21.6.08

TROVOADA

não temas a trovoada
o aconchego do relâmpago
senti-la aqui tão perto
é um regalo a poucos concedido

se a casa tremer
lembra-te que não é de medo
nem do frio das paredes

as casas só tremem
porque estão de pé
fundadas na terra que recebe
as ossadas dos relâmpagos
as trovoadas

não temas os mortos
nem o aconchego dos vivos
nem deixes morrer nos vivos
as trovoadas que fazem tremer
as casas

8 Comments:

At 12:08 da tarde, Blogger ana salomé said...

se fosse crítica de poesia declarava este poema obra-prima à escala mundial. :)

está assim para lá de bom: tem a respiração certa do relâmpago.

lembrou-me o começo de um soneto de 'tumulto' da helga moreira:

'Todos os dias a casa abre
no parágrafo matinal do mar'

isto porque o mar é também tempestade.

um bom dia.

 
At 1:35 da tarde, Blogger Jorge Melícias said...

Não sei se iria tão longe como a Ana Salomé mas é, sem dúvida, um poema muito bom.

 
At 9:56 da tarde, Blogger MJLF said...

Do melhor!
Maria João

 
At 2:19 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Também acho. A palavra "regalo" fez-me pensar num cata-vento.

 
At 11:17 da manhã, Blogger hmbf said...

A Salomé exagera. Ainda assim, entrego-lhe a minha cabeça numa bandeja.

O Melícias espanta-me.

A Etanol é do melhor.

O avulso cacareja.

Obrigado a todos.

 
At 5:59 da tarde, Anonymous Anónimo said...

isto é um clássico, qualquer dia andas na ginástica. very good indeeed.

Alcides

 
At 7:58 da tarde, Blogger Victor Oliveira Mateus said...

Gosto "do aconchego dos relâmpagos" (coisa cada vez mais ra
ra!) e gosto dessa ideia de alimen-
tar nos vivos as fortes trovoadas
Devia até haver um método qualquer para cultivar trovoadas nos países
onde os verdugos jogam xadrez com
a sua própria sombra. Conclusão: gosto muito destes poemas que insistem em "dizer"!

 
At 6:18 da tarde, Blogger hmbf said...

Eternamente agradecido ao Alcides e ao Victor O. M..

 

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