OS PADRES DE PARIS
Os padres em Paris são os padres de Paris.
Os pretos, a passos largos pela rua, sempre correndo
para qualquer parte, sempre com um objectivo,
alguns com chapéus como pratos, alguns de solidéu,
alguns da cachola rapada,
alguns levando malas cheias de importantes documentos
relativos à distribuição das almas,
alguns com as mãos postas sob as suas capas negras,
fazendo invocações com os dedos a conjurar
novas almas;
roupas negras batendo dos padres de Paris quando
passam nos seus recados urgentes.
Por baixo das suas roupas de carvão guardam os secretos
propósitos da cidade, guardam o delicado
pólen da felicidade,
para que Paris possa florescer e agitar suavemente as
suas folhas ao ar lento, que as suas raízes brancas
de carne possam estar húmidas,
sob a terra escura das vestes dos padres estes conservam
os sucos profundos, guardando-os, intencio-
nalmente alimentando-os,
nos seus recados, quando passam, e ninguém lhes
fala, ninguém olha para eles,
como fingindo que não eram necessários, como
fingindo que Paris pode florescer sem
eles, como fingindo que o seu objectivo
é um céu qualquer distante
não-parisiense.
Os pretos, a passos largos pela rua, sempre correndo
para qualquer parte, sempre com um objectivo,
alguns com chapéus como pratos, alguns de solidéu,
alguns da cachola rapada,
alguns levando malas cheias de importantes documentos
relativos à distribuição das almas,
alguns com as mãos postas sob as suas capas negras,
fazendo invocações com os dedos a conjurar
novas almas;
roupas negras batendo dos padres de Paris quando
passam nos seus recados urgentes.
Por baixo das suas roupas de carvão guardam os secretos
propósitos da cidade, guardam o delicado
pólen da felicidade,
para que Paris possa florescer e agitar suavemente as
suas folhas ao ar lento, que as suas raízes brancas
de carne possam estar húmidas,
sob a terra escura das vestes dos padres estes conservam
os sucos profundos, guardando-os, intencio-
nalmente alimentando-os,
nos seus recados, quando passam, e ninguém lhes
fala, ninguém olha para eles,
como fingindo que não eram necessários, como
fingindo que Paris pode florescer sem
eles, como fingindo que o seu objectivo
é um céu qualquer distante
não-parisiense.
Tradução de Manuel de Seabra.
Gael Turnbull nasceu a 7 de Abril de 1928 em Edimburgo, tendo vivido posteriormente no norte de Inglaterra, Canadá e EUA. Formou-se em medicina pela Universidade da Pensilvânia. A sua poesia era publicada inicialmente sob a forma de panfletos, os quais terão surgido no início da década de 1950. Em 1957 fundou a Migrant Press, dando à estampa várias antologias de poetas modernos. Faleceu no dia 2 de Julho de 2004. Dois anos depois a sua poesia foi reunida em There Are Words.
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