BALADA
(EM MEMÓRIA DE UM POETA SUICIDA)
Não conseguiu firmar o nobre pacto
Entre o cosmos sangrento e a alma pura.
Porém, não se dobrou perante o facto
Da vitória do caos sobre a vontade
Augusta de ordenar a criatura
Ao menos: luz ao sul da tempestade.
Gladiador defunto mas intacto
(tanta violência, mas tanta ternura)
Jogou-se contra um mar de sofrimentos
Não para pôr-lhes fim, Hamlet, e sim
Para afirmar-se além de seus tormentos
De monstros cegos contra um só delfim,
Frágil porém vidente, morto ao som
De vagas de verdade e de loucura.
Bateu-se delicado e fino, com
Tanta violência, mas tanta ternura!
Cruel foi teu triunfo, torpe mar.
Celebrara-te tanto, te adorava
Do fundo atroz à superfície, altar
De seus deuses solares – tanto amava
Teu dorso cavalgado de tortura!
Com que fervor enfim te penetrou
No mergulho fatal com que mostrou
Tanta violência, mas tanta ternura!
Envoi
Senhor, que perdão tem o meu amigo
Por tão clara aventura, mas tão dura?
Não estás mais comigo. Nem conTigo:
Tanta violência. Mas tanta ternura.
Não conseguiu firmar o nobre pacto
Entre o cosmos sangrento e a alma pura.
Porém, não se dobrou perante o facto
Da vitória do caos sobre a vontade
Augusta de ordenar a criatura
Ao menos: luz ao sul da tempestade.
Gladiador defunto mas intacto
(tanta violência, mas tanta ternura)
Jogou-se contra um mar de sofrimentos
Não para pôr-lhes fim, Hamlet, e sim
Para afirmar-se além de seus tormentos
De monstros cegos contra um só delfim,
Frágil porém vidente, morto ao som
De vagas de verdade e de loucura.
Bateu-se delicado e fino, com
Tanta violência, mas tanta ternura!
Cruel foi teu triunfo, torpe mar.
Celebrara-te tanto, te adorava
Do fundo atroz à superfície, altar
De seus deuses solares – tanto amava
Teu dorso cavalgado de tortura!
Com que fervor enfim te penetrou
No mergulho fatal com que mostrou
Tanta violência, mas tanta ternura!
Envoi
Senhor, que perdão tem o meu amigo
Por tão clara aventura, mas tão dura?
Não estás mais comigo. Nem conTigo:
Tanta violência. Mas tanta ternura.
Mário Faustino nasceu em Teresina, Piauí, a 22 de Outubro de 1930. Estudou Direito em Belém do Pará, entre 1949 e 1951, mas não chegou a concluir o curso. Trabalhou como redactor de vários jornais, criou e dirigiu a página "Poesia-Experiência" no Suplemento Literário do Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro, exerceu vários cargos públicos. Em 1955 publicou O Homem e Sua Hora, seu único livro de poesia em vida. Faleceu em 1962, num acidente de aviação, durante uma viagem a caminho da cidade do México. »
2 Comments:
POETA MAIOR DO BRASIL, FAUSTINO TEVE OS PRIMEIROS VERSOS DE BALADA UTILIZADOS POR GLAUBER ROCHA NA ABERTURA DE TERRA EM TRANSE. LINDA HOMENAGEM
Só aqui conheci a poesia inteira. Cheguei no Faustino via Glauber.Abraço.
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