DUPLAMENTE ACORRENTADO
De facto, os meus dias melhoram quando sou convidado para correntes. A mais recente surge-me, no mesmo dia mas não à mesma hora, pelas mãos do André Moura e Cunha e do GAF. Eis o desafio, em cinco passos: 1. Pegue no livro mais próximo, com mais de 161 páginas – implica aleatoriedade, não tente escolher o livro; 2. Abra o livro na página 161; 3. Na referida página procurar a 5.ª frase completa; 4. Transcreva na íntegra para o seu blogue a frase encontrada; 5. Aumentar, de forma exponencial, a improdutividade, fazendo passar o desafio a mais 5 bloggers à escolha. Os livros que leio raramente excedem as 161 páginas. Curiosamente, o meu amor ofereceu-me há dias dois volumes que, coincidência das coincidências, não só possuem mais que 161 páginas como se encontram, mesmo à mão de semear, entre o teclado e o monitor. Queria responder ao André Moura e Cunha com a 5.ª frase completa da página 161 do livro The World’s Shortest Stories, de Steve Moss. Porém, a página 161 contém uma bela ilustração de um autocarro. Espero que também valha responder ao desafio com a quinta frase completa da página 160, embora um outro problema se me levante. Este livro, de estórias muito curtas, com 55 palavras cada, reúne contos que raramente possuem quintas frases completas. Na página 160, o conto The Bus Station, de Andrew E. Hunt, não é uma excepção, mas o resultado é um pouco confrangedor. Eis a frase:
“Any seats available?”
Ao GAF respondo com o outro livro oferecido pelo meu amor, Short Shorts – An Anthology of the Shortest Stories, de Irving Howe e Ilana Wiener Howe. Na página 161 do dito vamos a meio de um conto de Varlam Shalamov, escritor russo que viveu entre 1907 e 1982. Acho que é mais uma bela coincidência, e juro que nada disto foi propositado. Já agora, para quem não sabe, Shalamov foi (mais) uma vítima do estalinismo, esteve preso num Gulag, depois de se ter juntado a um grupo trotskista. O conto aqui em causa chama-se In the Night, na tradução americana, e faz parte dos The Kolyma Tales, um livro de short stories que o autor escreveu sobre a sua experiência enquanto prisioneiro num “campo de trabalho”. A quinta frase completa da página 161 é:
“Here he is,” Bagretsov said.
E continua: He reached out to touch a human toe. The big toe peered out from under the rocks and was perfectly visible in the moonlight. The toe was different from Glebov’s and Bagretsov’s toes – but not in that it was lifeless and stiff; there was very little difference in this regard. The nail of the dead toe was clipped, and the toe itself was fuller and softer than Glebov’s. They quickly tossed aside the remaining stones heaped over the body.
Já agora, uma versão do conto acima mencionado na resposta ao André Moura e Cunha:
“Any seats available?”
Ao GAF respondo com o outro livro oferecido pelo meu amor, Short Shorts – An Anthology of the Shortest Stories, de Irving Howe e Ilana Wiener Howe. Na página 161 do dito vamos a meio de um conto de Varlam Shalamov, escritor russo que viveu entre 1907 e 1982. Acho que é mais uma bela coincidência, e juro que nada disto foi propositado. Já agora, para quem não sabe, Shalamov foi (mais) uma vítima do estalinismo, esteve preso num Gulag, depois de se ter juntado a um grupo trotskista. O conto aqui em causa chama-se In the Night, na tradução americana, e faz parte dos The Kolyma Tales, um livro de short stories que o autor escreveu sobre a sua experiência enquanto prisioneiro num “campo de trabalho”. A quinta frase completa da página 161 é:
“Here he is,” Bagretsov said.
E continua: He reached out to touch a human toe. The big toe peered out from under the rocks and was perfectly visible in the moonlight. The toe was different from Glebov’s and Bagretsov’s toes – but not in that it was lifeless and stiff; there was very little difference in this regard. The nail of the dead toe was clipped, and the toe itself was fuller and softer than Glebov’s. They quickly tossed aside the remaining stones heaped over the body.
Já agora, uma versão do conto acima mencionado na resposta ao André Moura e Cunha:
TERMINAL DE AUTOCARROS
“Um bilhete para o Inferno, por favor.”
“Desculpe, todas as partidas para sul estão esgotadas.”
“Algum que parta esta noite?”
“Temos um que seguirá na direcção oposta.”
“Ainda tem lugares?”
“Muitos.”
“A viagem é longa?”
“Não, nem por isso, mas talvez queira levar consigo um bom livro. Ouvi dizer que é uma viagem extremamente solitária.”
Andrew E. Hunt
Versão de HMBF, esforçando-se para manter as 55 palavras.
Lanço o desafio a: Maria João Lopes Fernandes, Rui Costa, Álvaro, Vítor Vicente e Inês Lourenço.
2 Comments:
Genial, a micronarrativa que me calhou em sorte.
Abraço
Henrique,
Já respondi no meu post "Correntes e Quedas de Água".E que a corrente seja líquida e não de outros materiais.
I. L.
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