AS PESSOAS FELIZES
As pessoas felizes às vezes
abanavam os braços de uma forma estranha.
(As pessoas não eram felizes às vezes.
Pensei ser estimulante a divisão do verso,
mas arrependi-me.)
Às vezes, repito, as pessoas felizes abanavam os braços
de uma forma estranha.
Eu era criança nessa altura, ou nessa noite
do concerto no Coliseu, e elas dançavam
às vezes, e eu não as entendia.
As pessoas felizes às vezes
pareciam ridículas no seu afastamento,
no seu terrível afastamento
de mim.
(Pergunto-me: para quê persistir na divisão
do verso?)
Filipa Leal nasceu no Porto em 1979. Licenciada em Jornalismo, fez o Mestrado em Estudos Portugueses e Brasileiros, com uma dissertação sobre os «Aspectos do cómico na poesia de Alexandre O’Neill, Adília Lopes e Jorge de Sousa Braga». Tem participado em vários recitais de poesia, fazendo parte do colectivo Caixa Geral de Despojos. Está representada em algumas antologias e colaborou com as revistas Egoísta e Mealibra. Publicou a ficção Lua-polaroid e os livros de poesia Talvez os Lírios Compreendam (2004), A Cidade Líquida e Outras Texturas (2006), O Problema de Ser Norte (2008).
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