Fragmento # 32 - Sonhos
Sonhei que tinha a primeira lição de piano em adulta. Aprendia a fazer escalas nas teclas brancas com os dedos nas posições correctas, mas as teclas eram livros, por vezes muito finos. Os meus dedos eram mais largos que as lombadas destes e assim não podia tocar. Tentei com as unhas mas elas estavam cortadas. Os sons seriam mais fortes se aproximasse os dedos das teclas pretas, lá intactas entre os livros. Depois discutia numa aula de filosofia da educação porque é que a estética pode tornar os seres humano melhores. O professor estava apenas preocupado com o papel dos artistas na sociedade, um frustado, ele defendia que a liberdade do génio deveria ser controlada, devido aos artistas serem uns ditadores, porque bela é a natureza e lúdica excessiva já de si: campos primaveris cheios de flores. O professor defendia a contemplação da natureza, porque a filosofia terminava com a arte. Dava cabo de tudo. Eu respondia-lhe que não tinha culpa da sua infância ser tão horrível e que a natureza nos dá tudo, mas também nos tira tudo: a doença e a dor não têm nada de belo e fazem parte da natureza; que era a razão e não a filosofia que terminava com alguma coisa, a objectiva filosofia da razão. Depois tinha de fugir como uma criminosa, deambulava furiosa pelas ruas de Évora, circulando por fim em torno das muralhas a alta velocidade. A polícia perseguia-me, mas eu estava livre, sentia o vento no meu rosto com prazer. Do que estaria eu a fugir?
Maria João
Maria João
3 Comments:
interessantes as visões que expões...
realmente... não haveria porque fugir... tenho quase a certeza que depois dessa pergunta abrandaste o passo...;)
é verdade. Um abraço
Maria João
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