6.6.07

JOÃO URBANO DISSE:

Sendo rápido, é interessante reparar que a agricultura extensiva, o dito campo, foi durante milénios responsável pela drástica diminuição da biodiversidade, deitando florestas abaixo, eliminando ecossistemas, etc., etc. Andar de carro, viver na cidade, usar a Internet, e por aí fora, traduz um comportamento indirectamente criminoso e predatório, seja de recursos naturais, seja da liquidação dos habitats naturais de muitas espécies, etc. Mas mais que nenhuma outra é precisamente esta civilização sofisticada - que produz gente de uma hipermoralidade ecológica e zoológica - a que provoca mais danos à natureza e dor aos animais que restam. Ao pé de um laboratório científico que faz experiências com cães, macacos ou ratos a tourada é benta. O mundo de onde vem a tourada ao pé do mundo de onde vêm os novos moralistas é celestial em termos de impacto no ecossistema. Não vejo essas associações de protecção dos animais a quererem destruir auto-estradas, fábricas, laboratórios e por fim a própria agricultura em prol da liberdade animal. Levado ao extremo o argumento da dor conduz ao desbaratar da civilização, claro, através de um método indolor. Diria mais, a eliminação da dor é incompatível com a natureza ou em última instância levaria à destruição de todas as formas de vida, ou será que a seguir a catequizarem o homem começarão a educar à força as lontras, os leões e as aves de rapina de forma a sublimarem a sua agressividade e os seus apetites rumo a um éden sem violência e indolor? Com gestos destes estas associações parecem-se mais com seitas fanáticas, promovendo a única forma de violência legítima, a sua. E com campanhas destas dilatam o número de defensores da festa brava. Um pormenor em relação aos ditos produtos naturais ou à dita agricultura biológica: que se saiba desde o seu arranque a agricultura implicou a manipulação e selecção de espécies e que eu dê conta não existem alfaces, pepinos, uvas ou laranjas de natureza selvagem, e se os há pouco têm a ver com os que aquelas que fazem parte da ementa de qualquer vegetariano. Isto abriria para outras questões como os transgénicos, as biotecnologias, questões ainda mais delicadas e bem mais urgentes que esta palhaçada à volta dos touros. O marketing risível destas associações tem um preço. Isto conduz-nos a outra questão, todo o associativismo ou grande parte dele caracteriza-se por um certo grau de fanatismo ou de cegueira.


(em comentário a este post)

2 Comments:

At 1:45 da tarde, Blogger MJLF said...

Porque será que o bicho humano está a destruir a natureza? Será porque ao não a poder dominar apenas lhe resta destruir e tentar supera-la assim? É deste modo que o bicharoco humano se sente com poder? É assim que se torna o mais forte? É assim que se sente imortal, ao destruir a natureza e a si próprio também? A Natureza oferece-nos tudo, ela é generosa, mas também nos tira tudo - o bicharoco humano tem a consciencia que um dia irá morrer, está na sua natureza. O bicharoco humano não utiliza essa consciencia de um modo construtivo, procurando harmonizar-se com algo tão grandioso, generoso e cruel em simultaneo, que é a própria natureza, isso deve estar dentro da sua natureza humana e natural também. Os bicharocos humanos são um perigo.
Maria João

 
At 2:02 da tarde, Blogger MJLF said...

Esqueci-me de dizer mais uma coisa, agora especialmente para o João Nada que não gosta do retrato que o Eurico do Vale me tirou em 1998 e resmungou para eu o tirar daqui.
Somos um reflexo de tudo o que nos rodeia, um pedaço de vidro que reflecte a grandiosa Natureza em nosso redor, mas nem tudo são belas flores e soculentos frutos, também exitem tremores de terra, trovoadas, tufões e abismos. E naturalmente, parece que tudo tem uma ordem oculta que se desenrola em ciclos da qual a actual sociedade está muito afastada.
Maria João

 

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