RUBAIYAT
1
Todos sabem que eu nunca murmurei uma oração
Todos sabem que nunca tentei dissimular os meus defeitos.
Ignoro se existe uma Justiça e uma Misericórdia...
Entretanto, tenho confiança, porque sempre fui sincero.
2
Que vale mais?
Sentar-se numa taberna e fazer exame de consciência
ou ajoelhar-se na mesquita, de alma fechada?
Nada me preocupa saber se temos um Senhor
e que fará ele de mim, no final.
5
Uma vez que ignoras o que te reserva o dia de amanhã,
procura ser feliz, hoje.
Toma uma ânfora de vinho, senta-te ao luar e bebe
lembrando-te que, talvez amanhã, a lua te procurará em vão.
10
Como é vil o coração que não sabe amar,
que não pode embriagar-se de amor!
Se não amares, como poderás apreciar
a deslumbrante luz do sol e a doce claridade do luar?
26
O vasto mundo: um grão de poeira no espaço.
Toda a ciência dos homens: palavras.
Os povos, os animais e flores dos sete climas: sombras.
O resultado da tua perpétua meditação: nada.
35
Eu tinha sono.
A Sabedoria disse-me: «As rosas da Felicidade nunca perfumam o sono.
Em vez de te abandonares a esse irmão da Morte,
bebe vinho. Tens a eternidade para dormir.»
37
Não posso divisar o Céu, com demasiadas lágrimas a toldar-me os olhos.
Os fogos do Inferno são apenas uma ínfima centelha,
quando os comparo às chamas que me devoram.
O Paraíso, para mim, é um instante de paz.
41
Esquece que ontem devias ser recompensado e não o foste.
Sê feliz. Não lamentes nada. Não te prendas a nada.
O que deve acontecer-te está escrito no Livro
que o vento da Eternidade folheia ao acaso.
60
Cairemos no caminho do Amor.
O Destino há-de espezinhar-nos.
Ó rapariga, ó minha encantadora taça, levanta-te
e dá-me os teus lábios, esperando que eu me transforme em pó.
Omar Khayyam, Rubaiyat - odes ao vinho, Trad. Fernando Castro, Pref. E. M. de Melo e Castro, Editorial Estampa, 3.ª edição, Lisboa, 1999.
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