23.9.05

DE ANTÓNIO PEDRO RIBEIRO

O poeta libertino passeia-se por braga

os pêlos do nariz entram na "brasileira"
e lêem eça de qúeiroz
as mamas discutem teatro
as mulheres bonitas são verdes
as sapatarias devoram virgens crucificadas

a trepar pelas arcadas
as mini-saias já não se passeiam pelo "astoria"
assassinado pela merda híbrida
viva a velha "brasileira" que se mantém no sítio!
e os empregados rabugentos
e os clientes petrificados a vê-las passar

escândalo!
aumenta a prostituição na cidade
a junta de freguesia de s.vítor e a polícia coligaram-se
para combater o flagelo
cambeses pertence a barcelos
as meninas perdem-se no mundo dos saldos
nas traseiras do hospital de s.marcos
marcos e zapata a conspirar
desfile de guerrilheiros na avenida da liberdade
nas barbas do papa e do arcebispo primaz
um doido para a mudança!
um doido sem vereadores
um doido que escreve á mesa da loucura
que se ridiculariza a si mesmo e ao mundo
que escuta a conversa dos anciãos
é bom morrer em braga!- diz o cartaz
talvez por isso eu esteja aqui
é bom morrer em braga-diz o cartaz
talvez por isso eu esteja aqui
a morrer e a renascer várias vezes
na "brasileira" à mesa dos papéis
e o blog que não bloga
e a empregada de mesa sorridente
e a clientela que envelhece
ando com falta de speed na tola
ao balcão os empregados conferenciam
sobre o tempo que faz e os tempos que passam
estou doido e não sirvo para o mundo!
estou doido e crio mundos
estou doido e assim quero ficar
morte ao mundo e aos seus criadores!
morte ao poeta e aos seus tumores!
ela comprou um jaguar-diz o ancião.
ela comprou um avião-diz o caviar.
ela perdeu o telemóvel e morreu ao terceiro dia
ela...
na minha cidade
parece um tanto ou quanto surrealista.

A. Pedro Ribeiro
Braga, "A Brasileira", 18.8.2005.

Rui Costa