Georg-Christoph Lichtenberg
No Ad Loca Infecta, José Miguel Silva recupera alguns aforismos de Georg-Christoph Lichtenberg. Nascido em 1742 na Alemanha, Lichtenberg era ateu militante. No entanto, possuía as suas contradições. Considerava o cristianismo «o sistema mais perfeito para favorecer a paz» e rezava fervorosamente nas horas de desespero. «Homem das «luzes», adversário determinado do movimento de Sturm und Drang (de assalto e tumulto) que então domina a literatura alemã, é também, surpreendentemente, o mais entusiasta admirador de Jean-Paul» - assim o apresenta Breton na Antologia do Humor Negro (Edições Afrodite). Os seus aforismos fizeram escola, a ponto de terem sido considerados por Nietzsche um «tesouro da prosa alemã». Deixo alguns, em versão portuguesa de Ernesto Sampaio:
O que levou aquele homem até onde está não foi a força do seu espírito: foi a do vento.
O homem gosta da sociedade, quanto mais não seja a de uma candeia acesa.
Aquele homem era tão inteligente que já não servia para nada.
Vivam as pessoas que têm os nervos grossos como cabos!
Maravilhava-se de ver que os gatos tinham a pele furada em dois sítios, precisamente no lugar dos olhos.
Se mandarem pintar um alvo na porta do vosso jardim podem ter a certeza que lhe hão-de atirar.
Tinha posto nomes às suas duas pantufas.
Lembro-me de ter pensado isto há muito tempo: a filosofia acabará por se devorar a si própria. A metafísica já o fez em parte.
Ele era daqueles que querem sempre fazer mais e melhor, mesmo quando não lho pedem. Essa qualidade, num criado, é abominável.
O grau mais elevado a que pode guindar-se um espírito medíocre, mas experiente, é até ao talento de descobrir as fraquezas dos homens que valem mais do que ele.
Hoje, quando toda a gente escreve para crianças, seria boa ideia fazer, ao menos uma vez, um livro escrito por crianças para as pessoas crescidas. Mas a querer tomá-la à letra a coisa é difícil.
O que levou aquele homem até onde está não foi a força do seu espírito: foi a do vento.
O homem gosta da sociedade, quanto mais não seja a de uma candeia acesa.
Aquele homem era tão inteligente que já não servia para nada.
Vivam as pessoas que têm os nervos grossos como cabos!
Maravilhava-se de ver que os gatos tinham a pele furada em dois sítios, precisamente no lugar dos olhos.
Se mandarem pintar um alvo na porta do vosso jardim podem ter a certeza que lhe hão-de atirar.
Tinha posto nomes às suas duas pantufas.
Lembro-me de ter pensado isto há muito tempo: a filosofia acabará por se devorar a si própria. A metafísica já o fez em parte.
Ele era daqueles que querem sempre fazer mais e melhor, mesmo quando não lho pedem. Essa qualidade, num criado, é abominável.
O grau mais elevado a que pode guindar-se um espírito medíocre, mas experiente, é até ao talento de descobrir as fraquezas dos homens que valem mais do que ele.
Hoje, quando toda a gente escreve para crianças, seria boa ideia fazer, ao menos uma vez, um livro escrito por crianças para as pessoas crescidas. Mas a querer tomá-la à letra a coisa é difícil.
Adenda: Já agora, num outro cumprimento de onda, revejam também alguns aforismos do nosso Albino Forjaz de Sampaio.
1 Comments:
Referindo-me ao Sturm und Drang como movimento literário estético germânico bastante curto e datado (entre 1770 e 1790), queria acrescentar que gosto muito deste movimento- ao contrário do Lichtenberg, pelos vistos. O Sturm und Drang (à letra, tempestade e impulsividade) assumia uma voz diferente na época das Luzes e preconizava o Romantismo, que só se implantaria na 1ª metade do séc. XIX. A tradição dos aforismos remonta aos livros de receitas e prescrições médicas, e pela sua síntese e assertividade podem (e devem) ser muito eficazes na prescrição e na acção. A vossa Agustina Bessa-Luís também escreveu um Livro de Aforismos, bem à sua maneira.
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