TROVOADA
não temas a trovoada
o aconchego do relâmpago
senti-la aqui tão perto
é um regalo a poucos concedido
se a casa tremer
lembra-te que não é de medo
nem do frio das paredes
as casas só tremem
porque estão de pé
fundadas na terra que recebe
as ossadas dos relâmpagos
as trovoadas
não temas os mortos
nem o aconchego dos vivos
nem deixes morrer nos vivos
as trovoadas que fazem tremer
as casas
8 Comments:
se fosse crítica de poesia declarava este poema obra-prima à escala mundial. :)
está assim para lá de bom: tem a respiração certa do relâmpago.
lembrou-me o começo de um soneto de 'tumulto' da helga moreira:
'Todos os dias a casa abre
no parágrafo matinal do mar'
isto porque o mar é também tempestade.
um bom dia.
Não sei se iria tão longe como a Ana Salomé mas é, sem dúvida, um poema muito bom.
Do melhor!
Maria João
Também acho. A palavra "regalo" fez-me pensar num cata-vento.
A Salomé exagera. Ainda assim, entrego-lhe a minha cabeça numa bandeja.
O Melícias espanta-me.
A Etanol é do melhor.
O avulso cacareja.
Obrigado a todos.
isto é um clássico, qualquer dia andas na ginástica. very good indeeed.
Alcides
Gosto "do aconchego dos relâmpagos" (coisa cada vez mais ra
ra!) e gosto dessa ideia de alimen-
tar nos vivos as fortes trovoadas
Devia até haver um método qualquer para cultivar trovoadas nos países
onde os verdugos jogam xadrez com
a sua própria sombra. Conclusão: gosto muito destes poemas que insistem em "dizer"!
Eternamente agradecido ao Alcides e ao Victor O. M..
Enviar um comentário
<< Home