CAFÉ CARDEAL
No Café Cardeal a bola começa mais tarde. Por culpa de uma televisão teimosamente avariada perdi os primeiros 10 minutos do Sporting-Académica, provavelmente os únicos em que a Briosa mostrou um futebol de génio. Fui entretendo os nervos com uma tosta mista e uma Sagres preta. Maioritariamente preenchido por homens, este Cardeal ostenta uma estranha conjugação de tons nas paredes. Contei, pelo menos, quatro cores: o chamado azul-cueca, um amarelo desmaiado, verde alface e cor de laranja. Tudo cores condizentes com os gostos da clientela, onde há a destacar duas ou três adolescentes que tão rapidamente entram, para comprar maços de Marlboro Light, como saem. Há ainda um mangas criteriosamente apresentável. As calças verde azeitona, 100% terilene, levam a supor tratar-se de um leão dos sete costados. Engano-me. Reparo na falta de pontaria quando, ao golo do Derlei, salta dali um comentário amargurado à lá lampião. Topo-lhe as riscas rubras na camisa, muito fininhas, condizentes com o tom de pele, exactamente o mesmo que tinge a voz aguardentada. De relógio dourado no punho e anel no mindinho, o mangas vai fazendo as delícias da noite levando para casa vários troféus de bocas foleiras. Ao segundo dos leões o tom azeda. Miro-lhe os pés inquietos e reparo numas curiosas meias turcas onde aparece desenhado um símbolo, desses que podiam figurar numa qualquer camisola desportiva, com as palavras Foot Boll (sic). Entretanto as bocas foleiras deram lugar a um tom azedo. Fala-se do Arneirense, na «cambada de chulos autênticos» que gere os destinos do clube do bairro. Cigarro após cigarro, parece-me ver-lhe inchar no braço a tatuagem com duas espadas cruzadas. Não é efeito das Sagres que fui bebendo. O mangas está mesmo zangado, indignado e ofendido serão os termos, com os dirigentes do Arneirense. Só regressa ao jogo por instantes, quando a Académica marca, para lembrar esses tempos em que a Briosa era uma equipa que jogava de igual para igual. Agora os tempos são outros. Pena que, com os tempos, nada tenha mudado nos árbitros. Ou, pelo menos, no modo como os olhamos. Esses serão sempre maus, péssimos, indescritivelmente incompetentes. Até quando apitam para nos pôr a andar a caminho de casa.
2 Comments:
Esse senhor não sabe o que diz, fala mal das pessoas que ha varios anos tem sido as unicas a disponibilizarem-se a criar uma lista para que aquele trabalho de desenvolvimento que ali foi feito por essas mesmas pessoas e que tão bom foi não só para a associação como tambem para levar o nome do bairro a niveis bem alto, pergunto-me se esse mesmo senhor já alguma vez fez alguma coisa por algo ou por alguem, só pode ser inveja de certo.
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