1.3.08

RAPARIGAS E A CHUVA

Entre uma frase
e a seguinte,
entre um poema
e o seu irmão,
meu quarto escureceu
É quase meio-dia
mas o céu está sombrio,
um guarda-lamas para a chuva
que está finalmente a cair,
sarando as feridas de raparigas
que são salvas pela chuva
de uma manhã triste e deformada
À espera da chuva
o meu corpo estava incómodo
quando a mobília cheia de pó
e a minha bolsa vazia
bocejava em cima da mesa

Para mim
e para as raparigas da praia como eu,
a chuva
com as suas gotas biselando as janelas,
a gaguez e silvo do granizo,

a revelação do véu do tempo,
a barriga do céu ensopando
e agarrando-se às árvores:
é disto que precisamos

Bágoas negras geladas caem do céu
Deus, como um guarda pálido, chora por nós,
lágrimas com gosto a teclas de piano

E somos mais felizes nas nossas casas escuras,
chegamos as cadeiras mais para a janela
e espreitamos pelo vidro para nós
vistas como mulheres-nuvens
purificando-nos com lágrimas

E dançamos com os últimos chuviscos


Tradução de Manuel de Seabra

Penelope Shuttle

Penelope Shuttle nasceu em Middlesex em 1947. Começou a escrever muito cedo, publicando poemas em revistas. O seu primeiro volume de poesia foi Nostalgia Neurosis & Other Poems. Além de poesia, publicou alguns romances. Recebeu o Arts Council Award em 1970 e 1972 e ganhou o Greenwood Poetry Prize em 1973 pelo seu poema-sequência Witch Skin.