23.6.08

INÉDITOS DE JORGE AGUIAR OLIVEIRA #62

DE COTOVELOS NO PARAPEITO


pingos de chuva
salpicando as faces

o céu a fundir-se no mar

éramos duas nuvens
no firmamento do romance
até o ciúme nos evaporar

mais tarde ao desejar
voltar a ser nuvem
e reencontrar a outra
num escuro estrelado

surgiu um astro
que ao passar junto
ao parapeito da janela
disse olá engatilhando
um sorriso e desenhou
com o dedo indicador
molhado de chuva
um coração
no vidro da janela

trouxe luzes da manhã
para me entreter
e beijos em hortelã
debaixo duma chuva
molha tolos começámos
a desabotoar a vida

cedo demais partiu

abraça-me apenas
e não olhes para trás
para não veres a chuva
caindo nos meus olhos

pedi fingindo ficar
bem de novo
no parapeito da janela
com o pouco
que me resta

as sobras
do mundo


Jorge Aguiar Oliveira