AUSÊNCIA
Nas horas do poente,
Os bronzes sonolentos,
- Pastores das ascéticas planuras –
Lançam este pregão ao soluçar dos ventos,
À nuvem erradia,
Às penhas duras:
- Que é dele, o eterno Ausente,
Cantor da nossa vã melancolia?
Nas tardes duma luz de íntimo fogo,
Rescendentes de tudo o que passou,
Eu próprio me interrogo:
- Onde estou? onde estou?
E procuro nas sombras enganosas
Os fumos do meu sonho derradeiro!
- Ventos, que novas me trazeis das rosas
Que acendiam clarões no meu jardim?
- Pastores, que é do vosso companheiro?
Saudades minhas, que sabeis de mim?
Mário Beirão nasceu na cidade de Beja, a 1 de Maio de 1890. Em Beja passou a sua mocidade, frequentando o Liceu. Foi depois para Lisboa, onde se formou em Direito. Colaborador da Águia, escreveu em muitas outras publicações literárias. Estreou-se como poeta com O Último Lusíada, publicado em 1913. Com Novas Estrelas obteve o prémio de Ricardo Malheiros, da Academia das Ciências de Lisboa. A sua obra literária, iniciando-se no Saudosismo e terminando numa corrente acentuadamente nacionalista e conservadora, apresenta, em geral, algumas importantes características da poesia portuguesa posterior: um propósito de concisa epopeia; uma obsessão telúrica; um sentido de reivindicação social. Morreu em 1965. »
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