THE DARJEELING LIMITED
The Darjeeling Limited (2007) estreou nas salas portuguesas logo no início do ano. Vi-o ontem, numa sala portuguesa bem mais confortável que a maioria das salas de cinema portuguesas. Depois do engraçado The Life Aquatic with Steve Zissou (2004), Wes Anderson (1969) dá continuidade a uma estética colorida e bem-humorada com derivações sobre temas fundamentais. O filme começa com uma curta-metragem, à semelhança do que acontecia no histórico Monty Python’s The Meaning of Life. Não obstante, o registo humorístico de Wes Anderson é incomparável, de tal forma subtil que se arrisca a passar despercebido. Começa na caracterização das personagens, passa pelos diálogos e atinge-nos em planos de uma leveza extasiante. Bill Murray aparece logo no início, numa cena onde não tem pernas para apanhar um comboio em andamento (só no final voltamos a saber dele, sem nunca sabermos muito bem por que ali andou); quem o consegue apanhar é Adrien Brody, um jovem deprimentemente colado a alguns dos objectos pessoais do seu falecido pai; e há uma personagem secundaríssima com uma doença em que é preciso rapar o cabelo, mas ele não rapa porque já é careca… São meros apontamentos irónicos que condimentam as divagações do argumento. Após um acidente quase fatal, o mais velho de três irmãos organiza uma viagem espiritual de reconciliação com os dois irmãos mais novos, os quais já não se falavam desde a morte do pai. Embarcam no Darjeeling Limited, um comboio que irá transportá-los por terras da Índia num itinerário de templos e de rituais meticulosamente preparados. A viagem não corre lá muito bem e os três irmãos acabam literalmente desterrados. Confrontados com a impossibilidade de reconciliação, provavelmente por não conseguirem confiar uns nos outros, pensam regressar às suas vidas. O mais novo escreve short stories e não atina no amor, o do meio vai ser pai e anda nervoso com o facto, o mais velho recupera de um acidente de mota que o deixou desfigurado. No entanto, ainda antes do regresso, resolvem cumprir um dos objectivos da viagem: visitar a mãe, há muitos anos convertida em freira numa comunidade residente nos Himalaias. De facto, reencontram-na fisicamente; mas espiritualmente é outra pessoa, o corte com o passado não a trará de volta. Será no seguimento deste "reencontro" que os irmãos restabelecerão a confiança e os laços de amizade. Talvez tenham finalmente entendido que, por ser irrecuperável, o passado não pode hipotecar o futuro. A cena final chega a ser épica: os três correm atrás do comboio, o comboio da vida, e vão largando pelo caminho as malas de viagem. Todos eles viajavam com as antigas malas de viagem do falecido pai. A libertação daquele objecto é a libertação do que os separou no passado, é o princípio de uma nova vida. Basicamente, pode ser entendido como o princípio de uma reconciliação, não apenas de uns com os outros, mas consigo próprios.
4 Comments:
Bom, ainda bem que vi o filme porque de outra forma ficaria a saber todas as linhas mais fortes do argumento.
Gosto muito do Wes Anderson. Este Darjeeling é excelente (vi-o duas vezes seguidas, também na sala mais confortável do país), mas para mim o Wes continua a ser, essencialmente, o The Royal Tenenbaums, um dos filmes que mais vezes devo ter visto. Lembro-me sempre da família Glass. Creio que o Wes será fã do Salinger.
Olá Luís. Realmente o que faço neste post é detestável, mas saiu-me assim. Peço desculpa a quem nunca tenha visto o filme. Quanto ao Salinger, é uma falha cá de casa. O que sugeres?
Epá, é complicado. Eu comecei pelo "À espera no centeio", que é por onde quase toda a gente começa. Creio que é um livro que tem maior probabilidade de bater forte a alguém na adolescência, que foi o meu caso e o de tantos outros. Não sei como será a experiência daqui a uns anos, pelo que se alguém que esteja a ler isto e tenha passado por essa experiência, de ler o "À espera no centeio" mais tarde, bem que poderia deixar aqui o seu testemunho. Portanto, penso que o Franny & Zooey é um bom sítio para começar a descobrir Salinger, mesmo tendo sido das últimas coisas que publicou. Poderia dizer que é um livre tremendamente bem escrito e tudo isso - não mentiria -, mas uma vez que comeces vais aperceber-te disso pelo que não vale mesmo a pena. O Lourenço Bray escreveu umas coisas giras sobre ele no nascer do sol.
também estranhei o tom do texto.
eu li o À Espera no Centeio no ano passado e gostei de ler. não vou dizer que me marcou muito. mas foi uma boa leitura. foi a única coisa que li do homem. começar pelos contos talvez não fosse má ideia...
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