INÉDITOS DE JORGE AGUIAR OLIVEIRA #61
OBSESSIVO VERME
Babei-me como um bobby estérico
a dar ao rabo pelo ossinho, quando o vi
desfilar na passadeira rolante.
Decisão A: ir atrás de si. Decisão B:
esquecer a miragem e seguir o meu caminho.
Decisão C: (que fazer?).
Um dia depois, deu-me na boca tostas
com queijo fresco, doce de amoras caseiras
e o dedo a chupar. O tabuleiro em cima da cama
fez-me descansar um pouco da noite ardente.
Pus a tocar re-tratamento dos Da Weasel
e olhei-o todo espreguiçando-me. Coloquei
o tabuleiro no tapete e ele riu feiticeiro meu.
E a língua lá veio pela perna acima como
se fosse na passadeira rolante deslizando
em direcção aos meus tomates.
Pedi para parar de acariciar minha face
com saliva, pois preciso de veneno
bem mais eficaz para os dias que nascem
podres dentro de mim. Lambi enlouquecendo,
as feridas dentro de ti que ao espelho
do desespero, eram as minhas.
Já não havia brilho ou sopro para limpar
nos meus passos moribundos.
Podia trocar as cerejas pelas romãs,
a camisa por aquele livro com o selo
da tua garantia de ir gostar
(mesmo não confiando no teu gosto),
não podia trocar era dois dias da minha vida
por dez anos da tua. Além do mau negócio
como podia aceitar esse relógio pelo tempo
que dizias ter a mais para quem tem vermes
no sangue e irá levantar-se à pressa
a qualquer momento do jogo deixando
os adversários sem perderem nem ganharem?
Chamar-te verme era pouco, contra a tua
insistência, dando-me um beijo em troca
de outro. E eu guardei para mais tarde
a última festa em minha face,
para a lançar fora pela janela.
Atrevimento invejoso oferecer-me
a noite, sabendo que eu sei ir morrer
profundamente triste durante
a madrugada.
Jorge Aguiar Oliveira
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