5.6.07

ARGUMENTOS E COMPARAÇÕES

Não vou regressar a este assunto, mas não posso deixar de me manifestar contra este tipo de campanhas. Não é a campanha em si que me choca. Eu gosto muito de campanhas. O que me choca é o vídeo da campanha. Comparar um apedrejamento de uma mulher com o que se passa numa tourada é, no mínimo, imbecil. Toda a gente sabe que a carne de touro é péssima de ser comida.

13 Comments:

At 11:37 da tarde, Blogger MJLF said...

Henrique, olha que em barrancos não é assim, matam os touros e comem bifes do próprio duante a festa.
Maria João

 
At 11:45 da tarde, Anonymous Anónimo said...

sempre é cá de um mau gosto.
se queriam escolher uma coisa extremamente violenta e que também não tem nada a ver com a nossa cultura podiam ter escolhido, sei lá, a mutilação genital feminina.
Aurora

 
At 12:53 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Maria João, eu de touro só provei mesmo testículos. E foi em Espanha. :)

Aurora, também não acho que esse seja um bom exemplo. Mas agora, desculpa-me, não quero entrar por aí. Ainda assim vou só dizendo o seguinte: quando não se têm argumentos suficientemente fortes a favor de uma causa, usam-se comparações demagógicas e tontas (como é o caso do vídeo). Foi assim na discussão da Interrupção Voluntária da Gravidez, há-de ser assim em muitas outras discussões.

A mutilação genital feminina é um acto bárbaro de humanos entre humanos. Isso faz toda a diferença.

 
At 9:32 da manhã, Blogger Lourenço Bray said...

Pessoalmente, abomino a tourada mas tenho um ou outro grande amigo que gosta, tudo "betos" desses da gala TVI. Já estive para ir à mesma mas à ultima hora recusei, por princípio. No entanto consigo mesmo ver a beleza da tourada e o facto de ser uma genuína expressão cultural. Também confirmo uma enorme hipocrisia em fazer dela uma espécie de causa nº1. Eu acho que a causa nº1 dos direitos dos animais está nos matadouros industriais, nas carnes de má qualidade, nos animais em cativeiros horríveis, autÊnticos campos de concentração de carne. Em Portugal come-se carne a mais, todos os especialistas o dizem. No meu entender, uma boa campanha seria sensibilizar pessoas para a qualidade na carne e para comerem menos carne, etc. Não sou vegetariano (e duvido que venha a ser) e gosto de saborear um bom bife. Se puder ter a consciência mais tranquila e melhor sabor, estou disposto a pagar por isso.

Mas que fique claro que abomino a tourada pelo sofrimento e pela forma como me parece que as pessoas que a vêem são insensíveis ao mesmo. Acho que com o tempo a tourada poderia evoluir para uma coisa mais soft. Que tal tourada com capas de velcro? Fazem isso na califórnia.

um abraço

 
At 9:34 da manhã, Blogger Lourenço Bray said...

nota: "insensíveis ao sofrimento do touro", não ao sofrimento em abstracto :)

 
At 11:16 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Concordo com tudo o que dizes, à excepção de abominar a tourada.

 
At 11:27 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Sendo rápido, é interessante reparar que a agricultura extensiva, o dito campo, foi durante milénios responsável pela drástica diminuição da biodiversidade, deitando florestas abaixo, eliminando ecossistemas, etc., etc. Andar de carro, viver na cidade, usar a internet, e por aí fora, traduz um comportamento indirectamente criminoso e predatório, seja de recursos naturais, seja da liquidação dos habitas naturais de muitas espécies, etc. Mas mais que nenhuma outra é precisamente esta civilização sofisticada - que produz gente de uma hipermoralidade ecológica e zoológica - a que provoca mais danos à natureza e dor aos animais que restam. Ao pé de um laboratório científico que faz experiências com cães, macacos ou ratos a tourada é benta. O mundo de onde vem a tourada ao pé do mundo de onde vêm os novos moralistas é celestial em termos de impacto no ecossistema. Não vejo essas associações de protecção dos animais a quererem destruir auto-estradas, fábricas, laboratórios e por fim a própria agricultura em prol da liberdade animal. Levado ao extremo o argumento da dor conduz ao desbaratar da civilização, claro, através de um método indolor. Diria mais, a eliminação da dor é incompatível com a natureza ou em última instância levaria à destruição de todas as formas de vida, ou será que a seguir a catequizarem o homem começarão a educar à força as lontras, os leões e as aves de rapina de forma a sublimarem a sua agressividade e os seus apetites rumo a um éden sem violência e indolor?
Com gestos destes estas associações parecem-se mais com seitas fanáticas, promovendo a única forma de violência legitima, a sua. E com campanhas destas dilatam o número de defensores da festa brava.

Um pormenor em relação aos ditos produtos naturais ou à dita agricultura biológica: que se saiba desde o seu arranque a agricultura implicou a manipulação e selecção de espécies e que eu dê conta não existem alfaces, pepinos, uvas ou laranjas de natureza selvagem, e se os há pouco têm a ver com os que aquelas que fazem parte da ementa de qualquer vegetariano.
Isto abriria para outras questões como os transgénicos, as biotecnologias, questões ainda mais delicadas e bem mais urgentes que esta palhaçada à volta dos touros. O marketing risível destas associações tem um preço.

 
At 11:35 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Remate do comentário anterior:

Isto conduz-nos a outra questão, todo o associativismo ou grande parte dele caracteriza-se por um certo grau de fanatismo ou de cegueira.

 
At 8:30 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Para mim, que comecei a gostar de tourada quando já tinha idade para ter juízo, a única coisa que me perturba, mas que no entanto compreendo fazer parte da sociedade actual, é a falta de escrúpulos e honra que alastram no mundo taurino.
E refiro isto porque compreendi com quem me ensinou a gostar de tourada, que esta foi, e em alguns nichos ainda é, uma arte que nasceu e se desenvolveu com uma paixão extrema pelos toiros, pela honra e pela coragem, onde se sabia que nem sempre o homem ganhava... Nesses dias eram os testículos do homem que iam para o prato - É uma velha piada do mundo taurino... não eram pequenas as bolas que comeste em Espanha, pois não Henrique?

Contudo, a indignação contra o sofrimento é louvável; tudo isto são matérias complicadas - a humanidade, enfim...

 
At 10:42 da tarde, Blogger M.A.Silva said...

olá Henrique,
eu não quis trazer mais nada à discursão apenas frizar que comparar "tradições" em contextos culturais completamente diferentes é normalmente muito arriscado.
E neste caso de muito mau gosto.
parecia-me mais lógico comparar as touradas às tradicionais matanças do porco no norte.

Aurora.

 
At 12:12 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Nesse caso a comparação parece-me muito boa, Aurora. Embora as matanças também se pratiquem cá por baixo... ainda já sendo proibídas. :(

 
At 12:16 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Anónimo, os testículos eram péssimos. Pelo seu comentário, acho que é mais o que nos une do que o que nos separa.

 
At 12:23 da manhã, Blogger Lourenço Bray said...

Na tourada também há um aspecto simbólico muito importante que não é desprezível. É certo que em termos absolutos, nos matadouros e criações vive-se algo muito pior, mas a tourada é algo culturalmente mais forte e visível. Percebe-se porque se transforma numa bandeira, trata-se de uma espécie de barómetro da forma como um povo encara o sofrimento dos animais. Apesar de tudo, ninguém aplaude nos matadouros, o sentimento varia da indiferença ao nojo.

Uma defesa um pouco desonesta é atribuir uma espécie de hipocrisia aos tais defensores dos animais, com generalizações abusivas. Creio aqui que nem eu, nem o Henrique, nem o João Urbano, gostamos que os ecossistemas sejam destruídos ou apreciamos todas as faces do progesso. Isso é outra discussão. O que está em causa é apenas a tourada ou os tais direitos dos animais. Por mim, não havia touradas nem caça. Mas há quem goste. O meu pai era caçador e aprecio toda a filosofia da caça, os cães, as presas, o ritual de caçada, as armas e a própria comida de caça. Caramba, gosto mesmo disso. Mas já matei animais, coelhos e pardais, e não gostei. Sobrepos-se uma sensibilidade, talvez uma fraqueza, quando peguei naqueles corpos ainda quentes mas mortos. Caça não é para mim, nem tourada, mas deixei de ser fundamentalista aos 18 anos :)

 

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