7.11.06

VENDO A MORTE

Em tudo vejo a morte! E, assim, ao ver
Que a vida já vem morta cruelmente
Logo ao surgir, começo a compreender
Como a vida se vive inutilmente…

Debalde (como um náufrago que sente,
Vendo a morte, mais fúria de viver)
Estendo os olhos mais avidamente
E as mãos pra a vida… e ponho-me a morrer.

A morte! sempre a morte! em tudo a vejo,
Tudo ma lembra! E invade-me o desejo
De viver toda a vida que perdi…

E não me assusta a morte! Só me assusta
Ter tido tanta fé na vida injusta
…E não saber sequer pra que a vivi!

Manuel Laranjeira
Manuel Laranjeira nasceu na Vergada, em São Martinho de Mozelos, concelho de Santa Maria da Feira, no dia 17 de Agosto de 1877. Dedica-se desde novo à poesia e ao teatro, colaborando em diversas publicações periódicas. Em 1898, fixa residência em Espinho e matricula-se na Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Em 1904 conclui o curso de Medicina, não sem que a sua inquietação o leve a permanentes polémicas com o corpo docente. Em 1908 conhece Miguel de Unamuno, trocando com ele correspondência. É vasta a correspondência de Manuel Laranjeira. No entanto, ainda novo, sentindo os efeitos da doença (uma sífilis nervosa), foi sujeito a crises depressivas. Esta disposição acentua-se progressivamente, e as crises de depressão agravam-se. No final da tarde do dia 22 de Fevereiro de 1912, estando já acamado, deprimido e desesperado com a doença, suicida-se com um tiro na cabeça. »

2 Comments:

At 4:27 da tarde, Blogger Dinamene said...

É de ler, absolutamente, «A Doença da Santidade - Ensaio psico-patológico sobre o misticismo de forma religiosa», com prefácio da Maria Belo. Uma delícia.
Abraços

 
At 12:25 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Nunca li.
Vou procurar.
Saúde,

 

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