18.11.05

MUSICOL 2# KHONNOR ("Handwriting")

O Khonnor (ou melhor, o Connor) é um rapaz de Vermont EUA que agora tem 18 anos e há um ano fez um disco que lhe trouxe sucesso internacional (não sei se passou em Portugal mas fez concertos em Espanha e noutros países). Tem a peculiaridade de fazer música sozinho, em casa e com equipamento muito pouco sofisticado: pouco mais, ao que parece, que um PC e software apropriado, para além de uma guitarra que às vezes utiliza e da própria voz, utilizada de forma comedida e por forma a não perturbar os pais que vivem (viviam) no piso de cima da casa. Experimenta bastante a panóplia de sons sintetizados (e os ritmos), que variam do sussurro minimalista ao tom quase-pop (raro) com acordes corridos às vezes sem grande ciência mas com ruído sempre a destoar o tom que por isso quase nunca é (e ainda bem) demasiado límpido.

"Handwriting" é exemplo dos caminhos que a música tem vindo a tomar: maior virtualização. Há muita tecnologia disponível e dispensa-se o domínio físico dos instrumentos no fabrico de música (ou alteram-se as formas desse domínio, numa tendência que permitiu, nas duas últimas décadas do século XX, que os DJs passassem de meros "seleccionadores" de música a compositores/artistas). Continua a ser preciso saber música, ou ter sensibilidade musical, mas o compositor passa a ter um papel menos orgânico, como se o conceito dispensasse o investimento de presença física (na verdade pode opor-se a isto que "tudo" continua a ser físico com a diferença que o "físico" de ontem já não é o "físico" de hoje, da mesma forma que o cubismo ou toda a pintura abstracta não deixaram de representar o real; e o que às vezes se chama "abstracto" é tão real como uma taça de frutas).

Não há campos isolados e vale a pena fazer analogias para perceber. A virtualização da pintura é a mesma (em termos fundamentais) da música ou da literatura ou da engenharia. O que o Khonnor faz com a música, fazem desenhadores com software de ilustração, BD, desenhos animados. Ou acham que é por acaso que cada vez é preciso martelar menos as teclas do computador para escrever (nas máquinas de escrever antigas a distância entre a superfície das teclas e o limite do seu movimento mecânico eram vários centímetros; daqui a algum tempo será zero, altura em que não será preciso tocar nas teclas para escrever)?

Entretanto o Khonnor mudou de casa e não levou os pais.

É ouvir, que tem o seu interesse.
Rui Costa