O pensamento nas mãos #10
Horowitz a tocar Nocturno Op. 55 de Chopin
“Noite e música – O ouvido, órgão do medo, não pôde desenvolver-se tanto como o fez senão na noite ou na penumbra das florestas e das cavernas obscuras, segundo o modo de vida da idade do medo, quer dizer, da mais longa de todas as idades humanas: à luz, o ouvido é menos necessário. Donde a característica da música: arte da noite e da penumbra”.
Friedrich Nietzsche, Aurora (trad. Rui Magalhães), Rés-editora, p-159
6 Comments:
Foi o meu primeiro livro de Nietzsche, que também era músico. Gosto dos nocturnos.
"Aurora" é um livro composto por fragmentos de uma actualidade impressionante. Nós sabemos que Nietzsche também foi músico graças ao Carlos Couto Sequeira Costa, que divulga esse aspecto do filósofo :), também foi teu professor. Mas a grande composição de Nietzsche foi a escrita, aí é que ele tocou piano à brava!
Maria João
No meu caso, foi outro professor quem me sugeriu um CD com algumas composições do Nietzsche. Esse professor, o meu professor de Filosofia no 11.º ano, tem um weblog: http://www.adispersapalavra.blogspot.com/ . :) Como dizia o outro, isto anda tudo ligado.
Chopin emprega a designação de Nocturno (que tem tudo a ver com a sua música na linguagem dos afectos) da autoria do pianista irlandês John Field para obras de lírica pianística, expandindo esta forma musical de forma criativa. Gosto muito do cantabile de Horowitz, imitando o canto de Bellini, acompanhado pela mão esquerda à moda de Field.
John Field viveu algum tempo em Moscovo na corte imperial russa- talvez tenha influenciado gerações vindouras de pianistas russos- realmente, isto anda tudo ligado.
Sofia
Henrique: foi um bom professor :)
Sofia: tenho sempre a sensação que com Chopin o piano canta, e intrepretado por Horowitz é bellissimo canto nocturno.
O piano canta, tentando enfrentar e ultrapassar os martelos a baterem nas cordas- não é por acaso que o piano, na família dos instrumentos musicais, é um instrumento de corda percutida. Mas as suas outras potencialidades harmónicas e sonoras, pedais, etc, possibilitam a imitação do canto. Daí o cantabile, o legato, o crescendo e o diminuendo e outras invenções sonoras que também podem ser nocturnas, ou o que se quiser.
Sofia
Enviar um comentário
<< Home