5.2.07

POESIA, A NOVA MODA



A poesia chegou às passerelles. Adeus roupa carros casa, agora é teu o brilho e o glamour. Ela tem isso e muito mais. O facto de não vender o mostra. Não vender é a coisa mais glamourosa que existe. Belmiro vende, Amorim também. São parolos novos-ricos e aos pobres tudo se perdoa. A poesia vende sem vender, não há arte como esta. A tua amiga é rizomática? Escreve, ainda vais a tempo. Ou então morre para sempre a tua revolução caladinho. Não digas assim, ela é pós-rizomática e tem os dentes tão certinhos e tu não sabes de cristais tarot e tens o ser descentrado.

ENTREPRENEUR- José Miguel Silva (JMS)*, você tem talento amigo [este entrepreneur está desactualizado, não sabe que soa mal esta palavra, perdoemos-lhe por ora], tem que o pôr a render.

JMS – Render ? Vá bardamerda.

ENTREPRENEUR – Lindo, lindo. Você tem tudo, homem [este entrepreneur, enfim…]… Esse tom directo, a ironia, ah! um casino com o seu nome e era coqueluche nacional, néon holográfico, cristais, tarot turbilhonante-xénon…[o entrepreneur com o sonho a brilhar nos olhos; onde um pessimista diria aflorar ainda a réstia de uma dúvida]

JMS (para os seus botões) – “Sê cruel contigo, brando com os outros”…

ENTREPRENEUR – Poesia é chic, meu poeta, e você vai ganhar, acabo de comprar o casino e já fiz umas alteraçõezitas, abrimos já o maior Casino Poético da Galáxia, cartas com poemas, roleta russa com os melhores poetas nacionais, palestras-jacuzzi com os premiados dos últimos cinco anos, ou dos próximos cinco, o mulherio doido e o dinheiro a rolar, ah o sonho, o sonho da poesia…[esta última parte não saiu da boca do entrepreneur com o efeito desejado; abre um pouco mais os braços a recuperar efeito]

JMS – Vou-me embora. Trate-se.

ENTREPRENEUR – Caro amigo, dê cá um abraço, adiantei-me por causa do olho pró negócio, veja, veja…

A luz incide. 520 holofotes espalhados no espaço revelam o colosso, encimado por um caleidoscópio de letras a quatro dimensões anunciando ao mundo: “Casino Poético JMS “ e, um pouco mais abaixo, Enter the dream! ,

Como num filme mau.



*JMS é um dos dez finalistas do prémio Correntes d’escrita do Casino da Póvoa e merece ganhar.

Rui Costa

9 Comments:

At 4:29 da tarde, Blogger Filipe Guerra said...

Dantes chamavam-se jogos florais, e eram as câmaras, as paróquias, os liceus e os bombeiros que os promoviam, agora chamam-se concursos ou mesmo Contest, têm o seu lugar nos casinos e mesmo na banca. Oxalá os poetas ganhem alguma coisa, a sorte toca a todos, há mesmo alguns que fazem a sua linha no bingo e até no euromilhões que por acaso dá boas rimas.

 
At 6:49 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Espero que não o dêem ao Gusmão, mas com um júri universitarão daqueles é o mais provável. Se houver um deus da poesia, o armando silva carvalho há-de ganhar

 
At 3:13 da manhã, Anonymous Anónimo said...

de moda em moda, antes as putas e o rock n' roll.

 
At 12:32 da tarde, Anonymous Anónimo said...

"Movimentos No Escuro" merece qualquer prémio literário atribuído neste país, ponto final. Mesmo sendo absolutamente patética a "lógica" que preside a esses prémios, e, sobretudo, a forma indigna como os júris são constituídos, com as mesmíssimas figuras a transitarem constantemente de uns prémios para outros, muitas vezes premiando-se mutuamente, numa espécie de troca de favores (aliás, de valores pecuniários) à vista de todos. Felizmente que nos últimos tempos, talvez para dar descanso ao ignóbil esquema e deixar assentar a poeira, se vai fazendo algum jogo limpo: A. M. Pires Cabral, premiado com o D. Dinis, Eduarda Chiote com o Teixeira de Pascoaes e, espero sinceramente, José Miguel Silva premiado este ano.

 
At 2:44 da tarde, Blogger JMS said...

Não tenho nada contra prémios literários e teria todo o gosto (e toda a necessidade, já agora) dos 20 000 € que os do Casino da Póvoa prometem ao seu vencedor. Mas ainda não desci moralmente o bastante para poder aceitar sem vergonha dinheiro de um casino: seria o mesmo que aceitar patrocínios de um traficante de heroina ou de um banco ou de partido político. Viesse o prémio de uma empresa idónea e inócua, como uma padaria, uma vidraria, uma fábrica de móveis, não diria que não. Mas de quem factura com a miséria dos outros, nem pensar. Claro que as hipóteses de eles me escolherem são muitissimo remotas; mas, pelo sim pelo não, já lhes comuniquei a minha total indisponibilidade para receber deles seja o que for. Não se pode facilitar.

 
At 3:25 da tarde, Anonymous Anónimo said...

uma atitude louvável do poeta! Nós continuamos a preferir as putas e o rock n´roll, especialmente em alternativa a Casinos e aos estalinistas da Câmara da Póvoa. Rola roleta.

 
At 5:56 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Caramba, ainda há gente com ética neste nosso Portugal. Com ética aplicada, pelos vistos, e não só apregoada (ou, já agora, "subsidiária das necessidades"). Nem tudo está perdido, portanto. Amén.

 
At 12:42 da tarde, Blogger MJLF said...

à men, o jms sabe como se dá uma chapada com luva de pelicula! coisa rara, a sua actitude.
Maria João

 
At 5:08 da tarde, Anonymous Anónimo said...

saúde e eles no sítio,

Rui Costa

 

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