A REALIDADE IMÓVEL
O sol deambulava ainda à roda da casa
Quando abriram a janela
Os bêbados ali estavam ainda
Mas a canção que subia na noite cessou
Agora que voz me chama
Que voz chama doce atrás da parede à direita
Rindo
Os homens estão ali
Adormecidos
E não é a mesma boca que canta
Uma mulher ao longe dá um grito
Os seus dedos passam nos bordos da varanda
São finos agudos
São esses dedos que eu contemplo
Enquanto me chamam
De todos os campos por todos os caminhos
Chega gente
Em trajes negros
Em trajes cinzentos
Alguns em mangas de camisa
Um carro cobre a estrada de poeira
A casa depressa fica cheia de estrangeiros
E como ninguém canta
Os homens despertaram
O pêndulo parou
Ninguém se mexe
Como nas imagens
Não voltará a anoitecer
É uma velha fotografia sem moldura
Tradução de Eugénio de Andrade.
Quando abriram a janela
Os bêbados ali estavam ainda
Mas a canção que subia na noite cessou
Agora que voz me chama
Que voz chama doce atrás da parede à direita
Rindo
Os homens estão ali
Adormecidos
E não é a mesma boca que canta
Uma mulher ao longe dá um grito
Os seus dedos passam nos bordos da varanda
São finos agudos
São esses dedos que eu contemplo
Enquanto me chamam
De todos os campos por todos os caminhos
Chega gente
Em trajes negros
Em trajes cinzentos
Alguns em mangas de camisa
Um carro cobre a estrada de poeira
A casa depressa fica cheia de estrangeiros
E como ninguém canta
Os homens despertaram
O pêndulo parou
Ninguém se mexe
Como nas imagens
Não voltará a anoitecer
É uma velha fotografia sem moldura
Tradução de Eugénio de Andrade.
Pierre Reverdy nasceu em Narbonne a 11 de Setembro de 1889. Poeta francês associado ao cubismo e ao surrealismo, estudou em Toulouse e Narbonne. Chegou a Paris em 1910, onde travou amizade com Apollinaire, Max Jacob, Aragon, Breton, Tristan Tzara, entre outros. Em 1915 publica Poèmes en prose. Funda a revista Nord-Sud, em 1917, onde colaboram poetas dadaístas e surrealistas. Em 1926 recolhe-se na abadia de Solesmes, onde permanecerá até à morte. Faleceu em 1960.
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