LIVROS, LIVREIROS, LIVRARIAS
Pela manhã, percorro as ruas de Lisboa onde assentam praça alfarrabistas, antiquários e livrarias. Faço tempo e exercito as pernas, mas quase apodreço ao sol à espera que o comércio abra. São 8:30. Algumas livrarias só abrirão às 10, outras, poucas, madrugam às 9. Há duas que estão de férias, talvez sinal de prosperidade no negócio. Espero, sem saber que o que me espera é um cenário desolador: numa o computador não funciona, o que deixa o cliente sem resposta quanto a vários livros, recentes, mas tão difíceis de encontrar como polvo nas praias de Sines; noutra pergunto por livros de Dalton Trevisan, trazem-me um tal Lauro Trevisan; há ainda uma onde, após laboriosas perscrutações em estantes refundidas, avisto alguns livros muito cá de casa. Por que estão ali aqueles livros? Explicam-me que não se vendem. Nos escaparates reinam livros de auto-ajuda, entre obras de nomes sonantes da TV, políticos, porcarias. Um destes dias, ainda me ponho a escrever um livro de auto-ajuda para os amantes dos livros. Como sobreviver neste cenário de mediocridade? O que seria hoje de um Ulisses, de um Húmus, de um Finisterra? Vem-me à memória conversa recente, sobre romances de muita qualidade mas impublicáveis. Não têm leitores, dizem. Não há leitores, dizem. Haver há, o que não há é quem queira fazer por eles. Haver há, o que não há é vergonha na cara.
5 Comments:
clap clap clap!
apoiado
Nisto da leitura sofro de surtos de essencialismo (interpolados com outros de existencialismo, para desenjoar); muitas são as vezes termino um livro sem saber se gosto, se o percebo, se lhe dou tempo suficiente para assentar. A pasta de papel desperdiçada preocupa-me, e ainda assim o fim da literatura parece-me longe. Mas será que já se leu melhor que agora? Quem lê menos lê melhor que quem passa a vida a ler? E é pior a nossa leitura quando não a confrontamos com outra?
Olha, tive outro surto.
Com excepção dos privilegiados com quem o autor partilhe o manuscrito, a única certeza que tenho é a de que não haverá leitores para um livro que não é publicado.
hmbf: eheh, voltaremos ao assunto.
r: isso pode ter umas nuances. por exemplo, o autor pode disponibilizar gratuitamente o livro no Insónia (e ter, quem sabe,vinte, trinta leitores, que podem até ser mais ou melhores do que os que teria em papel); mas sim, isto também é uma forma possível de publicação.
Rui Costa
manuel, obrigado.
ana, não sei, não há ninguém que passe a vida a ler, é provável que sim.
r., lá isso é um facto.
rui, o que dizes desdiz-te. e isso é bom.
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