder com um devido ámen.
Maria João
Disso tudo, ó leitor, só uma coisa interessa:
«As paixões geram impulsos que a razão orienta e regula para produzir arte. Quando falo em "esforço consciente" refiro-me à brutalidade que é preciso exercer sobre a matéria-prima que se está a trabalhar, que é muitas vezes o próprio autor».
Mas eu não quero produzir arte, eu estou-me nas tintas para a produção de arte, não quero, não tenho talento para, não sou auto-complacente, sou só um poucochinho autocrítico, ainda tenho um pingo de vergonha na cara, embora já não seja tão tímido como fui outrora. Eu não quero produzir arte nem sou escritor. Que você assim me veja e olhe, é problema seu. Que posso eu fazer?
Os seus comentários só me fazem pensar, sinceramente, no que já pensei milhentas vezes e até já fiz pelo menos duas. Mais valia acabar com tudo de novo e recomeçar num cantinho sossegado, onde não viesse tanta gente espreitar e, nesse cantinho, continuar a ser o que sou e você não quer ver, provavelmente por passar a vida a ver trombas de elefante à sua volta. Mas não vou fazer isso. Sabe porquê? Porque você existe, porque dá-me gozo andar por aqui, porque há mais vida para além do défice, porque acredito que desse lado, do lado que é o seu, ainda há muita gente boa.
Ah! E, por favor, não confunda timidez com hipocrisia. A timidez é bela, a hipocrisia é miserável.
Hum! Aqui anda alguém apaixonado!
Paixões doentias.
Já a minha querida amiga tem um incortornável rien de rien.
Um rien de rien soa-me bem.:)
mas veja lá, não se amofine, nem reaja muito ao que eu disse que isso é que é suspeito.
Epidemias de Dulcineias em El Toboso
O perigo está em que, mais tarde ou mais cedo, a notícia chegue a Toboso. Chegará convertida na fantástica história de um jovem bem posto e rico que, perdidamente apaixonado por uma dama tobosina, teve a ideia (para alguns, a loucura) de se tornar cavaleiro andante.
As versões, orais e dissemelhantes, dirão que D. Quixote se afeiçoou à dama sem a ter visto senão e única vez e ao longe. E que, ignorando como se chama, deu-lhe o nome de Dulcineia. Também dirão que a qualquer momento virá a Toboso pedir a mão de Dulcineia.
Então as mulheres de Toboso adoptarão um ar lânguido, modos de princesa, expressões sonhadoras, posturas hieráticas. Dá-lhes para ler poemas de um romantismo exacerbado. Desmaiam se alguém chama à porta. Andam todo o santo dia vestidas do melhor. Bordam naprons infinitos. Algumas aprendem a cantar ou a tocar piano. E todas, até as mais feias, se olham ao espelho e fazem caras.
Não querem casar-se. Rejeitam vantajosas propostas de matrimónio. Franzindo a boca e de olhar distante, dizem ao candidato: «Desculpe, estou comprometida com outro». Se os pais lhes perguntam a que se deve tal atitude, respondem: «Não pretenderão que me case com qualquer um». E acrescentam: «Felizmente nem todos os homens são iguais».
Quando alguém narra na sua presença a última aventura de D. Quixote, têm crises histéricas de riso ou de choro. Não comem nesse dia e não dormem nessa noite. Mas o tempo passa, D. Quixote não aparece e as mulheres de Toboso começaram a envelhecer. Não obstante, continuam bordando naprons e olhando-se ao espelho. Chegaram ao extremo de ler o livro de Cervantes e julgá-lo um libelo difamatório.
Marco Denevi
Tradução de HMBF
Sr. Melícias,
Como é que adivinhou? Sabe, o fotógrafo autor do meu retrato aqui presente, fotografou recentemente o meu incontronável rien de rien ou sombra!
Maria João
Não há qualquer hipocrisia, a não ser talvez a tua. O que é que te dá direito a não ter ambições?
Como dizia um comentador, tu discorres sobre os mais variados assuntos, portanto deves achar-te na posse de algum talento, de algumas capacidades. Não te interessa produzir arte? Eis uma mentira descarada. Não te interessa é o esforço e a responsabilidade que isso acarreta.
Quem não se esforça por fazer melhor mas continua a fazer, faz aquilo que muitas vezes observo: apropria-se de certas ideias, de certas concepções e deforma-as, trivializa-as.
'Tás redondamente enganado. É hipocrisia vires aqui com esse tipo de tretas como se alguém te tivesse pedido conselhos. Deixa-me em paz, vive a tua vida, eu viverei a minha. Espero que gostes deste:
Os incendiários
À luz do fogo são belos. Parecem deuses no meio do fragor dos derrubamentos. A sua voz, quando se sobrepõe aos clamores das vítimas, soa como uma música terrível. Olhamo-los através do medo, da dor ou do desespero e parecem-nos de elevada estatura, jovens, vigorosos, seguros de si mesmos, esplêndidos, audazes, turbulentos, heróicos, quiçá desapiedados. Mas depois das chamas se apagarem, depois do fumo se ter dissipado e a multidão se ter dispersado, vê-los-emos esgravatar nas cinzas com um bastãozito. Sem a decoração das catástrofes são velhos, feios, sujos, esquálidos, têm mau hálito e os olhos empanados de cataratas, vestem roupa desbastada, falta-lhes um braço ou uma perna, cospem salivas fétidas. E se tentamos buscar entre os escombros os restos torcidos e chamuscados das nossas riquezas, eles golpear-nos-ão com o bastãozito e cacarejarão um vocabulário de comadre a quem roubaram as suas hortaliças no mercado.
Marco Denevi
Versão de HMBF
Gostei, apesar das segundas intenções. Não me sinto injustiçado, nem creio que esteja errado, mas talvez tenha sido um erro pronunciar-me. Sempre preferi o silêncio.
Não foi um erro, fizeste muito bem. É sempre bom ter a oportunidade de esclarecer o que pode ainda não estar, e provavelmente nunca estará esclarecido. Só detesto a hipocrisia desse anonimato, não há nenhuma necessidade disso. Por me chamares arrogante? Homem, realmente não há muito quem me chame isso. Mas se me conheces, devias saber que eu jamais ficaria chateado com alguém por me chamarem arrogante. Agora, se me chamas arrogante tens que dizer porquê. E não disseste. Vai-te, pois então, mas com um sorriso nos lábios. É tudo o que desejo. Para mim e para ti.
P.S.: também não disseste do que é que eu me apropriei, do que é que me aproprio. Tudo vago, nada de concreto. Acusas e não concretizas. E és patético na forma, no verdadeiro sentido de patético, quando dizes: «tu discorres sobre os mais variados assuntos, portanto deves achar-te na posse de algum talento». Mas desde quando é que é preciso julgar que temos talento para sermos tagarelas? Por que será que te faz comichão a minha tagarelice? Podias, por exemplo, ser menos hipócrita e, já que não queres concretizar as extrapolações que fizeste acerca da minha pessoa e das minhas intenções, pelo menos responder a estas questões tão simples que agora te coloco. Há milhares de weblogs neste país com tagarelas como eu? Por que te inquieta a minha tagarelice?
Fogo, estava a ver que não chegava a tempo! Anda uma pessoa décadas e décadas em torno de Kants, Heideggers e coisas afins,
não sei para quê: podia ter vindo
logo aqui direito - exemplos: fiquei a saber como ocorre Oproces-
so criativo, fiquei a saber que a
desenvoltura na argumentação ( e no
raciocínio formal?) é opositiva do
primado do sentir; fiquei a saber
que no indivíduo (eu psicológico?)
há uma cisão entre funcionário e escritor... o que aprendi hoje
aqui! E ando eu há semanas a
ruminar novo autor... Não vale a pena,
já percebi! Quando precisar vou ao oráculo. Só me ficou uma dúvida:
afinal o Sr. Fialho é pároco ou não
é pároco?
Não Sô Victor, os párocos andam em missão, ouvem confissões, dão conselhos e fazem da conversão um modo de vida. Eu não. Sou eu, não me imponho a ninguém. E desaconselho todos a seguirem o meu caminho. Ah! Mas aprendi a rezar, tenho rezado muito, rezar como quem ouve. Isso sim, é o que eu mais tenho feito com os meus dedos que adivinham. Um abraço deste que muito lhe quer,
Amigo, olha que agora, pensando melhor, até era capaz de ter vocação. :)
davas um padre giro. quase do tipo daquelas freiras que ambos esperamos... :)
deus me livre de meter o bedelho numa discussão destas. Mas vejo que há inquisidores para todos os gostos. Olhamos por cima do ombro, e lá está um à nossa espreita.
só pelo facto de vivermos já estamos expostos. certo. façam as críticas a gosto...mas deixem as pessoas ser o que podem, querem e a mais ninguém é obrigado.
Mas estas coisas cheiram sempre a ressabiamentos...enfim!
Calei-me antes de tempo? Então: critiquei alguns aspectos da tua escrita, não fui além disso. Pensei em dar algum feedback. Se se tratasse de mera tagarelice não me daria ao trabalho. Mas pode ser que eu não esteja apto a fazê-lo, não sei, não foi uma coisa premeditada. Acho mesquinho estar a destrinçar exemplos daquilo que te disse, nem sequer tenho algum concreto em mente, é tão-só uma impressão geral com que fiquei do teu tom e daquilo que escreves. Também a «apropriação» é algo que ocorre naturalmente, nem é censurável por si mesma. Muito do que fazemos fazêmo-lo sem pensar duas vezes e fazêmo-lo melhor assim, de forma automática. Simplesmente acho que se pode fazer mais... se não estiver demasiado calor.
vejo que te brindaram com um moralista de estaca; com o curiosíssimo nome de "umleitorque vaiescrevendo".
pois então boas escritas desenpoeiradas, de preferência sem revisionismo "iluminado".
MC, um padre giro é como quem diz. Estou cá com uma barriguinha que não te digo nada!... :)
Umleitorque, continuas a falar por meias-palavras, és todo meio-tudo, não concretizas e agora queres desculpar-te? Quer dizer, chegas aqui e chamas-me arrogante. Não dizes porquê. E queres que eu me cale? Quanto à minha escrita, disseste o que disseste e eu respondi como bem respondi. Tu achas que eu sou o que tu achas que eu sou, nem sequer me dás hipótese de eu ser o que eu te digo que sou. E depois dizes que eu é que não distinguiria a tromba de um elefante não sei de quê… Não sei se me conheces pessoalmente, não sei se me “conheces” apenas pelo que aqui vou escrevendo, mas seja como for já deverias ter percebido, e parece que te interessas por estas coisas, que eu não ando nisto senão pelo calor, esse calor que as paixões, todas elas, emanam e que atinge o seu pico naquilo a que chamam amor. Também pode acontecer no ódio, mas o ódio impele-nos para a destruição. O que aqui vês de mim, nos textos que vou partilhando, nas músicas, nos filmes sobre os quais vou falando, são gestos apaixonados, são, por vezes, gestos de amor. Porque há as filhas, há a mulher à qual estamos ligados há 16 anos (tenho 33, faz as contas), há os amigos, os amigos reais que outros não concebo, há situações e experiências da vida pessoal, particular e íntima, há um anjo que nos visita à noite e diz: vim só para saber como estavas, há tudo isso, meu caro, e tudo isso a gente mete num “poema”. Eu não ando nisto das escritas para ser escritor, homem. Eu ando nisto para viver, não ando para escrever livros e publicá-los, algo que acontecerá apenas se tiver de acontecer, não ando para aparecer nos jornais, não ando para ganhar prémios e ser reconhecido na rua, ando apenas pelos gestos, reforço a palavra gestos, de partilha e de ternura e de amor e de amizade e até de provocação, no bom sentido da provocação, que isto pode propiciar, ando pela vida e até não tenho tido azar. As coisas têm-me corrido bem. Por isso, não te preocupes comigo. E mais uma vez te digo, porque tu só queres perceber o que te interessa, que se me tenho dado ao trabalho de te responder não é porque te despreze, mesmo não sabendo quem és, embora, como certamente te convém, não vá fazer daquilo que dizes um exemplo para a vida.
AC, sim. O melhor seria mesmo que o leitor fosse escrevendo. Mas há leitores que de tão mal lerem parece que o melhor é mesmo não escreverem. Seria um desastre. :)))
Caro Companheiro Fialho,
Manda-o para o caralho...
Abraço
Com esse leão a olhar para mim não consigo. Grande abraço,
Lindo. Maria João, vai lá aqui: http://ligacoesperigosas.weblog.com.pt/arquivo/2008/06/index.html#419484 . :)
Lindo! :)
Maria João
torna-se evidente confirmar que a vida tem destas milícias.
Não te conheço, não tenho qualquer autoridade investida sobre mim. Limito-me a escrever sobre aquilo que considero relevante. É lamentável a forma como se prolongou esta discussão, fi-lo um pouco a contragosto. Mas nunca disse para te calares (?).
Se a minha crítica foi vaga, se foi mal fundamentada, porque te preocupas tanto com isso, porque te incomoda tanto ouvi-la? Sobretudo, custa-me ver tua falta de seriedade nestas coisas, porque não é só a tua. Mas faz como quiseres, que me interessa a mim um anónimo?
Importa acrescentar ainda isto: não estava a desculpar-me, apenas me esforçava por ser entendido. Insististe em tornar a coisa o mais pessoal possível, mas nunca foi pessoal para mim. Não te conheço mais do que tu a mim. Posso também dizer-te que nunca publiquei um livro, nem isso me preocupa. Mas tu, pelo que me dizes, tens livros publicados e achas que isso não te diz respeito, só porque há procura. É algo que nem merece comentários.
Aliás, pela minha parte dou aqui por terminada a discussão e não voltarei a comentar neste blog por muito tempo. Até sempre.
Saúde,
umleitorquevaiescrevendo disse...
Este é um blog que acho interessante. Mas para ser franco a arrogância recrudescente do teu discurso impressiona-me. Hitler é o menos. Deverias atentar na forma como dizes as coisas, deter-te mais tempo nelas antes de as dizeres. O meu conselho, mesmo que gratuito, é que repenses o processo criativo inerente à tua escrita. Porque te alimentas excessivamente da cultura, o que escreves parece sempre algo reciclado, já bastante mastigado... não por ser o mesmo, mas por derivar excessivamente daquilo que os outros fazem, daquilo que os outros produzem. Enfim, por parecer quase sempre uma reacção ao alheio, o que é uma falsa independência.
Mas eu tendo a pensar no crítico de arte como um parasita, o que talvez não seja totalmente justo.
12:56 AM
umleitorquevaiescrevendo disse...
Dirijo-me a ti na segunda pessoa, se não te importares. Penso que é mais sincera... Quer dizer, não me parece saudável uma tal derisão para contigo mesmo (para comigo não me importo), cheia de meias-verdades. Eu não queria ser impertinente, mas também não sou manso. Assim como a paixão não exclui a razão. Ora, há sempre um processo, mesmo que seja inconsciente. Por vezes temos de obrigar-nos a mudar de direcção. Como eu disse, acho este blog interessante e gosto de acompanhá-lo, mas não resisti a pronunciar-me (de resto, a minha influência é nula). Compreendo que o que torna este blog tão estimulante é o ritmo que nele se impõe: decerto se tornou já natural... Mas é um ritmo que eu imagino mais fabril do que febril, apaixonado.
Suponho que a questão é se de facto és um criador ou apenas um funcionário... pareces-me dividido. Não que definires-te seja fundamental... Mas a boa arte nasce quase invariavelmente de um grande esforço consciente, deves ter ao menos consciência disto. Para haver reflexão é preciso tempo (que nem sempre há, eu sei). E eu não investirei contra o crítico de arte, desde que ele saiba onde é que fica na cadeia alimentar.
3:58 AM
umleitorquevaiescrevendo disse...
Caro antologiadoesquecimento,
Olá. Não aponto exemplos da arrogância que me salta à vista porque se te mostrasse uma tromba de elefante decerto dirias tratar-se de uma cobra ou de um tapete enrolado. Se pretendesse ser a tua consciência tê-los-ia dado. Quanto ao facto de não te assumires como escritor, bem, isso confunde-me, porque me parece óbvio que és um escritor. Talvez se deva ao facto de achares que o livro é uma plataforma privilegiada em relação ao blog? Não deverias subvalorizar-te. E: de auto-complacência estamos nós todos fartos.
Escrever com o corpo parece-me bem, já o HH dizia algo parecido (não é uma acusação). A derisão foi mais engraçada desta vez, mas não posso subscrever o raciocínio subsequente, porque na vida não há só preto e branco.
Desculpa, não queria duvidar das tuas febres. Eu é que não tenho jeito para servir de enfermeira... É que, sim, sou crítico (em oposição a crítico de arte), por isso ando sempre à porrada, inclusive comigo mesmo. Será que isso me faz esquizofrénico? Espero que não.
No que respeita ao processo de que falei, vejo as coisas assim: as paixões geram impulsos que a razão orienta e regula para produzir arte. Quando falo em "esforço consciente" refiro-me à brutalidade que é preciso exercer sobre a matéria-prima que se está a trabalhar, que é muitas vezes o próprio autor. Pronto, penso que seja tudo.
Sei que já te pedi muitas coisas, mas pedia-te ainda que não levasses tão a peito as minhas considerações e que não me julgasses pelo meu staccato. Cumprimentos.
PS: Sou tímido.
7:07 PM
umleitorquevaiescrevendo disse...
Não há qualquer hipocrisia, a não ser talvez a tua. O que é que te dá direito a não ter ambições?
Como dizia um comentador, tu discorres sobre os mais variados assuntos, portanto deves achar-te na posse de algum talento, de algumas capacidades. Não te interessa produzir arte? Eis uma mentira descarada. Não te interessa é o esforço e a responsabilidade que isso acarreta.
Quem não se esforça por fazer melhor mas continua a fazer, faz aquilo que muitas vezes observo: apropria-se de certas ideias, de certas concepções e deforma-as, trivializa-as.
8:31 PM
umleitorquevai disse...
Gostei, apesar das segundas intenções. Não me sinto injustiçado, nem creio que esteja errado, mas talvez tenha sido um erro pronunciar-me. Sempre preferi o silêncio.
8:47 PM
umleitorque disse...
Calei-me antes de tempo? Então: critiquei alguns aspectos da tua escrita, não fui além disso. Pensei em dar algum feedback. Se se tratasse de mera tagarelice não me daria ao trabalho. Mas pode ser que eu não esteja apto a fazê-lo, não sei, não foi uma coisa premeditada. Acho mesquinho estar a destrinçar exemplos daquilo que te disse, nem sequer tenho algum concreto em mente, é tão-só uma impressão geral com que fiquei do teu tom e daquilo que escreves. Também a «apropriação» é algo que ocorre naturalmente, nem é censurável por si mesma. Muito do que fazemos fazêmo-lo sem pensar duas vezes e fazêmo-lo melhor assim, de forma automática. Simplesmente acho que se pode fazer mais... se não estiver demasiado calor.
12:50 AM
Anónimo disse...
Não te conheço, não tenho qualquer autoridade investida sobre mim. Limito-me a escrever sobre aquilo que considero relevante. É lamentável a forma como se prolongou esta discussão, fi-lo um pouco a contragosto. Mas nunca disse para te calares (?).
Se a minha crítica foi vaga, se foi mal fundamentada, porque te preocupas tanto com isso, porque te incomoda tanto ouvi-la? Sobretudo, custa-me ver tua falta de seriedade nestas coisas, porque não é só a tua. Mas faz como quiseres, que me interessa a mim um anónimo?
7:08 PM
Anónimo disse...
Importa acrescentar ainda isto: não estava a desculpar-me, apenas me esforçava por ser entendido. Insististe em tornar a coisa o mais pessoal possível, mas nunca foi pessoal para mim. Não te conheço mais do que tu a mim. Posso também dizer-te que nunca publiquei um livro, nem isso me preocupa. Mas tu, pelo que me dizes, tens livros publicados e achas que isso não te diz respeito, só porque há procura. É algo que nem merece comentários.
Aliás, pela minha parte dou aqui por terminada a discussão e não voltarei a comentar neste blog por muito tempo. Até sempre.
8:16 PM
RESPOSTA FINAL
Caro senhor, agradeço muito as suas preocupações e tê-las-ei em conta no futuro. Perdoe-me se me precipitei sobre as minhas próprias angústias, vi em si a luz de uma anjo que me acompanha e senti-me assustado. Peço-lhe que não me leve a mal, que me dê uma segunda oportunidade. Serei um bom homem, serei um escritor empenhado e um artista. Procurarei fazer da minha vida arte e da arte toda uma vida. Caro senhor, os meus pobres livros sempre me disseram muito respeito. Eu respeito muito os meus leitores, os meus pobres livros e quem os publicou. Senhor, eu só não queria aceitar perante o mundo as minhas fraquezas. Sou um homem honesto, não quero ser confundido com um artista. Fico contente por o meu caro senhor achar que eu sou algo relevante que lhe mereça a escrita, os comentários, pois você, caro senhor, ao só escrever sobre o que julga relevante escreveu sobre a minha escrita, mas também escreveu sobre mim. E o que disse sobre mim, senhor, o que disse é verdadeiro e por tal eu me penitencio. Perdoe-me senhor. Vá com a paz dos deuses, que eu ficarei para sempre em sua companhia. Meu anjo da guarda, minha companhia, procurarei ser melhor à luz da noite e à noite do dia. Esforçar-me-ei por não me apropriar das ideias dos outros, pelo menos tanto quanto os outros não se apropriem das minhas. E, sobretudo, caro senhor, não me apropriarei de ninguém, embora me julgue apropriado por si. Realmente, não tenho o direito de não ter ambições. Agradeço-lhe, caro senhor, do fundo do coração, a sua misericórdia e perante o mundo me confesso:
Sou escritor
Sou artista
Serei original
Serei um bom homem
Um homem ambicioso
Cumprirei a palavra do senhor
Uf!Chiça, penico, chapéu de côco!
MF
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