27.2.06

FIAMA

Fiama
Primeiro e outro poema de Cenas Vivas, ritual re-antigo. Início a luz, depois as sombras, corpo movente. Fiama vem da sombra e abre a porta ao sol, são os roçadores que entram, mondavam cerce o restolho entre árvores próximas. São eles que pedem água à sua imagem-sombra, a sua imagem-dentro. Não sabem que o pedido torna a realidade mais real - as pupilas dilatam-se - e ao fim da tarde deixam na soleira os frutos da estação: uvas e figos. As suas sombras reconciliam os riscos de luz que antes cortavam as paredes.

Fiama ama-os mais agora: a pouca água dada quebrara o enigma das imagens, a porta imaginada é verdadeira. Existo, tenho-te sede, ainda o centro da Terra continua lá. O meu olhar é táctil e agora as coisas têm a forma que “lhes dá a mão, usando-as”.

Todo o leitor ama que pede coisas ao poema, a Fiama.


Rui Costa