Neva em Ushuaia
Neva em Ushuaia por alguns instantes. São os primeiros
sinais do Outono, vindos de El Martial ao fim da tarde.
Os poetas locais compõem os versos adequados à
circunstância
- o Diário del fin del Mundo publicará depois sonetos, odes,
vilancetes e até uma milonga irregular sobre a brancura
que emudece diante do canal. Para isso serve a poesia,
que é mais útil nas pequenas cidades: ilustra os museus,
os jardins,
estátuas de almirantes, exploradores, viajantes da Antártida,
almocreves heróicos que atravessaram o estreito de Magalhães
para chegarem a Ushuaia. Neva em Ushuaia e comovo-me
nas ruas molhadas diante das livrarias e das lojas de tabacos,
e digo o nome dos meus filhos, Maria, Manuel, Francisco,
subo as escadarias, vejo a neve diante dos museus, das portas,
vejo os caminhantes que se abrigam nos cafés e olham
com surpresa a primeira neve do Outono. Mudo os meus versos
e empobreço-os, tocados pela primeira neve, a primeira neve
do Outono que cai sobre o fim do mundo, cai sobre a baía,
cai sobre o glaciar, cai sobre a mudez mais fria da pedra,
sobre as montanhas escuras, e nada resta do primeiro verso,
nada fica da primeira palavra, como uma ventania do sul.
sinais do Outono, vindos de El Martial ao fim da tarde.
Os poetas locais compõem os versos adequados à
circunstância
- o Diário del fin del Mundo publicará depois sonetos, odes,
vilancetes e até uma milonga irregular sobre a brancura
que emudece diante do canal. Para isso serve a poesia,
que é mais útil nas pequenas cidades: ilustra os museus,
os jardins,
estátuas de almirantes, exploradores, viajantes da Antártida,
almocreves heróicos que atravessaram o estreito de Magalhães
para chegarem a Ushuaia. Neva em Ushuaia e comovo-me
nas ruas molhadas diante das livrarias e das lojas de tabacos,
e digo o nome dos meus filhos, Maria, Manuel, Francisco,
subo as escadarias, vejo a neve diante dos museus, das portas,
vejo os caminhantes que se abrigam nos cafés e olham
com surpresa a primeira neve do Outono. Mudo os meus versos
e empobreço-os, tocados pela primeira neve, a primeira neve
do Outono que cai sobre o fim do mundo, cai sobre a baía,
cai sobre o glaciar, cai sobre a mudez mais fria da pedra,
sobre as montanhas escuras, e nada resta do primeiro verso,
nada fica da primeira palavra, como uma ventania do sul.
Francisco José Viegas nasceu a 14 de Março de 1962 em Vila Nova de Foz Côa. Foi professor universitário e jornalista (nomeadamente director das revistas LER e Grande Reportagem). Actualmente é escritor e colaborador freelancer de vários jornais e revistas (entre os quais, Jornal de Notícias; Elle; LER; Grande Reportagem; Volta ao Mundo), trabalhando também para a rádio (Antena 1) e para a televisão (RTP, onde mantém o programa Livro Aberto, depois de ter sido autor e apresentador de Escrita em Dia, Ler para Crer, Primeira Página, Avenida Brasil, Prazeres ou Um Café no Majestic). É autor de diversos livros de poesia, de livros de viagem e de romances. Escreve no weblog A Origem das Espécies.
5 Comments:
E passou há pouco a director da Casa Fernando Pessoa, o que costumava ser cargo de influências políticas e jornalísticas.
Coitado do Pessoa! Ele, que em vida, só foi nomeado para uma miserável mensão honrosa, à conta da "Mensagem"...
Mensão? Queres dizer que a coisa era mensal, ó pica-pau?
Ó pá, BINGO! Passaram-me "mensalões" pela mona...Não do Nando do Orpheu, claro!!
pica-pau
Tenho, aqui, um livro do Viegas
comprado em São Paulo, Br.,
As Imagens, editado por
Caminho Da Poesia, s/d, mas,
creio, de 198&tanto.
ò meu, isto foi só um erro de tecla, que saiu abrupto e à laia de acto falhado, que deu para associações livres e humorísticas. Só raramente revejo os meus comentários, sobretudo se são curtos. E, às vezes, acontece disto.
Se é certo que nas chamadas "gestões culturais" tugas, estão sempre uns vips de Famílias, não só biológicas, absurdamente tacanhos e "Tás a ver", até nem parece ser o caso actual, pois esforço e competência (e acesso) a difusões culturais, não lhe faltam. Hoje estou co'a fé.
pica-pau
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