Onde está o filósofo?
Nunca, como hoje, a filosofia esteve tão separada do poder político e, consecutivamente, da chamada sociedade civil - a menos que entendamos por filosofia alguma opinião especulativa que, servindo-se dos meios de comunicação disponíveis, vai influenciando o pouco que lhe é concedido influenciar. Suponho que o mesmo não possa afirmar da religião. Ao passo que a influência do espírito crítico, do pensamento, das ideias, da ideologia, foi fraquejando na actividade política, a religião tem vindo a acolher, progressivamente, a simpatia mais ou menos interesseira dos homens do estado. Tal realidade pode facilmente ser comprovada, por exemplo, na promiscuidade entre os domínios político e religioso latente no discurso de alguns dos mais influentes chefes de estado internacionais. Podemos perguntar-nos sobre as razões que justificam esta tendência nas hierarquias do poder. Creio que os filósofos mergulharam profunda e irreversivelmente num labirinto de irresoluções teóricas e indefinições de pormenor, apartando-se, mesmo quando tentam o inverso, das verdadeiras causas quotidianas. A linguagem filosófica cresceu demasiado alto, para que agora consiga, lá do cimo dos seus desígnios, ver com distinção necessária os problemas da realidade. Dito de outra forma, consubstanciou-se na tendência abstraccionista dos filósofos aquela ideia de que a filosofia é a arte pela qual e sem a qual nós ficamos tal e qual. Ao contrário, as religiões têm vindo, muito sábia e cinicamente, a revisar o seu discurso, aproximando-o das pessoas, das suas ânsias, dos seus medos, dos seus problemas, fazendo-se constituir como uma ponte no diálogo entre o poder e as bases do poder. Em suma, o que a filosofia precisa neste momento é de uns tantos padres Borga das ideias espalhados por programas tais como a Praça da Alegria, Fátima, Você na TV!, Portugal no Coração, Contacto, etc…
2 Comments:
os blogues também têm a sua religião.
fep
Como assim, fep?
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