9.3.07

Horses wanna dance but find their wings are damaged


Se pudesse escolher uma profissão, escolhia a de DJ. Queria ser um daqueles DJs parvos que passam música como se estivessem a dar um concerto, olhar, no alto de uma cabine, as pessoas a dançar, os corpos aos saltos, abanando-se ao ritmo dos decibéis, empurrados pelos poderosíssimos músculos das aparelhagens. Sonho com jovens adolescentes de salto alto e saias curtas, rasgados decotes até ao umbigo, sacudindo as ancas em cima de colunas de ferro, festas da espuma, balcões tingidos de álcool. Cabeleiras soltas, agitadas pelo bafo das colunas, a arfar de movimento. Gostava de possuir o dom dos instantes, de engatar sorrisos e improvisar posições com a velocidade da luz, abanar a cabeça como um coração trepidante e, numa emergência de festa, lançar sobre os corpos à minha volta a luz e a magia do deleite. Há num corpo que dança a sensualidade que escapa a todas as palavras, a todas as imagens, a todas as transfigurações. Se ao menos fosse possível escrever como quem dança, ou como quem oferece uma dança, ou como quem dispara a música por entre os corpos que dançam… Mas já nada disso é possível, chegámos tarde à pista. A única música das palavras é a do silêncio e só sabe dançar o silêncio quem não escuta a percussão da carne. Poucos, tão poucos, que cabem todos na pasta de um daqueles DJs parvos que passam música como se estivessem a dar um concerto.

4 Comments:

At 9:35 da tarde, Anonymous Anónimo said...

som excelente! O texto também.

 
At 9:47 da tarde, Blogger MJLF said...

Os DJ são uma especie de maestros!
Maria João

 
At 7:16 da tarde, Blogger cj said...

"Há num corpo que dança a sensualidade que escapa a todas as palavras(...)"
Certo.
A dança no silêncio - fundamental - pode-se tornar perigosa, não se complementando com a percussão da carne.
Ou, pelo menos, monótona.

 
At 10:16 da tarde, Blogger Oásis said...

Se ao menos eu escrevesse como danço...
Se não te apetecer ir dançar hoje, vai ao meu blog ( hoje o acesso é livre).
Bjs

 

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