DAS FLATULÊNCIAS
Nunca li nada de Abel que me interessasse. Também nunca procurei ler nada do autor. Tudo o que lhe li veio parar às minhas mãos por mero acaso. Umas crónicas em jornais e revistas, uns posts. Foi um dos autores do weblog que mais esteve para a blogosfera portuguesa como Dani para o futebol nacional: uma eterna promessa adiada. Procurei no Google e fiquei a saber que Abel é doutor, especialista e professa. Escreveu inúmeros ensaios, um livro de ficção a meias, outro em co-autoria, organizou e prefaciou muita coisa. Mais uma vez por mero acaso, leio-lhe a cólica. Começa assim: «O desânimo incurável caracteriza uma casta de escribas. Distraem-se, e a gente apanha-os a dizer que vão deixar de escrever porque ninguém os lê. Eu próprio já me distraí assim várias vezes.» É um bom começo. O cronista faz-se incluir numa suposta “casta de escribas” apanhados pelo desânimo. O problema é o que vem a seguir, pois Abel fala dos outros como se não estivesse a falar de si próprio. O leitor fica confuso. Afinal Abel revela-se Caim, quando tudo fazia prever o contrário. O dedo é apontado aos “rebentos” de uma tal “casta” incrementados pelos blogs. É apontado mas nunca chega a tocar na ferida, deixando-nos na expectativa sobre quem possam ser tais rebentos. Costume saborosamente português: apontar o dedo sem tocar nas feridas, deixar o boi mugir sem lhe dar nome. O que parece chatear Caim, perdão, Abel, é os blogs que acabam para recomeçar, no mesmo ou noutro lado. «Patético, caraças! Mas inocente.» Desabafa o escriba. O problema será um certo anseio de atenção, a falta de carinho, a desmotivação… no fundo, aquilo que, com as devidas variáveis, terá transformado a casmurrice num fantasma colectivo que pariu várias assombrações individuais. O pior, reflecte o escriba desanimado, é a casta (e ele a dar-lhe!) «dos que deixam transparecer em cada linha a noção engastada de que certo número de pessoas, de todo indeterminadas (como convém ao público), anseiam pelo que escrevem. E então chegam-se à frente a fazer habilidades. Um tédio.» Desânimo e tédio são o abismo do escriba. Mas pior ainda é o próprio Caim, perdão, Abel, que com a cólica enfadada e confusa nada mais faz senão chegar-se «à frente a fazer habilidades». E eu também, a postar sobre a crónica, embora animado e dando graças ao senhor pelo que ainda há de humano nos blogs – são diários, senhores, são diários! -, esse meio que certa outra casta provavelmente gostaria de ver transformada em coisa intelectual, enfadonha, reduzida a intuitos de auto e heteropromoção, coisa lá para a tertúlia que se reúne de quando em vez à mesa dos projectos, ou seja, mais um dos asfixiantes círculos fechados que há muito pululam no país. O resto não importa. São diários, senhores. São diários. Que raio de mania esta de censurar o pato por se limitar a ser pato. Nem o galo pode ser censurado por não pôr ovos nem o burro por não ser esperto. Os diários abrem-se com a mesma facilidade com que se fecham. Basta ler o de Pavese, que ainda há tão poucos dias fez anos. E os de agora até têm uma vantagem: fazem muito bem às cólicas. Sobretudo às verbais.
9 Comments:
O burro é muito esperto, toda a gente sabe, e só por isso pode ser censurado por não ser esperto. Abel Barros Baptista enredou-se um bocado nessa crónica, é verdade, mas é dos poucos críticos literários que eu leio com prazer.
Cólicas verbais...
Não me pareceu de todo desinteressante!
Estamos servidos de leitores, pelos vistos. Quando se escreve como Abel escreve, professor doutor e ficcionista manco, até Caim morreria enjoado, mesmo sem saber ler, Caim, aqui o da morte injusta porque inversa. Então que raio de nexo tem a metade inicial da croniqueta com a metade final? Essa mistela de arenga de falhado e gramática, sem um hífen a unir as duas partes, que são um todo divorciado imiscível e um exemplo de escrever mal e de vulgaridade ressabiada. E pagam por coisas dessas.
Pagam e (não) bufam. Daí as "flatulências".
Aliás se a crónica "fratricida" é de uma revista que eu imagino, já se calcula os profes e gentinha bem-relacionada, que por lá grassa, salvo honrosas excepções.
Crónicas indigentes, mnesmo sem ser do mano bíblico, é o que mais lá há.
galo galardoado com 12 prémios e 50 menções honrosas
o guarda abel?
Não gostar do homem é normal (é um homem caprichoso), mas dizer que ele escreve mal , como diz o nd, é de imbecilidade tremenda, caramba.
Nem sei por que razão perco tempo com estas merdas, mas se o Casmurro é o Dani dos blogues o Insónia é o quê? o guarda-redes suplente do Vizela? o preparador físico do Campomaiorense? ou o Tobias, que jogava comigo à bola na escola primária e tinha um pé esquerdo do caraças?
Nem sei por que motivo o Osmond perde tempo com essas merdas.
Anónimo, é o que dá não se saber ler. Depois quem, lendo, pode ver naquela croniqueta uma peça desconjuntada é imbecil. E os outros imbecis, os que não sabem ler, são o quê? A imbecilidade elevada à 10.ª potência ainda é pouco.
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