6.1.06

pAÍS País

Esta gente que agora se farta de dizer mal de Portugal e dos portugueses é a mesma que está no poder há décadas. Sejam políticos, jornalistas, comentadores, dirigentes disto e daquilo, empresários, o que for. São os que se dizem detentores da verdade, mas não a dizem. Talvez se queiram servir dela para outros proveitos. Sabem das notícias, mas não as dão. Têm medo de quê? Talvez de perder o conforto dos lugares que ocupam. Achincalham-se pelas costas, apertam-se peito a peito pela frente. Falam dos portugueses, falam muito dos portugueses e de Portugal, como se alguém lhes tivesse dado o dom de olhar lá do alto duma torre imensa para cá por baixo categorizarem. São bocas abertas de lugares comuns, ideias roubadas aos outros, pensam quase sempre pela cabeça dos outros, citando, referindo, comparando. Eles sabem tudo, eles têm soluções para tudo. Generalizam com o maior dos à-vontades, mas sempre com o cuidado de se colocarem fora das generalizações. Eles dizem mal de Portugal e dos portugueses? Eu prefiro dizer mal deles. Foram eles que organizaram a festa. A eles se deve a qualidade da banda. Querem agora ter um pezinho dentro e outro fora? À merda com eles! Foram eles que calaram, foram eles que pactuaram, foram eles que carregaram os sacos azuis da nossa miséria. Mas afinal quem faz as leis? O povo? E os políticos? O povo? Quem, ao longo destes anos, tem dado voz aos falsários e calado os competentes? O povo? Sempre e sempre o povo, malfadado povo. Deixem o povo em paz, porra! Mas qual povo qual carapau? O povo levanta-se às 6 da manhã para ir esfregar as latrinas dos centros comerciais. O povo não arranja as unhas. O povo mora atrás dos balcões com a corda ao pescoço. O povo é apenas a engrenagem do sistema que vocês, vocês que agora criticam, vocês que agora dizem mal, vocês que agora se angustiam, o povo é apenas a engrenagem do sistema que vocês operam. Deixem o povo em paz, caralho! O povo só quer ter o que comer, porque o povo sabe que a morte está ali no final da esquina à espreita. O povo quer ter filhos de barriga cheia. Que querem vocês? Que querem vocês do povo? Que o povo deixe de ser povo? O povo é cão, há-de ser sempre cão. O que varia é o dono.

6 Comments:

At 8:01 da manhã, Blogger Unknown said...

eu também digo mal dos portugueses, são eles que querem e constroem casas de merda, amontoam-se nos centros comerciais sem que os politicos os obriguem a sair de casa, são poucos os que lêem, poucos os que querem saber de alguma coisa de útil para o bem de todos, não é culpa dos politicos que os portugueses sejam mal educados ao volante, autênticos animais grosseiros, que mijam nas entradas dos prédios dos centros das cidades, cospem para o chão indescriminadamente. já D.Carlos dizia, este é um povo que me mete nojo. por fim, é óbvio que temos os politicos que merecemos, mas gosto do teu texto.

 
At 1:50 da tarde, Anonymous Anónimo said...

discordo em parte. os portugueses não são nada disso. é claro que há portugueses que são isso. mas também há espanhóis, franceses, ingleses, italianos, etc, que são isso tudo. se há muitos portugueses mal educados, isso deve-se ao facto de termos uma educação de merda. ninguém nasce bem educado, certo? se há portugueses corruptos, isso deve-se ao facto de termos uma justiça de merda. ninguém nasce incorruptível, certo? ora, quem organiza não é esse português a que as "elites" chamam povo. quem organiza, quem tem essa responsabilidade é, precisamente, essa massa de gente que se diz ser elite quando se coloca de fora do povo que critica. vê bem logo o primeiro exemplo: são os portugueses que querem e constroem casas de merda. mas por quê? posso dar-te um exemplo aqui da região. em s. martinho do porto havia uma marginal lindíssima com vivendas aristocráticas. essas vivendas eram das elites que, para fazerem uns trocos, as venderam indiscriminadamente a construtores sem escrúpulos que se puseram a construir prédios de 6 e 7 andares ao lado de outras poucas vivendas que foram resistindo ao longo dos tempos. de quem é a culpa disso? dos portugueses, claro. mas duvido que seja desses portugueses a que a «sociedade portuguesa culta» (repare-se bem no burguesismo da expressão, que é do boaventura sousa santos!!!) chama de povo.

 
At 5:18 da tarde, Blogger MJLF said...

A actual classe dirigente tem origem numa geração que cresceu a brincar às revoluções e à politica, tiveram passagens administrativas no liceu e nas universidades, corrompeu-se com tachos nos anos 80, gozaram de subsidios da CEE, tornaram-se boys das cores políticas mais convenientes. Os que são e continuaram a ser povo apenas forão e estão lixados. Aliás, o povo é quem se lixa sempre. E é dificil resistir e estar vivo no meio disto. Não vou a S. Martinho do Porto desde 1980, no ultimo ano que lá estive estavam a construir um prédio enorme em frente à casa da minha avó, que tinha uma bonita vista sobre a baía. Até tenho medo de lá voltar, se lá voltar sei que fico com uma boa recordação de infância destruída, não sei se quero ver.
Maria João

 
At 7:02 da tarde, Anonymous Anónimo said...

tens toda a razão, maria joão. os meus pais têm um apartamento num desses prédios. é bem provável que seja nesse que tu dizes. pisicna, praia... para uma classe burguesa que vive de tornar o mais confortável possível a vidinha de si e dos seus. eu não me conformo com isso, mas conformo-me ainda menos com aqueles que andaram a pregar o consumo como o reduto da nossa felicidade e agora, de barriga cheia, escarnecem de quem se limitou, como eles, a fazer pela vidinha. porque a verdade é esta: enquanto os meus pais só tinham a obrigação de conseguirem alguma coisa (porque não tinham nada), aqueles que depois de abril já tinham qualquer coisa tinham a obrigação, porque estavam no poder, de construir um país melhor. não. tal como os provincianos que agora criticam, essa gentalha limitou-se a lutar para acrescentar algo mais ao que já tinha.

 
At 8:42 da tarde, Blogger MJLF said...

O pessoal que esteve no poder nos anos 70 e que se fartaram de fazer disparates ainda tinham alguma inocencia, alguns ainda se moveram devido às ideologias - excepto as ratazanas ou ratas velhas, algumas ainda têm a lata de dar a cara bem gasta na politica, como o Mário Soares, que consegue enojar-me ainda mais que o Cavaco. O Cavaco é seco como os costados da Regisconta, é um dos responsáveis pelo capitalismo selvático em que vivemos, começou a carreira como ministro das finanças - tal como António de Oliveira Salazar, são dois homens de calculos - desejo profundamente que Cavaco caia da cadeira, tal como Salazar caiu ,a queda foi o momento mais feliz do homem de Santa Comba Dão. Os actuais politicos não têm inocencia nenhuma, não se movem por ideologia, têm cara de pau e lata para tudo, fazem o que podem e não devem por si mesmos. E os que surgiram com boas intenções, como o Guterres,por exemplo, ou se pisgam num instante ou são lixados num pela massa corrupta que os rodeia. Quanto ao povo, está cada dia mais passivo, vive uma espécie de morte lenta e reage da pior maneira, o Portugal audiovisual impera nos novos tempos. Os livros estão cada dia mais caros, porque não convem nada que se leia, a cultura é um luxo, não convem parar para pensar, a educação é o que se vê, é para comprar, não é para todos. Os centro comerciais estão aí para passificar as pessoas, com as suas luzes e música ambiente assim como a publicidade audovisual no metro, as televisões nos lares e cafés, o futebol com os seus estádios grandiosos, está tudo montado para não se pensar. Quanto às estradas comtemporaneas portuguesas, uma verdadeira arena sangrenta, reflectem o estado selvático em que o pais se encontra, cometem-se crimes continuos, talvez por impotencia, por estupidez, por falta de fé em tudo, por frutações,acidentes e suicidios continuos em massa. O império comtemporaneo é assim: dêm pão e circo ao povo e tudo fica bem, como em Roma, dêm futebol, centros comerciais e televisão e assim se pacifica um povo aparentemente feliz, vivendo a crédito, não se movendo devido às dividas que tem com os bancos. No entanto, existe sempre umas ovelhas negras, mas o sistema está montado prevendo isso, absorve mais tarde ou mais cedo as ovelhinhas, encarneirando-as por algum lado.
Maria João

 
At 1:38 da manhã, Blogger Unknown said...

é claro que as pessoas não nascem educadas, mas também não nascem mal-educadas. a grande cultura de um povo gera-se da relação entre ele. parece-me claro que a formação no tempo dos nossos avós era menor que a de hoje, portugal em 1910 tinha 80% da sua população analfabeta, já na altura a maior da europa, no entanto eramos um país brando, de bons costumes, reparem como ainda hoje somos recebidos nas aldeias recondidas de trás-os-montes, bem, muito bem, demasiadamente bem até. não gosto dos politicos que temos, metem-me asco, mas a culpa não é toda dos mesmos.

 

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