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A caça foi vista por muitas culturas como uma forma de união sexual. Veja-se o caso dos índios Mandanes, da América do Norte, que acreditavam que
«a sociedade humana descendia de uma transferência de poder provocada pela união sexual de um bisonte e de uma mulher». A caça era assim comparada a um ritual de sedução, namoro ou casamento. Para os maias, os macacos eram símbolos da excitação sexual, sendo frequente a ideia de que os espíritos animais se transformavam em íncubos ou súcubos para copularem com os seres humanos a fim de lhes roubarem a energia vital. Os Desanas, suponho que da Amazónia Colombiana, têm (tinham?) um período de abstinência sexual antes de uma caçada.
«O verbo que no dialecto deste povo significa caçar
traduz-se por fazer amor com os animais
», sendo a penetração das lanças na carne do animal comparadas à penetração sexual. Nas sociedades ocidentais contemporâneas tudo é muito mais simples, os animais são reproduzidos industrialmente, encaminhados para obscuros matadouros onde serão abatidos, cortados às fatias e expostos em higiénicas arcas frigoríficas. Longe da vista do consumidor, para não chocar as suas emoções e, desse modo, simplificar a perspectiva que temos do mundo na base de uma racionalização que prefere simulacros de objectividade à subjectividade dessa poesia que dava forma ao mundo dos povos primitivos.
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